6 ▪lover boy ▪

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Ás vezes você observa tudo, como se pudesse ver por trás de seus olhos, como se pudesse respirar pela visão e viver dela. 

Eu sempre fora assim. Bom observador. 

Ás vezes desligava-me do mundo e cinco minutos bastavam para que me perdesse. Era bom encarar o mundo como se não lhe pertencesse. Era natural, satisfatório, o melhor que eu podia sentir. 

Foi isso que eu senti, quando naquela sexta feira em que chuviscava, quando a porta se abriu e o meu olhar brilhou, ao imaginar o menino loiro tirar aquele capuz dos cabelos e se sentar em sua mesa.

A minha mãe riu com o olhar de decepção no meu rosto quando eu vi cabelos vermelhos. Eu até podia pensar que fosse o menino loirinho e pequeno, mas eu sabia perfeitamente quem ele era.

Kim Taehyung entrou desfilando com o seu charme natural pelo restaurante. Os olhares se voltaram para a sua cabeleira de cor artificial enquanto ele se dirigia a mim com o semblante risonho.

A minha mãe abraçou-o, logo saindo para tratar das mesas não atendidas.

"Jungkookie!"

Eu não gostava quando ele fazia questão de ressaltar a diferença entre as nossas idades, mas ele parecia se divertir.

"Você teve um bom aniversário? Viu a minha mensagem?"

Eu sorri e acenei. Não me lembrava de nenhuma mensagem dele, mas podia fingir que sim.

Apesar de eu não lhe ter dirigido a palavra ainda ele começou a tagarelar. Ele sempre sorria e ria enquanto o fazia, mostrando que o assunto era alegre mesmo sem eu precisar de o escutar.

Eu estava o ouvindo falar sobre como ele não aguentaria se tivesse que trabalhar todo o dia e que isso era uma preocupação que só tomaria conta dele dali a uns meses, quando se formasse. Ele falou sobre como eu me ia divertir na faculdade e a partir daí ingressou num tema sem fim em que eu apenas escutava, um quanto desinteressado, pois já ouvira tudo antes.

O meu olhar se focou atrás dele, onde o menino entrou, com a gabardina até às suas coxas, impedindo as suas roupas de se molharem. Ele parecia mais bem disposto hoje, sorrindo enquanto tirava a vestimenta impermeável e o pendurava no bengaleiro amadeirado da entrada.

Ele levou a sua mochila até à mesa, logo se sentando e tirando um livro grande do mesmo e um lápis. Ele nem olhou o menu, porque ele sempre pedia o mesmo. A ponta vermelha do lápis brincou entre os seus lábios secos.

Por cima do ombro do agora avermelhado vi a minha mãe olhar a sua mesa e a ignorar, logo caminhando até nós.

"Taehyung." Ela sorriu ao garoto, interrompendo a sua conversa. "É só um segundo, mas Jungkook precisa de trabalhar." Ela me encarou. "Mesa treze, ok?"

Eu suspirei, sabendo qual era a mesa treze como sei como é a palma da minha mão.

Eu sorri a Taehyung,  dirigindo me à zona da pastelaria e pegando o bolinho que ele sempre comia. 

Eu me dirigi até ele, com um plano inútil que me faria ouvir mais a sua voz. Pousei o bolo de arroz, com cuidado, perto do seu livro. Ele me olhou por entre os cabelos claros e sorri, sem erguer a cabeça.

"O que você gostaria que eu trouxesse para acompanhar?"

Ele pousou o lápis no meio das páginas e olhou para mim de uma vez, parecendo pensar.

"Qualquer coisa." Ele sacudiu os ombros, levando o pequeno pratinho com o doce para mais perto dele. "Pode escolher." Acrescentou.

"Eu não conheço os seus gostos." Eu falei, fazendo o possível para não sorrir feito bobo na sua frente.

"Eu gosto de tudo."

"E o tomate?" Eu acabei perguntando, logo espreitando por cima do ombro, querendo saber se a minha mãe estava me repreendendo por eu estar demorando tanto tempo com um cliente.

Ele ergueu uma sobrancelha, como se tivesse surpreendido por eu me lembrar.

"É algo que não aprecio." Ele levou a sua até ao fim.

Eu sorri, sem saber o que dizer.

"O que lhe posso trazer?"

"Ainda não há limonada?"

Ele sabia que não havia limonada, eu só não entendia o porquê de ele continuar perguntando.

"Não." Contei-lhe a verdade. "Apenas amanhã ou domingo."

"Então eu deveria voltar amanhã ou domingo?" Ele perguntou.

"Você gosta tanto de limonada assim?"

Ele acabou rindo, colocando a mão na frente dos lábios e encarando o exterior através da janela.

"Eu posso te fazer um pouco." Eu ofereci, sorridente. "Se você quiser."

"Você faria isso por mim?"

"Sim, claro." Eu dei de ombros, não dando muita importância a isso.

Ele afastou o bolinho de perto de si, logo retomando o olhar no livro.

"Então eu esperarei."

Eu concordei, logo me afastando dali.

A minha vontade era de não fazer limonada nenhuma. Não porque eu me importava de fazer isso por ele, mas porque desse jeito ele ficaria mais tempo ali, esperando a bebida, e eu poderia o encarar.

Descartei a ideia apenas por saber que ele ficava ali a tarde inteira de qualquer jeito.

De volta ao balcão, eu sorri a Taehyung enquanto cortava um limão no meio.

Eu faria a essa garoto a melhor limonada da sua vida.

"O que está fazendo, Jungkook?"

Eu me virei, com a faca grande em mãos, sorrindo para a minha mãe.

"Fazendo limonada."

Ela sorri pequeno, mas depois o seu sorriso caiu.

"Você não devia fazer isso." Ela repreendeu-me, mesmo que o tom não fosse dessa categoria. "Algum cliente pode achar que já há limonada e pedir."

"Eu não pensei nisso." Respondi, sincero.

"Pois." Ela sorriu, logo se aproximando um pouco e verificando que o Kim atrás de mim não ouvia. "Eu sei que não, garoto apaixonado."

cornetto [jikook]Where stories live. Discover now