CAPITULO 59

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- Laguna... - Marília me sacudia. Olhei meu relógio-despertador e vi que não passava das duas da manhã. "Todo mundo tirou pra me acordar hoje?" Minha consciência reclamou.  - Desculpa te acordar dessa forma é que eu precisava falar com alguém...

Eu ainda estava um tanto sonolenta, mas eu senti a amargura em sua voz.

- Você quer conversar agora? - perguntei finalizando com um bocejo.

- Não estava conseguindo dormir. Desculpa te acordar eu falou amanhã. - Ela se levantou.

- Não, tudo bem eu já acordei. Sobre o que você quer conversar. - Respondi com um meio sorriso.

- Eu não sei direito. Eu acho que estou com medo. Tudo o que eu tinha planejado pra mim se foi. Quando você disse que estava aqui para o que eu precisasse é verdade? - Ela parecia um tanto insegura, ajoelhada ao pé da minha cama.

- Eu nunca mentiria sobre uma coisa dessas... Estou aqui para o que você precisar.

- Eu ainda não consigo entender... Como você pode ignorar tudo o que eu fiz só pra me ajudar? Não estou reclamando. Você é única que está disposta a fazer isso... - Ela fechou os olhos. - Eu contei para minhas amigas, ao menos eu achava elas eram minhas amigas. Amanhã todo mundo vai saber da minha maior vergonha. - Sua voz era chorosa. - Você deve estar pesando que eu sou uma piranha. Amanhã todo mundo vai pensar isso de mim...

- Na verdade... - Tentei falar e ela me interrompeu.

- Olha não estou pedindo pra você ser minha amiga nem nada, é só que eu senti que tinha quer vir aqui. Eu preciso desabafar com alguém ou vou enlouquecer.

- Marília...

- Sabe, eu realmente achava que ele gostava de mim, pelo menos do jeito que eu gostava dele. Saber que ele não foi um babaca só comigo, me faz sentir menos mal.

- Porque você não se deita aqui? - Falei chegando pro lado, abrindo um espaço pra que ela se deitasse. Marília hesitou. - Assim você pode ficar mais à vontade pra me contar o que está se passando pela sua cabeça sem que ninguém suspeite de nós, caso a porta seja aberta.

- Tudo bem... - Um silêncio nos envolveu. Meu sono tinha dado adeus. Eu estava completamente desperta. - Sabe, foi naquela noite que tudo aconteceu... Quando eu invadi o seu quarto no meio da noite. Eu não esperava que estaria grávida agora. Na época não parecia ser uma escolha ruim. Pelo menos agora não precisamos ser inimigas. Podemos ser duas pessoas comuns que transitam no mesmo espaço. Muito mais saudável você não acha.

- Claro. Só estou boba disso este saindo da sua boca. Nada contra. - Estamos olhando para o teto - A enfermeira falou comigo. A obstetra estará à sua disposição a partir de amanhã. Ela disse que é muito perigoso você não fazer o acompanhamento, e ela não se referia apenas ao bebê. - Ela gemeu. - Como você está se sentindo em relação a tudo isso?

- Eu estraguei a minha vida. Eu estava muito tentada a tirar isso de mim, mas vai ser meio possível agora, então vou ter que esperar nascer pra então dá-lo pra adoção. É a melhor escolha. Eu tive que pensar muito sobre isso.

- Você estava pensando em abortar? - Perguntei chocada.

- Sim. Eu não o quero. Está estragando meus planos, minha vida. Até meus pais me abandonaram por causa desta coisa. Jogaram na minha cara a minha irresponsabilidade e disseram que pra eles eu não existia mais.

- Por isso você estava chorando? - perguntei um tanto surpresa.

- Sim, eles vieram aqui hoje. Tuco ficou com pena de mim, por isso não me mandou embora junto com eles. Ele viu que se eu saísse daqui com meus pais eu viraria uma sem teto.

ACAMPAMENTO MFP | CONCLUÍDA |Where stories live. Discover now