Capítulo 24

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Ares
O que é o amor?

Honestamente, não fazia ideia do que havia acontecido, apenas sabia que era maior que eu, que Chloe e que essa vingança. Era assustador a forma como tudo aconteceu, tão devagar que nem me dei conta, como se estivesse preso em um sonho e finalmente despertasse.
O sol já nascia na linha do horizonte, e mesmo assim, meu coração não conseguia desacelerar suas batidas. O que diabos aconteceu aqui?
Respirei fundo mais uma vez, tentando controlar aquele sentimento devorador que me engolia por inteiro e que eu não sabia nomear.
Olhei para minha mulher — não era como em um filme romântico que dormíamos abraçados, na realidade, Chloe já estava quase me derrubando da cama por ser tão espaçosa — seus cabelos cobriam o rosto, belos fios dourados como o mais puro ouro, a respiração tão tranquila que quase sentia inveja.
Me ajeitei mais uma vez enquanto tentava não cair e suspirei. Era frustante estar assim, sem saber o que fazer e o porquê de tudo isso estar acontecendo. Eram tantas coisas juntas, tantos problemas, que eu nem sabia mais qual resolver primeiro.
Nikolai? Chineses? Traidor? Anjo? Herdeiro?
Quase impossível decidir o que fazer primeiro, seria mais fácil resolver os problemas da máfia ou com Chloe?
Toquei em seu rosto, fazendo carinho com o polegar, estar tão perto era estranho. Todas as vezes eu dormia com alguma mulher, apenas escapava no meio da noite e a deixava sozinha, algumas realmente preferiam assim e outras me procuravam por meses, mas agora...
Eu queria estar ali, ver sua expressão quando acordasse, sentir seu cheiro e corpo contra o meu, quase como se existisse um imã gigante que não me deixava ir para longe dela.
Simplesmente não sabia o que havia acontecido, mas algo definitivamente estava acontecendo.

- Fogo! – A voz alta de Chloe me despertou dos devaneios. Seu corpo rodopiou e acabou caindo da cama, com as pernas para cima e metade da coluna no chão enquanto com uma mão tentava se segurar para não desabar completamente. Mordi os lábios, tentando engolir o riso. Fogo?

A observei levantar com um salto, como se nada tivesse acontecido e olhar para o quarto, provavelmente esperando que estivesse em chamas pelas velas que acreditava não terem sido apagadas. Checou até mesmo atrás das cortinas para saber se algo estava pegando fogo, depois olhou para mim, com uma expressão de incredulidade que quase me fez soltar uma gargalhada.

- Volta aqui, ангел¹. – Falei, mas quase não consegui, ela me encarava com um sorriso incrível que podia iluminar o mundo todo, além do corpo nu deslumbrante que quase me fazia ir até lá para começarmos tudo de novo.

- Podia ter me avisado que apagou as velas!

- Você estava dormindo, não ia te acordar apenas para isso. – Retruquei. Mal estava de pé e já brigava comigo.

Meu anjo ponderou por alguns segundos e resolveu voltar para a cama — desfilando nua até mim — se aconchegou em meus braços sem sentir vergonha ou algo do tipo, apenas veio. Não esperaria menos.
Apertei sua cintura, mais desperto que nunca, as memórias da noite vieram mais rápido do que eu esperava e me assustaram.
O que será que ela estava sentindo? Havia sido tão avassalador quanto como foi comigo?
Apertei um pouco mais sua cintura, ela também estava assim, podia sentir, pensando em tudo o que aconteceu.
Era para eu a odiar, sentir raiva de cada mínimo detalhe, ódio de ter o sangue de Alexander correndo em suas veias, de ter sido para proteger sua vida que seu pai matou meu irmão, mas não conseguia. Ficava cada vez mais difícil me afastar, ir para longe e não sentir o que quer que eu estava sentindo.
Tinham tantas questões a decidir que já começava a ficar perdido entre elas, como se estivesse em um grande labirinto com monstros que poderiam me atacar a qualquer momento e não conseguisse sair dele, não até alguém vir me resgatar desse inferno obscuro que me engolia por inteiro.
Minhas mãos correram por vontade própria para sua barriga. E se já tivesse um filho meu ali? Eu estaria pronto para puxar o gatilho quando chegasse a hora?
Mas não podia esquecer, por tudo que fizeram contra a Bratva e meu irmão, eu jurei que não haveria perdão. Mas por que era tão difícil? Era destruidor esse sentimento que me engolia. Eu um dia seria capaz de segurar meu filho sem sentir culpa por ter matado a mãe dele? Sem me odiar toda vez que encarasse o espelho? Seria capaz de tirar a única luz que eu encontrei durante toda a vida? Mataria a minha esperança?
Imaginei seu corpo sem vida, caído ensanguentado no chão e apenas o pensamento foi destruidor, como uma previsão do futuro que não fica mais fácil de conviver, principalmente quando não se pode alterar ele.
Eu necessitava desesperadamente mudar aquilo, precisava ser bom uma única vez na vida, por todas as coisas que fiz durante tantos anos.

Ares - Um Boxeador MafiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora