CAPITULO 46

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Todos já estávamos nas nossas posições, o pessoal da banda, o pessoal que vai ajudar com as danças e cenários, e nós, o grupo original. Depois das escolhas dos grupos remanescentes o nosso acabou sendo um dos maiores. Enquanto tínhamos vinte participantes, os outros tinham por volta de quinze e dezesseis pessoas.

O nosso lado da cortina também estava carregado de expectativa. Sequer imaginava que seria assim enquanto ainda estava sentada apreciando as outras obras. Não sou feita de ouro, claro que eu estava nervosa, mas essa era uma expectativa diferente. Não estava pensando nos meus possíveis erros enquanto olhava aquelas ondas vermelhas que tanto apavoravam. Eu olhava tentando imaginar se as pessoas do outro lado gostariam do show. Não era uma alta produção, todos sabíamos disso e não seríamos o único grupo a contar uma história. Fechei os olhos e um arrepio passou por todo o meu corpo. Foi a melhor sensação que senti em toda a minha vida, sabendo que estava no lugar certo e na hora certa.

Nossa história começa com os laços de um pai e sua filha. Com direito aquele belo clichê de um amor disposto a tudo, até aturar uma madrasta para ver um homem solitário sorrir novamente. Infelizmente a vida não é feita de boas intenções. E nossa protagonista só percebe as de sua madrasta tarde demais. Uma mulher gananciosa, jovem e egotista, visando apenas um bolso mais cheio e um gordo pé de meia. Enquanto isso, no subúrbio uma família simples com um pequeno negócio sendo a base de seu sustento. Nessa loucura bagunça que chamamos de vida o único filho desse pobre casal sofreu um "pequeno" acidente causado por aquela madrastra já mencionada. Sua enteada com seu nobre coração não conseguiu simplesmente abandonar o rapaz sem prestar socorro graças a negligência da mulher que dirigia o carro, no banco ao lado. Ela não sabia, mas um romance surgiria dali. Quem não ama aquela velha história fadada a acontecer o que se espera de forma surpreendente? O roteiro de Erico fazia justamente isso. A tudo se encaixava perfeitamente, as músicas nos momentos certos, cada coreografia feita por Hanna. Tudo estava dez vezes melhor que nos ensaios, principalmente o pessoal dançando triller na cena do acidente. Foi cômico. Enquanto eu empenhava meu papel eu sentia que sabia exatamente o que estava fazendo. Como se eu tivesse nascido para estar ali.

Finalmente a cortina se fechou indicando o final de tudo aquilo, e eu já estava com saudade. Não sei o que mais o acampamento nos proporcionaria, mas eu nunca me imaginei no lugar que estou hoje. Sempre fui uma ótima espectadora para esse tipo de coisa, nada além disso. Em um piscar de olhos a realidade bateu em minha porta quando vi Erico se aproximar para me abraçar. Eu queria voltar no tempo e viver aquilo tudo de novo só para não ter que enfrentar os problemas que precisavam ser resolvidos. "Para de ser covarde sua frouxa!" Gritou minha consciência.

- Que ótimo show, não? - Disse Erico sorrindo de orelha a orelha.

- Sim, foi tudo perfeito. Melhor até do que eu imaginava.

- Lana, desculpa te pressionar, mas eu preciso saber se está tudo bem entre nós. Estou confuso com tudo isso. - Mordi a boca em sinal de nervosismo - As vezes você me deixa chegar perto e em outras você me joga pra longe.

- Desculpa Erico. Não faço de propósito. É só que eu não sei lidar com o fato de estar namorando. Eu te pedi paciência.

- Eu tenho sido paciente, e muito até. Por favor Lana, me deixe ser o namorado que eu posso ser.

- Como é que é?

"Aquela voz? Tinha que ser aquela voz?"

- Oie pai. - Falei me virando já sabendo que era ele. Não olhei em seus olhos, sua camisa estava muito mais convidativa.

- Laguna Moreira, que papo é esse de namorado? - ele perguntou me Fazendo perder todas as respostas que eu levei tanto tempo para elaborar.

- Eu queria falar com você antes, não era pra ser assim. - Levantei o olhar. Não sabia o que seus olhos me diziam. - Eu. Eu juro que não. Eu não queria começar a fazer isso sem falar com você. Só que eu. Eu não tinha como falar com você. E não é algo que dá pra escrever naqueles e-mails quinzenais. Pai...

ACAMPAMENTO MFP | CONCLUÍDA |Where stories live. Discover now