Capítulo 03 - Lavínia Watson

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Lá estava ela, com uma faca em mão, cravada no peito do homem. A garota não sabia como reagir. Não acreditava ter matado aquele homem com suas próprias mãos.

Suas mãos tremiam, ainda em choque com o que fez. 

Não sabia se corria ou ficava. Olhou para os seus pais, caídos no chão e seus olhos transbordaram em lágrimas. Ela se desespera mas tenta pensar com clareza. Olhou novamente seus pais e tudo que enxergou nos olhos deles foi vazio, nada, sem brilho. Lavínia sabe que sempre se lembrará do quanto era feliz, mas sabe que nada será igual. Seus pais estavam mortos, nenhum sinal de vida vindo deles. Sabia que não tinha mais volta, mas mesmo assim queria pensar que ainda tinha esperança e que eles iriam levantar daquele chão sujo de sangue.

Ela esperava que eles estivessem apenas brincando, que tudo não passara de uma atuação, uma bronca por ter violado as regras e saído sem seu segurança, mas nada acontecia. Não era uma brincadeira, não era um pesadelo, era a realidade. E o problema com a realidade é que não tem como fugir dela.

Lavínia se espanta quando ouve um barulho e resolve que não pode ficar ali parada. Olha pra todos os lados e avista a arma do homem que acabara de matar. Se abaixa e a pega, sem fazer barulho. Seu segurança a havia ensinado como usar uma arma para o caso de um dia precisar. Ela se encosta no balcão da cozinha. Sua casa era grande, não tinha certeza sobre de onde viera o barulho. Abre a porta do armário abaixo do balcão, pretendia se esconder lá caso necessário, mas antes que consiga suas pernas perdem o equilíbrio e acaba escorregando no sangue que havia se espalhado ao redor do corpo. Algo grosso, úmido e ela se sujando com aquilo e acaba por cair em cima do tal cadáver. Ela se desespera, seu estômago revira, sente ânsia porém não vomita. Respira fundo e vai se afastando da substância lisa. Ela tenta segurar um grunhido, chegando perto dos seus pais. Não havia percebido o quanto tinha se afastado, manchando o chão da cozinha em uma linha reta.

Sua blusa já não era a mesma, suas roupas estavam sujas, não tinha um vestígio sequer do tom amarelo, só vermelho sangue.

A ruiva destrava sua arma quando ouve um barulho de tiro, dessa vez bem perto da entrada da cozinha, espera com as mãos trêmulas o que está por vir. Não voltaria atrás com suas decisões, estava firme de que sairia de lá viva.

— Leandro? — ela ouve a voz de Damon, seu segurança, o qual havia dado um perdido horas antes — Mabel?

Liv tenta segurar as lágrimas que teimavam em cair ao ouvir o nome de seus pais. Isso com certeza seria difícil. Perder sua única família aos dezesseis anos não é fácil, ainda mais quando eram só eles três, teria que dar conta de tudo. 

— Liv?

Ela segura a arma com mais força quando Damon aparece em sua visão. Ele está com uma arma na mão, assim como ela.

— Dan... — ela chama, mas não abaixa a arma.

— Liv? Abaixe a arma, por favor.

Lavínia olha para ele, em seguida para a arma em suas mãos.

— Você... sabe que só... só tinha eles...

Ela não está mais tão segura de si. Agora que toda adrenalina passara, só queria chorar e se entregar a dor.

— Liv, calma. Você tem a mim. Só... Só abaixa a arma e eu te levarei para outro lugar. — fala enquanto sinaliza para manter a calma.

A garota revê em sua mente tudo que passou naquelas poucas horas. Nada tirava da sua cabeça o desejo de que fosse ela ao invés dos seus pais. Não saberia como viver sem eles.

— Liv, olhe para mim... não pense em mais nada, só olhe pra mim. Abaixe a arma, por favor.

Ela olha para ele. Seus rosto estava molhado, sua vista estava embaçada, tudo que conseguia ver eram borrões.

— Me desculpe, Damon. Estou com a cabeça tão cheia que mal confio em mim...

Um tiro, um barulho alto, tudo se passa em frações de segundos: sua vida, seus pais, a festa. Sentiu raiva dela mesma por ter ido a maldita festa. Liv havia fugido de seu segurança por umas horas para curtir uma festa, mas a tal festa tornou-se seu pior pesadelo. Seus olhos começam a se fechar, e ela pensa que nem tem muitos motivos para querer mantê-los abertos.  Sente o baque do seu corpo ao chão, sabe que fez a escolha certa.

Talvez ela encontre seus pais...

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