CAPITULO 73

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Dia vinte e três de setembro, dia da festa a fantasia e da relação nominal dos vinte e três campistas que foram selecionados para se inscrever a faculdades Federais e Estaduais. A bendita classificação que eu não estou com a mínima curiosidade de ver. A qual fui alertada a me decidir e ainda nem saí do lugar. Sei bem que não estou nesta mesma agonia por vontade própria, mas o que eu posso fazer se não sei que caminho traçar?

Enfiei minha cara no travesseiro enquanto eu ainda tinha tempo, porque logo, logo meu despertador tocaria e eu teria que me levantar sem poder enrolar. Teríamos mais uma aula para a entrega do último projeto, que serviria para ajudar a nos descobrirmos profissionalmente, e que não me ajudou bosta nenhuma.

Já fui várias vezes a orientadora ouvir o que ela tinha pra me falar, fazer alguns testes vocacionais, que até davam alguns resultados, mas será que era isso mesmo que eu queria para minha vida? Parecia tão pouco, um resultado tão pequeno para uma caminhada tão longa e desgastante até aqui. Respirei fundo e fui acertada pelo pé da Marília em minha barriga. Depois disso eu não conseguiria enrolar mais. Não sendo agredida por uma grávida inconsciente.

Me levantei, me arrumei e saí. Fiquei da lado de fora do meu próprio quarto tentando decidir o que eu faria a seguir. Faltava poucos minutos para o refeitório abrir, por isso decidi ir até lá, mesmo que só pra olhar o que estavam servindo. A fome se quer tinha dado olá desde ontem no almoço. O nome disso é ansiedade e ela não é amiga de ninguém.

Segui então para o refeitório determinada a comer nem que seja um grão de pão. Podia não estar com fome, mas venceria quem estava me derrotando. Eu tomaria minhas próprias decisões. Precisava fazer isso. Já era hora.

Meus olhos se encheram de lágrimas quando entrei por aquelas portas. Eu vi o que aconteceu. Sabia que ele não tinha culpa, mas a dor continuava lá. Não mexi meus pés. Não pensei em mais nada. Só fiquei ali parada feito uma vez estátua sem saber o que fazer. Não demorou muito para Douglas vir em minha direção. Eu não olhava para ele. Meu foco estava naquela lambisgóia de cabelo vermelho. 

- Laguna, eu juro que não é o que você estar pensando.

- É sim. - Eu passei a olhar em seus olhos e percebi que ele ficou abalado com minha fala. Como se eu não confiasse nele. - Eu vi o que aconteceu. Não foi culpa sua.

Minha voz estava quase robotizada. Não consegui ficar ali por mais tempo. O ar estava me sufocando. Eu precisava sair dali. Meus pés ainda pareciam chumbo enquanto caminhava para fora do refeitório e me afastava da porta. "Quantas vezes mais eu faria aquilo?"
"Quantas vezes eu ainda fugiria dos meus problemas ao invés de enfrentá-los?"

Minha respiração não parecia estar melhor e meus pés ainda carregavam um peso desconhecido. "Como por fim a essa agonia?"

Fazia dias que eu me perguntava se era boa o bastante. Eu descobri que o amo, mesmo fazendo pouco tempo que  estamos.

- Lagartinha, por favor... Olha pra mim.

Continuei andando. Pensando no quanto "ela" parecia muito melhor para ele. "Quem eu era perto daquela ruiva de tirar o fôlego?" Eu nem sabia o que eu faria da minha vida... E depois? Ele sairia do acampamento e me seguiria? Não podia fazer isso com ele. Não podia.

- Não estou brava com você Dg, só preciso de um momento para mim. Um momento pra pensar.

- Se não está brava por que está chorando? - Ele perguntou parando na minha frente impedindo minha passagem.

- Porque está tudo muito difícil para mim Douglas. Tem muita coisa acontecendo. Muita pressão. Muita coisa pra pensar. E no fim das contas não consigo decidir as coisas que mais importam! - Escondi o rosto para conter as lágrimas.

ACAMPAMENTO MFP | CONCLUÍDA |Onde histórias criam vida. Descubra agora