CAPITULO 62

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Enquanto eu tinha demorado três séculos pra fazer o meu desenho humilhante, Douglas desenhou exatamente o que tenho sido nesse último mês. O desenho era cheio de técnica. Nunca pensei que ele fosse capaz de algo tão brilhante. Não que eu não acredite em seu potencial, só não sabia desse Talento em especial. Não sei como não pensei nisso antes. Ele consegue ser brilhante em tudo o que faz. 

- Eu não queria chatear você, eu posso fazer uma caricatura de verdade, o que acha? - Ele disse tentando pegar o caderno de volta. Eu continuava muda ainda com os olhos presos na imagem em minhas mãos.

Tenho certeza que se ele tivesse mais tempo o desenho seria facilmente confundido com uma foto em preto e branco. Lágrimas escorriam pelos meus olhos enquanto eu forçava um sorriso e mordia o canto da boca ao mesmo tempo. Os cabelos cobriam um pouco as laterais do meu rosto. Com os braços cruzados, minhas mãos alcançavam meus ombros como se eu estivesse tentando me protejer. Ao mesmo tempo que eu parecia tão vulnerável ele tinha me feito parecer tão forte. Mesmos com as lágrimas, naquele desenho, meus olhos pareciam desafiar quem tentasse me diminuir. Eram detalhes controversos entre si. Como uma pessoa triste e feliz ao mesmo tempo. Ou alguém capaz de lutar dezenas de batalhas e com a coragem de uma tartaruga que a qualquer sinal de perigo se esconde em seu casco.

- Você não precisa. Sério! Eu gostei. Pareço até um pouco mais nova nesse desenho. - Ri pra tentar suavizar a situação e passando a olhar em seus olhos.

- Eu nunca consigo pensar muito quando desenho, desculpe. No começo eu pensei mesmo em fazer uma caricatura, mas eu...

- Hey, Dg. Está tudo bem. Eu só fiquei um pouco frustrada com minhas próprias perspectivas. Não sabia que eu era uma atriz tão ruim.

- Acredite em mim, você é ótima. O problema é que eu consigo ver muito além do que você tenta mostrar. Eu que sou muito observador.

- Então você anda me observando... - Falei em tom de brincadeira. Eu precisava mudar aquele clima, Dg parecia estar andando em ovos.

Meu rosto ainda tinha as marcas da surpresa, e meu peito pulsava acelerado. Não haviam sido lágrimas ruins, nem muito boas para ser sincera. Estavam mais para confusas. Ele deu de ombros, mas sua cara o entregou.

- Anda me espionando? - Perguntei surpresa.

- Não exatamente. Não é o que você está pensado, tá legal. Me dê um pouco de crédito. Eu só me preocupo. Eu me importo. Tem sido bastante difícil ver você tentando esconder de mim o que tem acontecido, mas a parte mais difícil é fingir que eu não sei de nada. Lana eu sou o monitor chefe, tenho olhos e ouvidos em todo o acampamento, e agora você anda com a Marília, a garota mais falada daqui. É meio impossível não ouvir comentários sobre vocês.

- As pessoas não estão mais falando tanto de mim. - Dei de ombros.

- Érico estaria encrencado se estivessem... - Douglas murmurou baixo, mas mesmo assim eu consegui ouvir.

- O que Érico tem haver com essa conversa? - Ele deu de ombros mas uma vez. Entendi tudo. - O que você fez? - Perguntei séria, me levantando da cadeira batendo o caderno sobre a mesa.

- Nada que possa prejudicá-la. Não se preocupe. - Ele diz parecendo um pouco frustrado.

- Douglas! Essa guerra é minha. Eu preciso vencê-la sozinha. - Falo deixando clara a minha mágoa me afastando.

ACAMPAMENTO MFP | CONCLUÍDA |Where stories live. Discover now