#22 - Cinzas Do Passado

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Aviso da autora: uso de drogas

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Aviso da autora: uso de drogas

14 anos atrás

Meu corpo todo doía, já faziam dois dias que estava trancada no quarto, deitada em minha cama abraçada com uma blusa dela e ficaria ali até seu perfume desaparecer, não comia ou tomava banho. Tenho certeza que ela não iria gostar de me ver nessa situação, mamãe sempre gostou de me ver bem arrumada.

Meus avós e amigos tentaram conversar comigo para sair do quarto, até Henry apareceu, mas ignorei todos, desliguei até o celular para não ser incomodada, a única companhia que queria era a minha dor.

Meu pai ameaçou colocar a porta do quarto a baixo se eu não saísse dele, peguei alguns quadros e decorações que pudessem quebrar e joguei na porta. Acho que ele entendeu o recado e não voltou mais. Eu sei que deveria ser mais compreensiva, meu pai também está sofrendo, mas eu não consigo, não consigo ser forte agora.

Durante o velório me mantive forte, uma muralha, mas quando cheguei em casa e tudo dentro dela lembrava a mamãe, desabei.

Ela não vai mais aparecer para me dar um beijo de boa noite, ou de bom dia, me dar seus conselhos, seu sorriso lindo não vai mais iluminar meu dia, não vou mais ouvir sua voz delicada quando ela cantava tocando ao piano.

Eu não quero mais ser forte, eu só quero chorar, me deixem chorar.

A parte que mais doía era o coração, cada vez que ele pulsava dentro do meu peito eu queria arrancá-lo.

Se minha mãe não pudesse estar neste mundo, porque eu merecia estar? Ela era meu tudo, minha companheira, melhor amiga.

No terceiro dia a fome e as dores no estômago foram mais fortes que as lágrimas, levantei, tomei um banho demorado, deixando a água gelada levar um pouco da minha dor e das minhas lágrimas que não paravam de cair. Sai do banho, me sequei e vesti um vestido rodado preto, a cor que resolvi adotar, deixei meus cabelos soltos e desci com a intenção de comer algo, mas paralisei ao pé dá escada, quando vi o estado em que meu pai se encontrava.

Ele estava jogado em sua poltrona de couro marrom, com uma calça social preta e uma camisa também preta toda amassada, com botões abertos, seu cabelo sempre tão perfeito estava bagunçado, sua barba que estava sempre bem aparada, do jeitinho que mamãe gostava, como se os pelos estivessem crescendo e ela estivesse por fazer, hoje estava grande, mal feita, em sua mão um copo de uísque quase caindo no chão, com seu líquido sendo derramado no tapete pérsio caramelo da sala.

Mamãe surtaria se ela visse, pensei, mas mamãe não está mais aqui neste mundo, esse pensamento fez com que as lágrimas voltassem.

Pela sala havia várias garrafas vazias espalhadas, os olhos de papai estavam fechados e ele ressonava baixinho.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto, agora por ver a situação em que meu pai se encontrava, e eu me senti culpada, pois estava presa em minha dor e não prestei atenção em papai, não pensei no que estava causando a ele. Enxuguei as lágrimas e me aproximei dele, tirei o copo de sua mão, recolhi as garrafas e busquei um cobertor para tampá-lo.

Prazer Em Chamas - Livro I Duologia Em ChamasWhere stories live. Discover now