Capítulo 38

48.5K 3.7K 496
                                    

Pais...

Puxei Ares para mais perto de mim, ao ponto dele ter que se abaixar, sua mão fria descansou em minha barriga já limpa, o sorriso tão honesto em seus lábios descrevia tudo o que sentia e também o que nem sabia sentir. Nunca o havia visto tão encantado, tão entregue à algo que sei que nem deve ter ouvido tudo o que a médica falou, ele simplesmente não conseguia tirar os olhos da tela e nem eu. Não imaginei que seria assim, tão poderoso ao ponto de calar o mundo e só existir aquela pequena vida. Seus dedos começaram a fazer carinho ali, alguns círculos e desenhos sem forma. Diferente do brutamontes, Quentin subiu na cadeira ao lado para ver minha barriga, os olhos atentos enquanto conversava com meu bebê baixinho, parecia negociar algo e podia jurar que era o fato de querer ter um irmãozinho.
Dei um pequeno sorriso de canto.
Seria um pequeno lutador? Ou uma princesinha prepotente?
Parecia que teríamos que esperar um pouco mais para descobrir isso.
A doutora se afastou e sabia que era hora de receber as últimas explicações e entender o resto dos cuidados que eu precisava ter.
Já estava prestes a levantar quando um frio percorreu minha espinha, causando calafrios por todo o meu corpo, arrepiando cada parte de mim e trazendo consigo uma sensação de pavor consigo que só havia realmente sentido uma única vez.
As imagens vieram rápidas, primeiro Jean perdendo o controle do automóvel, depois ele deslizando pelas ruas do Brooklyn até capotar e somente parando quando bateu em uma das grandes árvores típicas de lá.
Minha mão livre foi automaticamente para meu ventre em forma de proteção. Eu podia tê-lo perdido no acidente — milhares de coisas podiam ter acontecido naquele curto espaço de tempo — podia ter perdido meu bebê sem nem mesmo saber de sua existência, sem nem mesmo saber que o carregava comigo. E agora...
Apenas pensar na possibilidade de o perder era suficiente para me fazer tremer de medo da cabeça aos pés.
Respirei fundo, tentando me acalmar. Segurei mais forte os dedos do brutamontes e com sua ajuda me levantei da cadeira alaranjada onde antes acontecia a ultrassonografia.
Seus olhos demonstravam tanta confiança que era impossível duvidar por um segundo que ele nos protegeria à todo custo, mesmo que soubesse que escondia coisas importantes de mim, era sua forma de tentar me proteger da verdade, o único problema é que eu não queria passar por uma vida de segredos mais uma vez — algumas vezes a omissão era pior que a mentira — mas não iria o pressionar quanto à isso, ainda tínhamos tempo para superar todos os nossos próprios demônios do passado.

- Me disse que não teve enjoos e nem muitos sintomas, certo? A ausência deles não quer necessariamente dizer que algo vai mal, ou seja, não é motivo de preocupação. – Estendeu uma receita com alguns medicamentos escritos, vitaminas e todo o resto. – Nos casos de gravidez indesejada, nenhum planejamento, ser bem jovem, a falta de relacionamento estável com o parceiro e também nas mulheres mais imaturas, inexperientes e inseguras os sintomas tendem a ser mais presentes e intensos. O que não parece ser o caso.

Segurei a crise de risos que me atingiu, tampando a boca com a mão e respirando fundo para não gargalhar na frente dela. Coitada, mal sabe que acabou de descrever toda a situação que estava acontecendo.

- Felizmente não é o nosso caso, certo ангел¹? – Concordei com a cabeça enquanto o observava também segurar uma risada.

A doutora nos olhou com uma mistura de espanto e pavor.
Estava acostumada com esse olhar dirigido à nós dois. Quando saíamos juntos era como se todo o tipo de encrenca viesse fazer uma visita, sempre nos metíamos em alguma confusão e saíamos rindo dela. Talvez por isso devíamos parecer algum casal esquisito para os outros, ainda que fosse totalmente normal para nós agir dessa forma. O fato de Ares aparecer na televisão pelo menos uma vez ao mês, ser um milionário bem sucedido, além de sua beleza, fazia também com que todos esperassem que fôssemos um casal refinado e calmo, o que definitivamente não iria acontecer.

Ares - Um Boxeador MafiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora