Capítulo 81 - Santiago Braga

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Talvez eu não seja a melhor pessoa para ela.

Talvez isso seja um erro. Não pelo que estamos vivendo agora, mas pelo o que ela vai precisar passar depois.

Talvez fazer ela me odiar agora, vai ser menos doloroso do que quando ela me odiar por descobrir que menti esse tempo todo.

Eu não sou um cara bom, nunca pensei em ser, agora me vejo comprando flores para a mulher que até me permiti levar para a minha casa. Isso soaria extremamente ridículo se alguém me falasse a alguns meses atrás que aconteceria.

Santiago Richter não dá flores.

É estranho ter um relacionamento em que a pessoa realmente me quer ao seu lado, sem segundas intenções ligadas a máfia. Normalmente as pessoas na minha vida são passageiras.

Como uma chuva fraca no fim de uma tarde ensolarada, sabe? Você sabe que eles estão lá, mas que rapidamente vão ir embora.

Todos permaneciam ali por um bom tempo, até encontrarem o seu próprio caminho. Mas não reclamo, estou acostumado com a solidão. Já que, além das surras, me deixar sozinho era a coisa que Afonso mais fazia.

Naquela época só existiu uma pessoa ao "meu lado": Afonso. E é por causa dele que me tornei assim, impassível e cruel.
"Não se limite a sentimentos, não é isso que te faz forte."

Talvez eu esteja sendo egoísta demais para deixá-la ir. E esse possivelmente é o erro que estou cometendo, este que não quero abrir mão.

— O Lorenzo disse que a garota já está em solo português, provavelmente vai chegar aqui a qualquer instante. — Safira aparece eufórica me tirando dos meus pensamentos.

— E isso é bom? — a encaro com dúvida.

— Você procurou por ela por algum tempo, não é um milagre ela aparecer assim? Praticamente batendo em sua porta.

— É, um grande milagre. — falo em desdém.

— Vamos San, se anime. Sua prima perdida está de volta.

— Tecnicamente ela não estava perdida, Afonso sabia exatamente aonde ela estava por esses longos anos. — travo o maxilar em desgosto por imaginar que Afonso deixou sua própria filha dentro de uma boate de prostituição — Eu desisti de procurá-la, não acho que ela estará animada para esse reencontro.

— Vocês eram crianças desde a última vez que se viram, ela nem deve se lembrar de você.

— É, mas eu devia ter procurado direito.

E o meu passado aos poucos ia batendo em minha porta. Minha querida prima desaparecida resolveu aparecer em minha porta depois de treze anos.

Eu ainda morava na Alemanha quando a vi pela primeira vez. Tinha onze anos e fazia dois anos que meus pais tinham falecido. Uma mulher apareceu em nossa porta com a garotinha de três anos, magra e com olhos azuis enormes.

Me lembro que Afonso foi relutante com a ideia de cuidar da menina, mas no final cuidamos da garota por mais de um ano

— Mas ela vai ficar com você? Tipo, o resto da vida? — diz Safira, fazendo minha atenção voltar a sala.

A Máfia Entre NósWhere stories live. Discover now