04 - Favor Exchange

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Faltava pouco para a hora da contagem, e eu estava deitada na minha cama encarando o teto enquanto brincava com a aliança que fazia papel de pingente no meu cordão.

Aquele cordão era especial pra mim. Eu nunca o tirava, em hipótese alguma, pois nele estava pendurado um pedaço da minha história, um pedaço do meu coração.

E se você quer saber como eu trouxe uma aliança roubada pra dentro da prisão, eu engoli ela um pouco antes da polícia chegar... Ela demorou um pouco pra sair, mas valeu a pena.

- China. - Camila passou sua mão na frente dos meus olhos, fazendo com que eu tirasse a minha atenção do teto. Olhei pra ela e fiz um som nasal para que ela falasse. - Você vai mesmo me expulsar daqui? - me sentei e olhei pra Lauren, que por algum motivo desconhecido estava ali.

- Eu te chamei, esperma de bode? - ela mostrou o dedo do meio. - Enfia no meio do seu cu e gira. - revirou os olhos.

- Me ame menos, Jane. - sorri com a língua entre os dentes e neguei com a cabeça. - A minha namorada me chamou, por isso estou aqui.

- Que bom que eu vou tirar ela daqui então, porque vai que eu acordo e dou de cara com você de madrugada? Não tem coração que aguente.

- Chinaaaa, eu gosto de ficar aqui, por que eu tenho que sair? - Camila choramingou.

- Porque a Normani vai vir pra cá.

- Eu juro que não te entendo. - Lauren se sentou na cama de Camila. - Primeiro você faz a caveira da garota aqui dentro, depois vai correndo atrás dela com o rabinho entre as pernas.

- Não é bem um "rabinho"... - falei e Camila arregalou os olhos.

- Desnecessário, Hansen. - eu ri.

- E eu não estou correndo atrás dela.

- China, ela deveria ficar com as negras, não aqui. - Camila cruzou os braços.

- E você deveria ficar com as latinas, Walz. - ela fez biquinho. - Por que você está fazendo tanto drama? Você só vai mudar de cubículo.

- Ah, é? - assenti. - Eu achei que eu tivesse que voltar para o "bairro" das latinas.

- Nope.

- Obrigada, Cheechee. - ela pulou encima de mim e beijou a minha bochecha. Lauren revirou os olhos mais uma vez.

- Só eu que odeio esses apelidinhos e todo esse amor de vocês duas?

- Sim. - Camila e eu respondemos ao mesmo tempo e Lauren bufou.

- Vai falar o motivo da Normani vir pra cá ou vou ter que pegar a minha bola de cristal?

- Pega a bola de cristal, porque aí eu aproveito e vejo se vai dar certo.

- Camila, dá pra sair de cima da Dinah, por favor? - Camila fez o que Lauren pediu e se sentou ao meu lado. - Obrigada. - passou a mão pelos cabelos. - Fala logo, Hansen.

- A Normani é muito inteligente quando quer, ela é capaz de planejar o crime perfeito. Durante todos os anos que nós éramos parceiras, a polícia nunca chegou perto de pegar a gente, ela sempre era o cérebro da operação.

- Tá querendo roubar bolinho na cozinha? - Lauren perguntou. - Porque se quiser, estou dentro.

- Cala a boca e me deixa terminar, desgraça. - fez cara de tédio. - Se ela é boa com assaltos, ela também é boa com fugas, tanto é que quando fugimos do orfanato, ela foi a responsável.

- Quer mesmo comparar um orfanato com uma prisão? - Lauren arqueou uma sobrancelha. - Acho mais fácil roubar os bolinhos.

- Beleza, fica com os seus bolinhos que eu fico com a minha liberdade.

- Tá. - deu de ombros. - Vou voltar pro meu cubículo que eu ganho mais. - Lauren se levantou e saiu.

Camila me olhou e puxou a gola da minha camisa, colocando o meu cordão para o lado de dentro.

- Obrigada... - ela sorriu. Camila era a única que sabia o quanto aquele cordão significava pra mim.

- Você vai pedir pra ela te ajudar a fugir?

- Duvido que ela faria se eu pedisse... Mas pra falar a verdade, acho que nem precisa. Ela não é o tipo de pessoa que gosta de ficar encurralada. Se eu a conheço bem, não vai demorar muito pra ela começar a pensar em um jeito de sair daqui, e é por isso que eu quero ela por perto, porque quando ela for, eu vou junto, quer ela queira, quer não.

- Eu vou sentir sua falta se você fugir... - a abracei.

- Você pode vir comigo se quiser.

- Eu não posso deixar a Lauren, eu a amo...

- Você tem um péssimo gosto para mulheres.

- Você também. - separou o abraço.

- É... Eu sei... - suspirei. - Mas a sua tem como a gente manipular, é só ameaçar a raspar a cabeça dela que ela vem com a gente na hora. - ela riu. - Está na hora da contagem, vem. - me levantei e fui para a frente do cubículo com Camila.

Uma guarda passou por nós contando o número de detentas. Eles fazem isso todo santo dia para garantir que nenhuma detenta tenha fugido, mas pra falar a verdade, acho isso bem inútil, porque até eles identificarem a detenta que fugiu, ela já está bem longe, com um nome falso e uma plástica que a torne irreconhecível.

Quando a guarda estava indo até a saída, segurei em seu braço, fazendo-a se virar e olhar pra mim.

- Limites, Hansen, limites. - sorri e a soltei.

- Desculpa, guarda Grande. - que ironicamente é minúscula. - É que eu queria te pedir um favor.

- Que tipo de favor? - cruzou os braços.

- Sabe a novata? Normani Kordei? - ela assentiu. - Eu quero dividir o meu cubículo com ela. - ela arqueou a sobrancelha.

- O que quer fazer com a novata, Hansen?

- Não é nada disso que você está pensando, até porque a gente não tem nada a ver. Ela não me suporta. Sem contar que ela também não faz o meu tipo. Eu só quero fazer amizade com ela, tentar fazer ela mudar o jeito dela me ver, entende? - ela assentiu.

- Mas desde quando você tem um tipo? - dei de ombros.

- Só confia em mim, eu não vou fazer nada com ela.

- O lugar dela é com as negras, e você sabe disso.

- E o lugar da Camila é com as latinas, mas mesmo assim você me fez esse favor em troca de outro favor... - sorri maliciosa. - É uma troca de favores. Você me dá o que eu quero que eu te dou o que você quer. Todo mundo sai ganhando. - ela olhou ao redor, e depois de ter certeza de que a única pessoa prestando atenção na conversa era Camila, voltou a me olhar.

- Vem comigo. - ela disse antes de começar a andar em direção aos corredores.

Segui ela até o armário do zelador. Estava completamente escuro, mas eu preferia assim, porque toda vez que eu transava com alguém, eu sempre imaginava Normani. Sou trouxa, eu sei. Mas não tenho culpa de que ela tenha sido o meu primeiro e único amor. Não posso negar que sou louca por ela. Mas acima de tudo, não posso negar que a odeio por tudo que ela já me fez passar.

Empurrei a guarda contra a parede e a beijei.

Welcome To Prison ● |Norminah|G!P|Where stories live. Discover now