Capítulo 37

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Ares
Bebê...

Depois de tanto tempo, entre desavenças e bons momentos, estávamos sendo francos. Podíamos nos odiar no começo, mas não existiam mais motivos para isso continuar.
Me sentia mais leve, parecia que um peso tinha sido retirado de meus ombros e agradecia por isso, agradecia à Chloe, porque ela me salvou mesmo sem perceber. Me salvou de um passado que engolia minha vida aos poucos, de marcas que já não importavam tanto mas que eu continuava a me torturar com elas, de medos e duvidas que me corroíam.
E agora... Podia ver seus olhos perdidos, parecia nervosa enquanto sua mão descansava na barriga em uma forma de proteção.
Rebecca Novaes estava de volta, mesmo após todos os meus avisos para manter-se longe e não interferir, após ter sido afastada da Invicta... Eu sabia que aquele projeto de demônio não iria voltar apenas para um jantar em "família", algo sério estava acontecendo e precisava descobrir o quê.

- Você a conhece?

- Sim, ангел¹. – Cheguei mais perto e a puxei pela cintura, colando nossos corpos. – Não confie nela em hipótese alguma. Rebecca está atrás de algo e posso garantir que não é dar um jantar para sua sobrinha.

- Nunca confiei. – Seu tom decidido me fez sorrir, depositei um beijo em sua testa e me afastei um pouco para olhar em seus olhos. – Ela é? Você sabe...

Mafiosa? Concordei com a cabeça.
Rebecca Novaes conseguia ser escória até mesmo nesse mundo, onde o conceito de bondade era distorcido pelo o poder sobre os outros. Ninguém confiava nela e tampouco ela confiava em alguém, sempre pronta para apunhalar qualquer um pelas costas, inclusive o próprio irmão. Não iria contar minhas suspeitas sobre ela estar envolvida na morte de Alex, meu anjo não precisava se preocupar com isso, pelo menos enquanto ainda não era algo concreto.
O resmungo baixo de Arthemis fez com que me afastasse de Chloe, caminhei rapidamente para a cama onde a encontrei com o rosto vermelho e lágrimas rolando pelos olhos alaranjados como os de Hefesto. Tão delicada que às vezes parecia irreal. Seus traços não lembravam em nada Kyra e agradecia por isso, seria difícil olhar para ela e ver a mulher que causou tanta dor em minha vida. Toquei seu rosto com o dedo, cutucando sua bochecha e a fazendo rir, tão feliz com tão pouco.
Olhei para o lado, Quentin encarava a pequena com o mesmo olhar curioso que sempre tinha quando se tratava de algo que não entendia direito. Sorri. Meu garoto veio de uma forma inesperada e agora não conseguia o imaginar longe de nossa pequena família.

- O que acha de ir conosco conhecer nosso novo bebê? – Perguntei com um sorriso maior ainda ao vê-lo concordar com a cabeça, levantar animado da cama e correr porta afora para se arrumar.

- Conosco? Hoje? Brutamontes! – O espanto de Chloe me fez rir.

- Temos uma consulta agendada para hoje. – Peguei minha sobrinha com cuidado, tentando não deixá-la cair, havia feito isso algumas horas atrás e podia fazer de novo, além disso, precisava de prática nisso ou meu bebê seria um perigo em minhas mãos. – Vamos depois do café.

- E você me avisa agora?! – Minha mulher resmungou tomando Arthemis de meus braços.

A puxei para meus lábios, apenas isso era o bastante para quase me fazer desistir da consulta. Nos afastamos lentamente e caminhei para fora do cômodo, adentrei meu quarto, a cama bagunçada pelas crianças, algumas poucas coisas fora do lugar e brinquedos no chão. Gostava daquela bagunça, mostrava que tudo aquilo era real e não apenas um sonho. Me arrumei sem pressa, tomando cuidado para não machucar ainda mais meu corpo.
Já estava pronto para descer quando reparei na pequena luva preta de boxe no chão próximo aos pés da estátua de Ares Ludovisi. Encarei a representação do deus da guerra que antes me lembrava onde eu queria chegar, estive tão próximo do inferno que só queria que mais ninguém passasse por aquilo, que não sofressem ou sentissem a mesma dor.
Dei um sorriso fraco, Chloe teve que olhar em mim o que nem mesmo eu conseguia ver.
Segurei o rosto bem desenhado em mármore, podia enxergar com perfeição todos os malditos dias que passei a encarando e falando o quão grande seria a minha vingança, o quão impiedoso eu seria e o quão patético tudo isso foi. Com a outra mão toquei em seu ombro, olhei para o troféu de armas em que ele sentava, eu desejei por muitos dias fazer o mesmo, vencer tudo e todos apenas para provar que havia superado tudo, o único problema é que eu nunca conseguiria fazer isso sozinho.
Empurrei-a com força, meus músculos ardendo pelo esforço extra, o estrondo veio rápido assim como os pedaços espalhados pelo quarto, cacos e mais cacos que representavam uma pessoa que eu não era e nunca mais voltaria a ser.
Segurei a pequena luva de Quentin com força, a coloquei em cima da cama, estava á muito tempo parado ali, desci as escadas apressado tentando não cair.
Assim que cheguei ao andar de baixo todos já estavam prontos e olhavam para mim como se quisessem me matar — o que provavelmente iria acontecer se eu tivesse demorado mais.

Ares - Um Boxeador MafiosoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora