Capítulo 4

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- Há alguém aqui querendo vê-la, Cait. Ao som do comunicado de Barbara, Cait afastou o olhar de Lizzie, que estava dormindo sobre seus seios.
- Eu não ouvi a campainha tocar.
A loira moveu-se pelo quarto e prendeu uma faixa em volta de seus cabelos ondulados.
- Isso porque ele não tocou. Eu estava saindo quando o encontrei de pé na soleira da porta, parecendo um cão perdido.
Cait desconfiou que conhecesse a identidade desse cão perdido.
- Você conseguiu descobrir o nome dele?
_ Não me importei em perguntar, mas Pensando bem, ele se parece muito com ela. - Barbara apontou em direção da criança adormecida nos braços de Cait.
Oh, excelente.
- Só mesmo Sam para aparecer sem ser anunciado - murmurou ela, embora não tivesse motivo para criticá-lo. No dia anterior, fizera a mesma coisa.
Os olhos da amiga arregalaram-se.
- Sam, o pai do bebê?
- O próprio.
- Eu pensei que você não ia lhe contar.
- Mudei de idéia. Ou perdi a cabeça, para bem dizer.
Quando ela mudou a posição do bebê para seu ombro e ficou de pé, Lizzie executou,um pequeno protesto choroso.
- Segure-a por um momento. Ela precisa arrotar.

Depois de abotoar a blusa, ela pegou o bebê de volta nos braços, deu um beijo suave em seu rosto e deitou-a no berçinho de junto à sua cama.
- Diga-lhe que irei logo, irei me arrumar.
A Loira fez uma careta.
- Quem se importa com sua aparência? Ele é simplesmente o doador do esperma, não seu par para o baile.
Ignorando a amiga, Cait moveu-se em frente ao espelho da penteadeira e passou uma escova nos cabelos.
- Seja como for, ele ainda é o pai de Liz.
- Ele é um canalha, amiga. Não merece ser pai. Cait olhou para Barbara no reflexo do espelho.
- Você nem sequer o conheceu.
- Mas sei o que ele fez com você, e isso o torna um imbecil em minha opinião.
Cait se virou e recostou-se na penteadeira.
- Diga-lhe que irei num minuto, está bem? A moça deu de ombros.
- Ótimo. Você se importa se eu chutá-lo no meio das pernas no meu caminho de saída? Se eu fizer isso com bastante força, talvez possa impedi-lo de procriar novamente.
Cait quase riu e apontou a escova para a porta.
- Eu preferiria que você desse meu recado sem qualquer violência, e então fosse trabalhar.
-Você não tem a menor graça - disse Barbara quando fez meia-volta e saiu do quarto.
Voltando para o espelho, Cait deu um longo olhar para sua aparência e fez uma careta. Seu rosto mostrava sinais de fadiga, logo abaixo dos olhos irritados. Equilibrar as necessidades do bebê com uma agenda movimentada tinha começado a deixar marcas. Barbara estava certa: aquilo não era um encontro. Pelo menos não um encontro amoroso. Um encontro com o destino podia estar iminente, dependendo das justificativas de Sam para aparecer sem ser anunciado.
Ela andou de volta até o berço para observar a filha, ainda cochilando, os punhos fechados no peito, um sorriso brincando nos cantos da boquinha. Evidentemente, sua filha estava tendo um doce sonho de bebê, inconsciente que o homem responsável pelo seu nascimento estava esperando na sala ao lado.

Cait imaginou se ele pediria para ver a filha. Em caso positivo, talvez devesse vesti-la com algo mais apropriado do que o macacãozinho amarelo.
Outra idéia boba. Ela era uma criança, pelo amor de Deus, e não tinha de impressionar o pai. Se Sam não podia ver a bênção sob o traje de sua filha, então sua amiga estava certa... ele não merecia estar na vida de Lizzie.
Como se ele realmente quisesse envolver-se com seu bebê, algo que ela verdadeiramente duvidava.
Depois de dar um profundo suspiro, ela entrou na minúscula sala de estar para ver Sam sentado no sofá, parecendo cansado, de algum modo. Mas também estava magnífico, Ela detestava o que a visão dele lhe despertava: a lembrança de um tempo quando o teria cumprimentado com um beijo. Detestava o fato de que ele ainda podia lhe provocar aquelas lembranças, aqueles sentimentos que estariam melhores enterrados.
- Um telefonema antecipado seria bom - disse ela no máximo da exasperação. -Mas, como sempre, você é cheio de surpresas, Sam. Algumas surpresas, muito boas, e outras, não tão boas.
Ele levantou-se, encarando-a fixamente.
- Tive um compromisso na cidade esta manhã. Uma vez que estava tão próximo, decidi parar aqui.
Aquilo explicava a roupa, aquilo respondia todas as respostas que ela queria.
- Como você nos encontrou?
- Seu endereço estava no envelope que você me deu, lembra-se? Na verdade, ela não se lembrara.
- Você teve uma reunião de negócios?
- Encontrei com meu contador. - Ele puxou um envelope de dentro do bolso do paletó. - Este é o esboço do fundo financeiro que estou criando para Lizzie. Os documentos verdadeiros ainda não foram emitidos porque quero que você examine primeiro e faça algumas mudanças. Você terá completo acesso aos fundos, e se precisar de mais, somente terá de me dizer.
Depois de uma breve hesitação, ela pegou o envelope da mão dele.
- Como eu disse antes, não precisamos do seu dinheiro...
- Sei o que você disse, mas ela é minha responsabilidade também

Cait imaginou se uma obrigação monetária era o único laço que ele planejava ter com o bebê.

- Eu gostaria de vê-la.
Pelo menos aquilo respondia a uma das perguntas dela, e trazia algumas preocupações. Mas agora que envolvera Sam na situação, não tinha outra questão para não atender o pedido dele, especialmente quando ele parecia tão sincero.
- Ela estava dormindo quando a deixei há alguns minutos, mas acho que você pode dar uma olhada.

Cait o conduziu até seu quarto, que era também o quarto do bebê. Quando se aproximou do berço, descobriu que sua filha não estava dormindo em absoluto. Em vez disso, Lizzie olhava fixamente para o mobile multicolorido balançando acima de sua cabeça.
Cait deu um rápido olhar por sobre o ombro para ver Sam parado perto da porta, como se incerto do que fazer em seguida.
- Ela está acordada, venha.
Ele ficou ao lado dela e olhou para a bebê, que lhe deu um sorriso, como se, de algum modo, sentisse que ele era um convidado especial.
- Ela começou a sorrir bastante no último mês - disse Cait. ele não respondeu, mas a admiração nos olhos quase iguais ao da filha, falava tudo.
- Ela é linda.
Cait não poderia discordar.
- Ela é tranquila, uma vez que esteja bem-alimentada e seca. Mas às vezes tem crises de cólica, e é um pouco temperamental quando não obtém o que quer imediatamente.
Ele permaneceu quieto por algum tempo antes de perguntar:
- Posso segurá-la?
Cait certamente não estava preparada para o pedido, mesmo que fosse lógico um pai querer segurar sua filha.
Ela gesticulou em direção à cadeira de balanço próxima ao berço.
- Sente-se ali.
Depois que ele obedeceu, ela ergueu o bebê do berço e colocou-o na curva do braço forte. Lizzie sorriu para ele novamente e Sam retribuiu o sorriso.
- Olá, garotinha. Eu sou seu pai - disse ele, num tom de voz suave, quase reverente.
Cait não podia contar o número de vezes que visualizara aquela cena, em circunstâncias muito diferentes. Com freqüência, pegava-se fantasiando com uma família feliz de três pessoas. Um sonho que nunca se realizaria, mesmo agora. Mas não podia negar quão natural ele parecia segurando sua filha. Não pôde conter a onda de emoções, a ameaça de lágrimas quando Sam fechou os olhos e pressionou os lábios contra a testinha de Lizzie enquanto a abraçava bem junto ao coração.
Aquele homem bonito, que nunca mencionara querer filhos, parecia como se também estivesse lutando contra suas próprias emoções por ver sua filha. Mas Cait tinha de lembrar-se que aquele era apenas um momento especial. Possivelmente, um momento de adeus.
Alguns minutos depois ele se levantou vagarosamente e deitou o bebê de volta no bercinho. Quando encarou Cait de novo, tirou outro envelope do bolso.
- Eu passei a maior parte da noite pensando nestes papéis. - Ele abriu o envelope e retirou o documento. - E aqui está o que eu realmente penso sobre eles.
Depois de pôr o envelope na cadeira de balanço, ele virou-se, rasgou os papéis e atirou os pedaços na cesta de lixo próxima.
- Ela é minha filha, Caitriona e quero ser uma parte da vida dela. Eu preciso dela na minha vida.
Quando Cait foi capaz de falar, após passar o estado de choque, perguntou:
- Você tem certeza absoluta?
- Sim, e quero provar isso.
Ela passou os braços ao redor da barriga.
- E como você propõe fazer isso?
Sam sustei seu olhar.
_ Quero que venha morar comigo.

E Cait acabara de pensar que não podia ficar mais surpresa do que já estava.

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