CAPITULO 61

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- Eu sei por que eu também já me senti assim. Perdido. Sem esperança. Sem perspectiva. Eu tinha 21 anos quando você apareceu em nossas vidas. Eu tinha sonhos, planos. Eu estava a um passo do futuro que eu queria e de repente ele desapareceu sem direito a control Z. Não tínhamos outra opção. Lana, você foi uma benção em nossa vida, mas não esperávamos recebe-la tão cedo. Não me arrependo pelo novo rumo que tivemos que traçar, mas tenho que confessar... O começo foi desesperador. Sua amiga precisa de apoio, ela está sem chão e sozinha, faz todo o sentido estar desesperada. Ela perdeu tudo o que achava que teria e o que tinha também. Não é fácil perder a familia, principalmente aqueles que deveriam ser os primeiros a estender a mão e nos amar incondicionalmente. Laguna, você não precisa ser forte para ajuda-la, mas se quer mesmo fazer isso terá que ser amiga dela, não uma voluntária. Pense bem, se você fosse ela também só acreditaria no que está diante dos seus olhos em momentos como esse. Você pode negar o quanto for que não vai mudar a verdade. Você esta com pena dela e nesse momento a pena não é de muita ajuda. É lindo o que você quer fazer, mas boas intenções não passam disso, intenções.

Eu olhava para a tela meditando nas palavras do meu pai. Eu poderia algum dia ser amiga da Marília depois de tudo? "Não mesmo!" Uma parte do meu celebro gritava, enquanto a outra sussurrava "todos merecem uma segunda chance."

- Querida, você pode contar comigo e sua "amiga" também. Eu sei que você vai fazer a escolha certa. Faz parte do seu caráter. Estou orgulhoso querida. Agora vai, você tem muito o que avaliar ainda. E saiba que você não foi um peso na minha vida, você foi um acréscimo maravilhoso a ela. Ok?

- Eu sei pai. Muito obrigada, muito obrigada também Emma. Eu vou lá. Eu te amo!

A tela apagou, mas eu não me levantei. O acampamento inteiro estava zombando de Marília e esquecendo de mim. Preferi não contar para o meu pai o que Érico fez, porque é uma luta minha. Eu preciso aprender a enfrentar as circunstancias indiferentemente se elas forem fáceis ou dolorosas. Amadurecer é isso, prender a enfrentar e não correr para os braços do meu pai para que ele resolva meus problemas. Sempre chega a hora de sair da área de conforto, é fato. E eu estava voltando para minha agora que o foco das pessoas mudaram. Ajudar a Marília é o certo, mas a que preço? Estar do lado dela é andar com uma melancia na cabeça e tudo o que eu quero no momento é um pouco de sossego no anonimato. Contudo, seria certo? As palavras do meu pai não estavam de acordo com o que eu queria ouvir. Elas mexiam com a minha cabeça. Quando eu falei eu sabia que ouviria algo assim.

Desliguei o computador e segui para o quarto de Marília. Era o certo e eu pagaria por esse preço. Era o que eu faria. Eu ri enquanto mordia os lábios. "Meu velho me conhece melhor do que eu"

Eu contei a ela a história de vida do meu pai e da minha mãe. Eles eram um pouco mais velhos o que facilitava um pouco mais para eles na época, só que o foco era ter esperança. As palavras cortaram a minha garganta conforme iam saindo, mas mesmo assim eu as disse até o fim. Não era nada fácil fazer a coisa certa a essa altura do campeonato. Disse a ela que eu estava disposta a recomeçar e que eu seria sua amiga, não apenas na calada da noite e nos momentos em que ninguém via, em todos os momentos. Como esperado ela não acreditou muito em minhas palavra. Disse que pagaria pra ver. Eu mesma estava apostando o mesmo que ela.

Semana após semana o acampamento seguia em seu ritmo acelerado. Estudar juntas era um bom refúgio para todas as piadinhas de péssimo gosto que faziam conosco. Cada nome jogado para nós duas doíam mais do que socos na boca do estômago, mesmo assim estava cumprindo minha palavra com menos esforço a cada dia. Estava ficando mais fácil. Graças a rotina mais intensa, meus encontros na biblioteca com Douglas não eram mais tão constantes. Eu estava me sentindo andando em uma corda bamba no sentindo de equilibrar minha atenção a todos aqueles que têm sido tão importantes. Meu grupinho continua sendo o meu grupinho, mesmo não estando comigo como antes. A questão era Marília. Eles não entendiam. Ainda estavam a minha disposição sempre que eu precisava, não deixaram de ser meus amigos por conta das minhas escolhas e eu era muito grata a eles por me amarem mesmo não concordando.

- Hope! Como está hoje?

A barriga dela já estava com um tamanho considerável para ser vista apenas como gordura extra. Conseguimos a liberação de Tuco para Marília passar algumas noites em meu quarto quando não conseguisse dormir sozinha. Na verdade, na verdade, ela só vem pra conversar. Esses eram alguns "beneficios" que ela recebia por estar com 19 semanas de gestação, o que equivale a na segunda semana do quinto mês. As notas dela também estavam crescendo com a minha ajuda, sem qualquer soberba, eu estava orgulhosa do rumo que eu havia escolhido.

Haviam momento que eu queria socar a cara da Marília, mas ela já tinha melhorado 50%, o que já era uma mudança consideravelmente... Gigante! Não esperava mais do que isso. Tinham dias que os hormônios eram meus melhores amigos, em outros eu só podia sentar e chorar, literalmente. Eu não consigo ver alguém chorar sem chorar junto. As vezes eu chorava de raiva, por não poder voar em cima dela. Pra mim a pequenina já se chamava "Hope". É apenas um apelido, mas Marília tentava me bater por isso. Ela está tentando não se apegar, mas eu sei que ela conversa com a pequena Hope enquanto não estou por perto. As vezes até sem perceber. Já a vi fazendo isso.

- Laguna, você não vai acabar com meus bolinhos de novo. Divide comigo. - Dg reclamou pegando a sacola de cima da mesa bem na minha frente.

- Sai! Você está tentando espiar.

Estávamos fazendo uma competição de caricatura.  Como nenhum dos dois sabe bem desenhar então o que sair é lucro.

- Não vem com essa, você que quer comer tudo sozinha. Gula é pecado, sabia não? - Revirei os olhos e voltei a me concentrar em minha obra de arte.

- Já acabou o seu? - Perguntei olhando meu caderno debaixo da mesa e depois olhando para Douglas.

- Há muito tempo. Você que é a lesminha aqui.

- Hahaha. Você é uma comédia. Então, como você acabou primeiro, você começa mostrando o que tem aí.

- Não, - Ele parecia relutante - eu tenho uma ideia melhor. Podemos trocar o caderno ao mesmo tempo, mas antes... Qual é o critério de desempate?

- O mais engraçado. - Falo confiante com meu desenho.

- Mas o mais engraçado pra mim pode não ser o mais engraçado pra você.

- Está com medo? - Pergunto com meu olhar do mal.

- Agora tô. - Ele riu de mim e depois começou a contagem - No três. Um...

- Dois... - eu contei com ele. - Três!

Trocamos os caderno. Minha boca foi ao chão.

- Você... Você...

- Lana, está tudo bem? - Eu não sabia se ele olhava pra mim, meus olhos estavam com foco total no papel a minha frente.

Não percebi qual foi o momento em que ele se levantou e se ajoelhou a minha frente.

- Lana, o que foi? - Eu senti uma lágrima descer por meu rosto. - Me desculpe eu não sabia que isso te chatearia.

- Eu sou assim pra você? - perguntei focando em seus olhos.

- Eu... - Douglas tentou dizer.

- É assim? - Eu o cortei.

- É mais ou menos assim que eu vejo você.

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1312 palavras

Henrique (Pai da Laguna) e a Laguna 👶🏽 na mídia...
Meio cansativo, mas foi o que deu.

Genteeeeee 5K !!!! muitooo obrigadaaaaaa!!!!

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O que esperam para o próximo cap?

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