CAPITULO 30

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Ao entrar na sala vi que ela não estava cheia. Adriel não estava no lugar de sempre, e quando acenei ele nem olhou para mim.

Eu e Lila escolhemos nossos lugares e nos sentamos. Hanna se sentou atras dela e Hugo ao seu lado. A coitada revirou os olhos, mas eu sabia que no fundo ela estava gostando desta aproximação dele. O sinal tocou trazendo ainda alguns alunos para dentro. Entre eles estava Érico que sentou bem ao meu lado.

- Bom dia parceira de cena. - Ele disse ao se sentar.

Lila me cutucou e sacudiu as sobrancelhas. Apenas ri e tentei não revirar os olhos.

- Acho que as coisas estão ficando sérias. - Ela cochichou em meu ouvido.

- Cala a boca, sua doida.

A aula começou arrancando silêncio na turma. Matemática normalmente arrancava essa reação de todos nós. Depois de explicar a matéria o professor começou a chamar alguns alunos a frente para uma pequena competição amistosa, separando a turma em dois grupos. Quem terminasse e acertasse a questão primeiro rendia pontos ao seu time. O dia foi mais longo do que eu esperava. Estava cansada só em pensar que no dia seguinte teria mais.

Fomos avisados que a listagem das peças escolhidas seriam anunciadas na sexta feira. O que gerou um alvoroço bem grande entre a turma, mas não foi nada que um novo anuncio não acalmasse. No final de semana iriamos acampar de verdade. Com direito a tenda, saco de dormir e fogueira. Estou ansiosa para saber no que isso vai dar.

Depois do jantar fui até a biblioteca acompanhada do meu livro de matemática. Uma lista de exercícios me esperavam. As horas passaram tão rápido que me assustei quando vieram me chamar. Fiquei um pouco decepcionada quando vi que não era Douglas ali parado na porta como sempre fazia. Uma monitora do meu alojamento foi quem me chamou. Peguei minhas coisas e a segui em silencio.

- Agora vai ser você que vai vir me chamar na biblioteca para eu não perder a hora? - Perguntei finalmente quando estávamos quase chegando.

- Eu sinceramente não sei. Douglas me pediu que eu fosse chama-la hoje. Ele esta muito ocupado resolvendo algumas coisas.

- Ata. Obrigada. Boa noite.

- Boa noite querida, agora quarto.

Assenti com um sorriso  e entrei fechado a porta em seguida. Me arrumei para dormir e deitei.

É entediante focar no nada apenas esperando que seus olhos se acostumem ao escuro. Não havia, sequer, um sinal de sono em mim. Se ao menos eu pudesse fazer alguma coisa diferente de olhar para o teto branco em pleno breu. Infelizmente eu não podia fazer nada quanto a isso. Regra é regra. Bateu o sinal de recolher, sinônimo de cama. O máximo que eu poderia fazer é fechar os olhos e contar carneirinho.

Não deu outra. Meia hora depois lá estava eu, distraindo a minha mente com os malditos puladores de cerca.

Levei um baita susto ao ver minha porta sendo aberta e rapidamente fechada novamente.

- Quem está aí? - Perguntei me corroendo de medo, apertando as cobertas.

- Shiii! Assim você vai acordar todo  mundo. - meu coração voltou para o lugar dele quando percebi que a voz era de uma garota. Só faltava descobrir de quem para fazer ele parar de bater tão rápido.

Fiz uma lista mental das pessoas que poderiam ser, mas nada poderia me preparar para a criatura que estala ali em pé diante de mim.

- Marília, o que você está fazendo aqui? - Disse me sentando na cama.

- Por favor fale baixo. Eu fico te devendo uma.

- Você já era me devendo muito mais do que isso. - Eu mordia o maxilar.

- Por favor Lana, não me entregue. - Ela suplicou com as mãos na frente do rosto.

Eu sei que não é bom guardar rancor das pessoas, mas depois de tudo o que ela fez apenas esquecer é difícil demais. Fiquei olhando para ela ainda tentando tomar uma decisão.

- Por favor. - Eu não conseguia ser uma pessoa vingativa, mesmo querendo muito.

- Ok, -  disse murmurando - mas você tem que me falar o que aconteceu para você invadir o meu quarto.

- É pessoal. - Ela retrucou tentando disfarçar um pequeno sorriso.

- E você invadir o meu quarto no meio da noite é super permitido, né?

- Olha eu sei que eu não deveria estar aqui, mas também não posso contar tudo o que aconteceu.

- Se não pode contar "tudo" tudo bem, só quero saber o motivo de você ter entrado do nada no MEU quarto. Nem adianta vir com aquela de quem entrou na porta errada que eu não vou engolir.

- Eu ouvi passos no corredor e a sua porta era a mais próxima. Eu não podia ser pega. - Enquanto ela falava o peso do seu corpo intercalava entre uma perna e outra.

Suspirei derrotada.

- Cara, você tem muita sorte por eu ser uma pessoa muito boa. Depois de tudo o que você fez comigo apenas nesses três meses que estamos aqui no acampamento, eu não deveria ser tão legal com você. Não lhe garanto que isso ocorra uma segunda vez então sugiro que arrume uma outra porta. Agora vai antes que eu me arrependa.

Marília sorriu fraco para mim como agradecimento e foi até a saída.

-Espera. - Chamei sua atenção novamente. - Já que estamos tendo esse pequeno momento de sinceridade eu quero saber. Porque você não gosta de mim?

- Porque você ficou com tudo o que eu queria, e não fez nenhum esforço para isso. - Ela disse bufando.

- Como assim? - "Essa garota é loca. Do que ela ta falando?"

Primeiro ela me olhou com uma sobrancelha levantada como se não acreditasse na minha falta de entendimento sobre o assunto.

- Para inicio de conversa eu não vim para esse lugar por que eu queria.

- Sua prima me falou. - Completei.

- Claro que falou. - ela revirou os olhos. - Eu tinha amigos e uma vida boa lá fora, mas meus pais sismaram que eu deveria vir e aqui estou eu.

- Todos nós tínhamos uma vida antes de virmos. - falei sem entender onde ela queria chegar com aquele papo.

- Pode apostar, ninguém aqui tinha uma vida como a minha. Eu tinha tudo o que eu queria.

- Então acho que não mudou muita coisa. Afinal olha a onde estamos e que conversa estamos tendo.

- Era diferente. Era real. Meus amigos gostavam de mim de verdade, tínhamos coisas em comum. Aqui é apenas status, ninguém gosta de ninguém. Estamos sempre juntos por conveniência.

- Não precisa ser assim.

- Precisa se você quer ser a melhor, mas as vezes nada perece valer a pena por que você sempre volta ao topo.

- Para de bobagem eu não estou em lugar nenhum. Pergunte aos meus amigos estou sempre estudando.

- Mesmo se isolando todos gostam de você. - Ela falava como se eu tivesse culpa disso.

- Querida acho que você está confundindo as coisas. Eu não tenho culpa do que passa na cabeça das pessoas.

- Para! Não finge que não sabe do que eu estou falando. - Ela explodiu com raiva e eu arregalei os olhos.

- Assim você vai acabar acordando todo mundo.

Assim que eu falei uma luz se acendeu no corredor e ela me olhou apavorada.

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1181 palavras

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ACAMPAMENTO MFP | CONCLUÍDA |Where stories live. Discover now