56 ▪miojo ▪

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Acordar não é mau. É um novo dia, você está vivendo, seja grato por isso, mas não exija a quem. 

Mas acordar naquele dia, naquele momento, naquele contexto, foi cruel. 

Não, não era porque Jimin estava acordado e vomitando na casa de banho. 

Era pelo contrário. Jimin ainda estava dormindo. 

E não era para eu ter ficado, não era para eu acordar e me sentir daquele modo em relação a ele, porque a minha própria cabeça doía, mas eu só pensava na dor que ele ia sentir quando acordasse, ou mesmo arrependimento, porque eu já me sentia arrependido por ele. 

Então, vê-lo deitado no sofá, comigo quase cobrindo o seu corpo, porque, depois de me obrigar a deitar, Jimin fez questão de me agarrar até poder, dizendo que não tinha pelo que eu ir embora, e, teoricamente, não tinha, mas ainda era uma visão má. 

Depois de tropeçar nuns collants perdidos pelo chão da sala, eu fui obrigado a parar e notar todos aqueles detalhes que eu tinha notado na noite anterior, lembrando-me ao invés de quando eu e Jimin nos juntavamos à tarde e eu insistia para que ele mantivesse aqueles mesmo collants vestidos, porque faziam do seu corpo o melhor, alguma vez visto no universo, corpo esculpido aos meus olhos. 

E eu fui obrigado a revirar o olhar para mim mesmo, caminhando para a cozinha e procurando nos seus móveis algo que eu pudesse fazer para ele se sentir melhor quando acordasse. 

No entanto, tão miserável quanto a comida pré-pronta e não saudável de microondas que Jimin tinha aos montes, eu fui obrigado a sorrir ao dia e fingir que eu não era miserável enquanto comprava as coisas que eu achava que Jimin iria precisar, roubando a chave dele da sua calça, claro, porque nem morto eu ia correr a chance de fazer aquilo tudo e ele não me abrir a porta depois. 

Voltar ao apartamento dele, com uma sacola em mãos, que pousei no balcão da cozinha, foi mais doloroso, porque a cada vez o sol entrava mais e iluminava o quanto aquele loft não parecia mais habitado por Jimin e sim por um monstro sedentário. 

Quando eu o ouvi tossir, e estava na cozinha testando o gás do fogão, os meus pés foram lentamente da cozinha para a sala, com uma garrafinha de água em mãos, ficando ao lado dele em pé, esperando que ele tomasse coragem para abrir os olhos. 

No primeiro sinal eu estendi a água e quando ele se apercebeu que havia mais alguém ali, foi quando ele se sentou de relance e olhou em volta, depois para mim, estreitando o olhar e levando a mão à cabeça. 

Eu não disse nada, porque minha intenção era não falar nada mesmo, mas abanei a minha mão, mostrando a impaciência em estar ali esperando ele pegar a água. 

E talvez notando a boca seca, Jimin pegou a garrafa com calma, abrindo-a e bebendo-a. E pelo rumo eu percebi que ele tomaria toda, então os meus pés se moveram mais uma vez, buscando outra e uma cartela de remédio. 

"O que está fazendo aqui?" Ele me perguntou, olhando com desprezo para os comprimidos de cápsula amarela e azul, notando certamente que não eram dele. "E o que é isso?" 

Eu fui obrigado a olhá-lo de lado, como se eu já não fosse saber que ele iria esquecer tudo. 

E porque ele não aceitava a porra de um comprimido, quando facilmente aceitava colocarem drogas alusivas em seu copo? 

"Vai tomar essa merda ou não?" Eu resmunguei e ele arregalou o olhar em surpresa. 

Então ele se levantou, tentando me afastar pelo ombro. 

"Eu só preciso de café." 

"Você não vai tomar café." Eu fui rápido a tocá-lo, e de tão tonto que ele parecia caiu de novo no sofá. "Não é apropriado." 

"E o que te leva a pensar que eu vou obedecer a você?" Ele estreitou o olhar, quase ameaçador, enquanto eu mantinha os braços cruzados e me perguntava seriamente o que eu estava fazendo ali. 

"Quer saber?" Eu resmunguei, impaciente, saindo para a cozinha e pousando os comprimidos lá. Depois eu peguei a taça pequena, que tinha algumas frutas, das que eu sabia que ele gostava, e com a colher do lado eu a pousei em frente dele, na mesa de centro. "Coma essa porcaria e vá tomar banho, por favor." 

Ele riu, amargo, ficando para trás no sofá e me olhando de esguelha. 

"Você é engraçado." 

"E você é hipócrita." 

"Me diga o que está fazendo aqui, porra!" Ele esbravejou, mordendo os lábios com a raiva. 

"Eu estou fazendo o que os seus bons amigos não fazem por você!" Exclamei, e eu estava apenas me referindo para os amigos que eu o via ultimamente, que ou estavam com a cara enfiada no seu corpo ou o deixando drogado. 

"Quem você pensa que é para falar isso?!" 

"Sou quem sabe o que é o melhor para você agora!" 

"Uma porra que você sabe!" Ele acabou gritando e eu bufei pelas narinas, saindo dali e desligando o fogo na cozinha. 

"Então vá se foder." Eu murmurei, inquieto, sem acreditar que eu tinha cometido aquele erro, vendo-o ficar de pé. 

"Para de gritar, a minha cabeça dói, seu besta!" 

"Eu não estou gritando!" 

E eu acabei gritando, mas apenas porque ele estava gritando! 

Então ele riu, e não era aquele riso bêbado dele, de diabinho, ou irônico, ou só idiota. Era a sua risada genuína e eu o olhei, entendendo que ele ria sobre ter me feito gritar quando eu não estava o fazendo e por um momento eu quase quis fazer o mesmo. 

Mas eu acabei limpando as minhas mãos no pano de cozinha ao invés, encarando-o. 

"Você pode fazer o que quiser." Eu disse, mas não me podia simplesmente ficar por ali. "Mas café é ruim para a ressaca e isto são comprimidos bons e que ajudam a sua situação." Eu continuei, empurrando a cartela através do balcão. "E você não deve comer coisas muito pesadas, para não irritar mais o seu estômago, daí a fruta, enquanto o miojo não estava pronto." Eu acabei divagando, porque ele estava ali parado, com o peso sobre uma perna de uma forma doce e não rude, me encarando. "E se você tomar um banho e acordar, talvez isso melhore o seu dia." 

"Então..." Ele arranhou a garganta, percebendo que eu tinha terminando e aparentemente acalmado os ânimos. Eu suspirei fundo, sem ter noção do que ele iria dizer ou sobre como isso faria aquele dia horrível terminar. "Você me espera?" Ele questionou, e eu o olhei de esguelha, enquanto, pela primeira vez, ele parecia envergonhado por ceder e encarava a panela ao meu lado sobre o fogão. "Enquanto eu tomo banho e espero o comprimido dar efeito, para depois não beber café e comer miojo e fruta? Me espera?" 

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cornetto [jikook]Where stories live. Discover now