8 ▪today ▪

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Eu não sabia que tipo de ansiedade é que estava a tomar conta de mim.

De dois em dois minutos o meu olhar seguia para a entrada do estabelecimento, acabando sempre desiludido por não ver o que queria.

Parte de mim sabia que era inútil, por dois motivos. O primeiro era que quando alguém entrasse a porta faria barulho então eu não precisava de encarar e acabar desapontado. A segunda é que eu tinha quase a certeza que ele nunca mais iria voltar.

A minha mãe julgava-me sempre que o meu olhar subia por cima do balcão.

Ela devia estar farta de me ouvir suspirar, pois em algum momento daquela tarde de sexta feira mandou-me para as traseiras, organizar as caixas que haviam chegado essa manhã.

Há três semanas, três sexta feiras, que o loirinho não punha os pés no restaurante.

O pior é que ele parecia gostar realmente do local para estudar e isso me fazia sentir culpado, pois agora, por algo errado que eu disse, ele podia nunca mais voltar.

E, querendo ou não admitir, essas três semanas tinham sido horríveis. Lá do outro lado do mundo, o meu amigo parecia ocupado demais, pela primeira vez na vida.

Quando eu voltei da arrecadação, o meu olhar brilhou. Ele olhei para a mesa treze, afim de a ver vazia.

Mas lá estava ele.

O meu sorriso caiu ao ver que ele já fora atendido, já tinha uma limonada em cima da sua mesa e já olhava atentamente os seus livros de estudo.

De qualquer maneira eu fiquei feliz de o ver, feliz como sempre, brilhante, radiante. O sol era um nada comparado aquele brilinho natural.

Eu gostava de saber porquê que tinha desaparecido durante tanto tempo, o porquê de ter voltado agora.

Ele tinha andando ocupado ou fora pelo incidente da limonada?

Já tinha admitido para mim que o meu jeito o tinha deixado com raiva e que eu tinha dito algo de errado, eu só não sabia o quê.

Exclui todas as palavras que lhe dirigira nesse dia do meu vocabulário, pronto para lhe falar mais uma vez e não errar.

Mas após três semanas perdera a coragem.

Só desviei o olhar do menino quando, mesmo que pequena, a minha mãe cruzou o meu olhar, em pé na minha frente.

"Você vai lá levar o bolinho porque ele quer falar com você." Ela disse, sorrindo boba, empurrando um prato pequeno com o bolinho de arroz na frente do balcão. "Acho que ele quer se desculpar." Acrescentou.

Eu sorri, completamente abobado e me dirigi para o outro lado do balcão, logo tomando coragem para me dirigir à sua mesa.

Eu pousei o pratinho com o maior cuidado que eu podia ter e ele me olhou, logo sorrindo ao perceber que era eu e não a minha mãe.

"Ah, você." Ele demonstrou a sua surpresa, logo se levantando.

Eu não entendi a intenção, pois ele era mais pequeno do que eu, alcançando apenas os meus ombros com a sua estatura pequena.

Os seus dedos ainda tocavam a mesa amadeirada e ele balançava levemente o quadril.

"Eu queria te pedir desculpa pelo... outro dia."

As suas bochechas ganharam outra cor, claramente mais avermelhada e ele tentou sorrir.

"Está tudo bem." Eu assegurei.

O garoto revirou o olhar.

"Não está." Ele declarou. "Eu quero mesmo me desculpar. Não houve motivo para eu ter feito aquilo."

Então eu não disse nada de errado!

Eu me perguntava se ele se sentia mal sobre a situação como eu, de como chegamos àquele ponto hilário sem sabermos o nome um do outro.

Em um lapso de coragem, que claramente estava preenchendo o meu cérebro sem a minha autorização, eu sorri e disse-lhe.

"Eu sou o Jungkook, prazer."

Eu limpei a mão no avental, tirando qualquer resquício de sujidade que pudesse haver e a estendi no meio dos nossos corpos, aberta.

"Eu sei." Foi o que ele disse, sorrindo.

"E o seu nome é..." Eu sussurrei, tentando fazê-lo perceber que eu estava tentando começar de novo.

"Jimin."

O nome delicado e unissex complementava a sua postura e atitude.

Eu sorri-lhe, percebendo então que eu teria que o negar uma vez mais.

"Eu teria muito gosto em me sentar com você hoje, mesmo que você não tenha me perguntado, mas eu gostaria. Só que dessa vez eu tenho mesmo que trabalhar porque eu estou fazendo umas coisas nas traseiras e eu não quero que fique chateado porque acabamos de nos conhecer e eu não quero te chatear." Eu limpei as minhas mãos suadas no avental. "Sério, eu gostaria muito, mas olhe, tem gente aqui! Eu preciso mesmo trabalhar..."

Ele pegou a minha mão, subindo o olhar até aos meus olhos, logo sorrindo com os mesmos e rindo baixinho.

O nervosismo tinha tomado conta de mim e ao contrário da reacção que tomava sempre que ficava nervoso me frente de alguém, eu comecei a falar sem parar.

Eu só queria me certificar que ele não daria a louca mais uma vez.

"Talvez você possa se sentar um outro dia." Ele sorriu, acolhedor, soltando a minha mão.

Tudo o que veio na minha cabeça foi que, de fato, ele não tinha estado ali nas últimas três semanas.

E se essa era a minha chance?

Eu tinha que esquecer que eu vou magoar esse garoto. Tinha que esquecer todas as minhas inseguranças e aproximar-me de alguém pela primeira vez.

E se fosse pelo garoto que eu observava todas as sextas feiras que fosse.

Eu via a oportunidade escapando de meus dedos, assim como areia.

Eu enchi o peito de ar e acho que ele notou, mas eu não liguei.

Talvez eu fosse só uma babaca a quem ele fosse dizer "Não."

"Você gostaria..."

O meu objetivo era largar a bomba, rápido e eficaz, mas não correra como eu planeara. Eu nem conseguia convidá-lo!

"Gostaria de quê?" Ele perguntou, risonho, brincando com as próprias mãos.

Eu olhei o teto em procura de coragem e ri de mim mesmo, do quão idiota eu era por pensar em convidá-lo para sair.

Areia. Areia escapando por entre os meus dedos.

"Se gostaria de sair com você?" Ele perguntou-me. "Era isso que iria dizer?"

"Hoje." Eu acrescentei, seco. "Se gostaria de sair comigo hoje."

Eu não queria esperar. Não queria que ele fosse embora e desaparecesse.

Ele sorriu-me, como ele fazia sempre e então ergueu uma sobrancelha.

"Às oito?"

cornetto [jikook]Where stories live. Discover now