Capítulo 34

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Ares
Dores...

Soltei Chloe lentamente, meu corpo totalmente dolorido e com vários machucados mas pelo menos estava melhor que Tyler. Ele agora sabia a verdade, toda a verdade e por alguma razão — desconhecida e estranha — parecia me admirar. O único problema é que não haviam motivos para isso, e nunca iriam haver, eu ainda era um monstro independente das coisas que resolvi fazer, ainda mentia, tanto para Máfia quanto para mim e ainda não conseguia esquecer ou deixar de me culpar por tudo o que aconteceu depois daquele dia.
Não consegui manter meu corpo muito tempo em pé, a fadiga de não dormir fazia dias e de procurar por praticamente toda a Filadélfia estava me matando, além do confronto contra o Major e seus muitos subordinados em um galpão abandonado — que não havia levado à nenhuma resposta concreta.
Me apoiei um pouco em minha mulher, não queria fazer isso, ela estava grávida e não era certo a forçar por nada mas estava ficando impossível continuar de pé.

- Vamos subir? Por favor. – Pedi e ela sorriu, seu rosto parecia se iluminar e só queria ser realmente o motivo para aquilo.

Caminhamos lentamente lado a lado, cada degrau parecia me socar em alguma parte diferente de mim como se fosse um dos tantos adversários que já derrotei. Não vou negar, parecia uma vingança do universo.
Queria ver as crianças, mas já estava tarde e não iria as acordar apenas para isso, aguentaria até o dia seguinte e então passaria horas com os dois, principalmente com Quentin, era a primeira vez que eu ficava longe por tanto tempo depois que o adotamos e não conseguia imaginar sua reação. Será que estava triste? Zangado? Ou simplesmente ignorou pois tinha Chloe?
Esperei para entrarmos em meu quarto mas a loira negou com a cabeça e me levou para o de hóspedes onde outrora ela dormia.

- Eles estão dormindo, mesmo que Quentin tenha medo da estátua embora ele não admita. – Explicou enquanto me ajudava a sentar na cama, fazendo com que eu manchasse os lençóis brancos com um pouco de sangue e terra. – Sem você e Atena por perto, achei que esse era o melhor jeito de tomar conta deles.

Dei um sorriso fraco, não devia ter me afastado mas era preciso, tinha que acabar com essa história com minhas próprias mãos. Ao menos tinha Garret, ele era a única pessoa no mundo em quem confiaria a vida da minha família. Não estava acostumado com isso mas cada dia parecia ser mais concreto, mais certo.
Eu tinha uma família, uma de verdade com direito à pratos quebrados, tortas queimadas, filmes nos fins de semana e passeios pela cidade. Quentin parecia comigo, também ficava atordoado às vezes quando Chloe insistia em fazer algo que não conhecíamos, se sentia deslocado por alguns minutos mas depois simplesmente sorria e aceitava. Eu sabia o porquê, ele nunca teve nada e então aceitava tudo porque não queria perder mais coisas do que já havia perdido. Sempre me olhava buscando a minha aprovação, como se eu fosse digno de toda essa fé que depositava em mim. Era assustador na maior parte do tempo mas também me enchia de uma felicidade que nada no mundo poderia comprar.
Precisava recuperar todo o tempo que Arthemis perdeu, era um bebê inteligente mas fui negligente, sentia minha promessa com Hefesto ir por água abaixo. Eu devia isso ao meu irmão e falhei em cuidar dela.
Agora com Atena longe precisava cuidar melhor dela, já que minha irmã estava numa pequena base no Ártico enquanto o que mais queria era correr para o desgraçado chinês atrás de notícias. Kwan não havia mandado flores e mesmo sem saber algo sobre esse relacionamento — completamente estranho — deles, tinha certeza que aquela era uma forma de comunicação para indicar que estava bem, quase como um: "Ei, se as flores acabarem é porque eu morri, então mande-as para o meu enterro, está bem?"
O único problema era que Atena não desistia tão fácil das coisas, ela iria arrumar um jeito de encontrar ele onde quer e como estivesse.

Ares - Um Boxeador MafiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora