14 ▪ where do you wanna go? ▪

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De todas as vezes que eu já tinha ido àquele teatro eu nunca tinha ouvido tantos aplausos.

Eu estava perplexo com o tamanho talento do garoto que eu olhava com tanta admiração que eu nem fui capaz de aplaudir enquanto os meus pés me fixavam no chão e eu ouvia todas as críticas e elogios para o garoto de cabelos loiros.

As luzes no teatro voltaram todas, mas o palco encontrava-se vazio.

Eu estava hipnotizado, com os movimentos de Jimin se repetindo na minha mente.

Era uma simplicidade autêntica, uma beleza incomparável.

Park Jimin era a melhor arte que alguma vez eu teria o prazer de observar.

"Dá licença?"

Eu olhei o garoto de íris cinzentas falsas, mais uma vez me assustando por ele andar por aí com esse tipo de naturalidade enquanto devia causar uns valentes sustos em muitas crianças. O cabelo dele estava também acizentado, combinando com o tom de pele moreno e as roupas largas.

Eu deixei-o passar e logo ele correu a fileira e desceu as escadas descontraidamente, com as mãos nos bolsos, até chegar ao palco e subir o mesmo descontraidamente, logo passando para trás das cortinas.

Eu não sabia o que fazer dali em diante, pois não queria simplesmente ir embora sem ver Jimin primeiro. No entanto, eu não sabia como encontra-lo ou sequer chegar perto.

Sabia que ele deveria esperar que todo o mundo deixasse o local para sair, mas quanto tempo isso me cobraria?

Eu acabei deixando o edifício, ficando meio perdido no exterior. A luz do dia contrastava com a escuridão anterior, quase cegando os meus olhos fracos e causando-lhes ardor.

Eu encostei-me ao pilar do centro, vendo as pessoas deixarem as portas laterais.

Ao fim de uns longos minutos, porque o teatro estava lotado e não era tão pequeno quanto isso, a garota que antes entregava panfletos de atuações futuras, e ainda antes tinha colocado uma pulseira no meu pulso, olhou-me de esguelha, logo verificando o meu pulso.

Ela estava prestes a fechar a porta, quando se conteve e caminhou para perto de mim.

"Posso ajudar?"

Eu desencostei-me, como um ato de boa educação e sorri-lhe.

"Estou só esperando alguém sair."

"Já todo o mundo saiu." Ela sorriu-me sem entender.

Ela conheceria Jimin? Ela poderia ajudar-me?

Antes que eu pudesse dizer-lhe que não era alguém que estava assistindo que eu procurava, ela sorriu de lado.

"É alguma das bailarinas?" Ela questionou-me. "Ou das ajudantes?"

Eu neguei levemente com a cabeça.

Eu deveria dizer-lhe?

"Park Jimin... talvez?" Incerto, eu decidi jogar-me na frente do camião.

"Oh." Ela sorriu ainda maior. "Eu adoraria deixar entrar outra cara linda para o Jimin, mas eu não posso..." Ela parecia balbuciar sozinha. "Mas ele não deve demorar e eu posso avisar que você está aqui."

"Obrigado."

Eu não tinha muito mais o que lhe dizer.

Ela tinha despertado certa curiosidade em mim, afinal o que "outra cara bonita" queria dizer?

Pacientemente eu esperei encostado no pilar.

As pessoas iam abandonando o parque de estacionamento do teatro, mas ainda ninguém tinha propriamente deixado o edifício.

Perguntei-me algumas vezes se devia ter acreditado na palavra da garota dos panfletos e das pulseiras, mas mesmo sem ela eu ainda estaria naquela posição.

Um vulto preto, mas claro, irrompeu a minha visão, saindo às pressas pelas portas de ferro e deixando as mesmas para que batessem e se fechassem.

Ofegante, ainda nos seus collants, mas com uns tênis pretos e uma camisola larga da mesma cor, Jimin disse o meu nome. Ele segurava um saco de desporto, que eu acreditava conter os seus pertences, no ombro.

Eu sorri, aproximando-me.

"Você foi ótimo."

À medida que proferia as minhas palavras, Jimin estava se colocando em bicos de pés, envolvendo os braços em volta do meu pescoço e me abraçando. Agarrei a sua cintura, devolvendo o gesto, mesmo sem o entender.

"Você veio." Ele se afastou na mesma velocidade, logo deixando o saco atingir o chão e me encarando de soslaio, desconfiado. "Você gostou mesmo?"

"Foi incrível." Eu sibilei, encarando o menor em procura de qualquer sinal de desgaste. "Não está cansado?"

Jimin sorriu torto.

"Estou habituado."

Estou apaixonado. Eu pensei.

"Tem tempo agora?"

Quando eu estava com ele eu esquecia-me de raciocinar antes de falar. Quereria ele passar tempo comigo? Teria ele planos? Outra pessoa para passar o tempo, talvez?

"Onde você quer ir?" 

Eu engoli em seco. Onde eu o levaria? Nada era bom o suficiente para Park Jimin.

"Honestamente, os meus pés doiem." Ele confessou e eu facilmente acreditei. "Eu tenho um estúdio aqui perto, se você estiver bem com isso."

Estúdio? Ele tinha um estúdio?

"Se por você estiver tudo bem, por mim está tudo ótimo."

Ele sorriu quase como instantâneo, se abaixando para pegar o seu saco tiracolo e me puxar para a direção certa.

"É mesmo no fundo da rua." Ele explicou.

Eu respirei fundo, reunindo dentro de mim todo o tipo de coragem que eu encontrasse em cada canto mais escondido. Ele precisava de saber e eu precisava de dizer.

"Você esteve realmente muito bem, Jimin." Eu falei, recebendo um sorriso torto. "Eu... Eu adorei."

"Você não parece muito certo sobre isso."

Mais uma vez, a minha maneira de me expressar atraiçoava-me.

"Eu só não sei como..." Eu balbuciei. "Eu gostei mesmo muito." Eu disse de uma vez, querendo transmitir confiança. "Você foi incrível."

Eu poderia dizer-lhe que eu nunca ficara tão impressionado com alguma atuação. Podia dizer-lhe que de todas as vezes que eu presenciei aquele teatro (e não foram poucas) eu nunca tinha visto algo tão belo. Eu podia dizer-lhe que de agora em diante eu o veria como algo intocável, pois era tão perfeito e raro.

Eu poderia elogia-lo até não ter mais saliva para tal.

Todas as minhas palavras se foram quando ele abriu a porta do seu estúdio.

Tudo ali demonstrava esforço e empenho.

Desde os livros abertos na mesa de centro em frente do sofá, aos espelhos que preenchiam a parede atrás do suporte de ballet.

cornetto [jikook]Where stories live. Discover now