85 ▪ mistake ▪

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É impossível você saber que está cometendo um erro. 

Você vai e diz que sabia que isso era um erro, mas é suposto isso aumentar seu ego ou sua razão? Não faz tudo pior? 

Você vai e diz que sabia que era um erro, mas se sabia e se o auto-denominou de erro porquê que foi e o cometeu? Não faz muito sentindo, faz?

Já sei que erros são um assunto delicado, mas não vai me dar um sermão sobre como ''às vezes precisamos cometer erros'', vai? Sobre como precisamos errar para aprender? 

Sei o que vai dizer. Às vezes é verdade, às vezes funciona, às vezes é necessário. Mas ''às vezes'' não é sempre. Não é teoria. Não é dever. Não é facto. 

Então talvez você não soubesse realmente que era um erro. E se quiser insistir e dizer que sabia, vá em frente e me diga... Pelo menos calculou o impacto dele? 

Você consegue prever todos os danos que vai causar? Você conse-

''Jungkook!'' Yugyeom gritou, bem direito na frente da minha cara, e eu mexi o queixo, indicando que estava ouvindo, mesmo que eu não estivesse. Mesmo que eu só estivesse ali de presença, segurando um travesseiro contra mim, sentado na cadeira atrás da secretária. ''Esse cara te deu uma tampa faz três semanas.''

''Qual cara?'' Eu murmurei, sabendo a resposta, sabendo que eu não devia pensar nesse cara. 

''Jimin.'' Ele constatou o óbvio, chateado por eu o fazer dizer. 

Jimin. 

Eu não podia pensar nele, mas se os outros pensam por mim... Não é diferente? 

Não é cair em erro, é? 

''Ele não me deu uma tampa, simplesmente.'' Eu prossegui, sem me deixar cair agora, apertando mais o travesseiro contra o meu peito e apoiando o queixo no mesmo, procurando aconchego. ''Magoei-o.'' 

''Segue em frente!'' O Kim mandou, revirando o olhar, sentado na minha cama, que tinha deixado de ser a minha cama à semanas. 

Não era mais a minha cama porque, desde que Jimin deixou lentamente de aparecer na minha vida, apagando-se dela, que eu sonhava, ou tinha pesadelos, sobre a forma como ia a sua vida agora, agora que eu entregara o seu maior segredo para a pessoa que o podia tirar dele, desde que Yugyeom era obrigado a subir para o meu colchão a meio da noite e me apertar para eu parar de arranhar os meus braços. 

E eu sabia que era um erro? 

''Jungkook.'' Ele chamou, um suspiro deixando os seus lábios. ''A sua mãe está preocupada, o Taehyung está preocupado, eu estou preocupado.'' Ele declarou, apontando o próprio dedo no seu peito e eu engoli em seco, largando o travesseiro e ficando de pé, sem saber para onde ir, caminhando até ao armário e abrindo-o. 

''Não tem nada que se preocupar.'' Eu murmurei, de forma baixa, negando para mim mesmo e olhando para cima. 

Porque ultimamente as lágrimas ficavam vindo, mesmo que em quantidades escassas e não tem como eu as parar ou não parecer um louco em qualquer lugar, com os olhos em água ou as bochechas húmidas. 

''Mesmo, Jungkook?'' Insistiu, nem um pouco acreditado, e eu me virei, fechando as portas do armário e encostando as costas na mesma, exatamente da mesma forma que Jimin tinha a mania de se encostar em paredes, apenas com o topo das costas, deixando-me manter a cabeça baixa, nos meus pés. ''Olhe para você.'' 

''Não tem nada de errado comigo.'' Eu murmurei, sempre em murmúrios. ''Eu tenho direito a estar triste.'' 

''Vem sair, hoje?'' Ele ofereceu então, mudando de assunto, sem saber que eu ouvira Taehyung dois dias atrás lhe dizendo para não insistir muito no que me deixava triste e desse modo eu largaria o assunto. 

''E pensa que eu sou quem?'' Eu resmunguei, escolhendo agora sentar-me no final da cama, mal sabendo o que fazer. ''Vai você.'' 

Mesmo que as faculdades estivessem de volta em prazo geral, todas as pessoas que antes me costumavam arrastar para festas ou fazê-las continuavam exatamente da mesma forma. Todas as sextas, sempre o mesmo, às vezes ao sábado. 

''Precisava tentar.'' Ele alegou, sorrindo de lado antes de se levantar. 

E enquanto, horas mais tarde, Taehyung e Yugyeom deixavam o restaurante, depois do ruivo tentar convencer-me de que aquela festa era diferente das outras todas a que eles iam, eu fiquei pelo mesmo restaurante, atrás do balcão, porque aparentemente eu andava demasiado distraído para servir as mesas e lembrar-me dos pedidos e demasiado lento para o fazer em um ritmo normal. 

Não era nada disso, a senhora Jeon só queria dizer de forma delicada que eu não estava sendo tão simpático para os clientes. 

A senhora Jeon. 

Claro que a minha mãe também tinha notado a ausência de Jimin em meu redor, a forma como eu não saía mais de casa fora as aulas, a forma como ele não vinha mais ali, nem mesmo quando eu não estava por perto. 

Toda a gente começava a perceber que Jeon Jungkook não era mais o mesmo sem Park Jimin. 

Toda a gente começava a perceber que eu encarava a tela do meu celular vezes demais, mesmo sem saberem que eram conversas antigas que eu corria entre os meus dedos, ou fotografias de Jimin que nós tínhamos, ou que eu tinha tirado com ou sem a sua autorização. 

''Vai indo para casa, Jungkook.'' A minha mãe disse, perto da meia noite, quando a clientela dentro do restaurante se resumia a um homem terminando o seu café e a mulher grávida que conversava com a minha mãe no balcão.

E, mesmo sabendo agora que ela estava preocupada comigo, eu peguei as chaves do balcão e deixei o mesmo, forçando um sorriso para ela. Três passos depois ali estava eu, em frente a casa, cansado daquela rotina, enfiando a chave na fechadura, sempre da mesma forma, sempre para o mesmo lado. 

Mas, naquela noite, àquela hora, ela escorregou dos meus dedos e caiu direta no cimento do passeio e eu bufei, levemente irritado, baixando-me para apanhar o molho de chaves e quando eu voltei a erguer o corpo foi quando ele parou por si, com o meu olhar atento no final da rua, esperançoso, observando os cabelos loiros de longe, entre os cabelos rentes e os cílios. 

Mas não era Jimin. Não era alguém que eu conhecesse ou quisesse conhecer, mas aquele não era Jimin. 

Então, logo depois, como esperado, eu voltei a meter a chave na fechadura, girando-a, e depois segurei a maçaneta, mas, inconsequente e sem respeito algum pelo meu coração, eu encostei a testa na porta, negando com a cabeça para mim mesmo, antes de bater a mão na mesma e me impulsionar para longe dali, levando a chave comigo. 

Não era Park Jimin, mas eu queria vê-lo. 

E eu iria, mesmo que fosse um erro e eu soubesse. 

♤♡♤

Pelas minhas continhas, faltam dois capítulos para cornetto terminar ): 

cornetto [jikook]Where stories live. Discover now