Capítulo 50.1

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Ares
Retaliação...

Encarei Kwan — o sucessor da Máfia Chinesa — através dos ventos frios que carregavam a neve pude ver um pequeno sorriso em seus lábios enquanto caminhava em nossa direção, sem hesitar por um segundo sequer. Podíamos não concordar em diversas coisas, ou nos odiarmos, mas a verdade é que se existia uma coisa que nunca iria duvidar eram seus sentimentos por Atena, apenas ele estar ali destruía qualquer dúvida que eu pudesse ter, e por isso, precisava confiar em suas decisões.

Voltei meu olhar para Boris, a incredulidade estampada em seu rosto, mas que logo foi substituída pela ira. Seus homens entenderam o recado de suas palavras silenciosas e começaram a se deslocar, apontando as armas para o chinês, que mantinha a expressão impassível, porém seus olhos ardiam em... Raiva?

Não precisei de muito mais para me mover e me afastar alguns metros do Ivanovich e de Melina, era como se até o próprio ar entendesse que algo importante estava acontecendo, algo perigoso e que mudaria o tabuleiro, o ambiente ficando mais tenso e angustiante a cada segundo que se passava. Conhecia aquele sentimento, já havia o presenciado e sabia o que aconteceria se não agisse a tempo.

Observei Kwan elevar os dedos, com um único movimento a ordem foi dada. Os projéteis vieram tão velozes quantas rajadas, zumbindo próximo ao meu ouvido enquanto os disparos eram feitos por seus franco-atiradores, derrubando qualquer um que estivesse em seu caminho. Corpos desabaram no chão, sem vida.

Olhei ao redor sem acreditar na rapidez dos acontecimentos. Um erro.

Antes que pudesse raciocinar uma nova rajada de disparos era feita, não tive tempo de agir, de pensar, apenas joguei meu corpo para o lado o mais rápido que podia enquanto rezava para não ser atingido em meio ao fogo cruzado.

Todo o caos ao meu redor pareceu perder a importância por um segundo, a dor aguda e súbita substituindo qualquer sentimento que poderia ter. Um tiro. Não sabia de onde veio e muito menos quem me acertou, mas pouco importava. O grito seco preso em minha garganta, mas não podia parar, não agora. É apenas uma bala... Nada além disso... Uma bala...

Com cuidado toquei a ferida latejante em minha perna com a ponta dos dedos, o líquido vermelho escorrendo por eles, os manchando. Sangue.

O que, diabos, Kwan estava pensando?!

Respirei fundo. Não podia o culpar, ele sempre tinha sido daquela maneira, desprezando o que julgava não ser importante e eu sabia disso. O chinês estava ali apenas por Atena e ninguém mais.

Tentei me mover, mas o estrondo das balas parecia ser um aviso para não fazer isso e permaneci abaixado próximo a alguns caixotes que àquela hora deveriam estar sendo carregados. Um a um, corpos se espalhavam pelo chão, sem vida, alguns ao meu lado e outros tão longe quanto minha visão periférica conseguia enxergar. Sangue tanto inocente quanto culpado se misturavam, na verdade, naquele momento, não existia errado ou certo, éramos todos vítimas de ambos os lados.

Tentei me erguer, usando o contêiner ao meu lado como apoio, o esforço do impulso fazendo meu ferimento ardendo como o inferno, minha cabeça encostada no metal frio e a respiração acelerada, com as costas das mãos limpei o suor, fuligem e sangue que sujavam meu rosto.

Outra rajada de tiros acontece e me abaixo, não há chance para outra reação e apenas faço isso, protegendo minha cabeça enquanto os disparos eram feitos por todos os lados. Os caixotes de madeira me dariam alguma proteção por um tempo, mas sabia que não demoraria para esse tempo se esgotar.

Não podia me levantar para identificar onde Boris estava, apenas podia ver quem estava próximo de mim. Os rostos eram familiares, talvez os tenha visto enquanto caminhava pelos corredores de Forte Morsus, ou em Nova York, nada que me garantisse que são realmente inimigos ou não, se estavam me ignorando de propósito ou apenas se mantinham focados nos chineses por serem uma ameaça maior.

Ares - Um Boxeador MafiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora