Capítulo 43 - Lane Claire

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Era o dia da tão esperada e ensaiada apresentação. Minha primeira apresentação realmente importante desde que cheguei a Paris. Eu ensaiei durante dois meses para isso, já decorei tudo. Nada disso parecia tão importante alguns dias atrás, mas agora que Antoine vem com sua família, estou mais nervosa do que nunca.

— Você está bem? Parece nervosa. — mamãe diz, fazendo meus irmãos me olharem.

Eles estão no camarim para me desejar boa sorte. Apenas meus irmãos e minha mãe, quero dizer. A apresentação começará em menos de quarenta minutos. Já estou devidamente vestida e já me alonguei. Há outras pessoas em volta, já que o "camarim" é onde todos os dançarinos se preparam juntos.

— Ela nunca fica nervosa. — Luna fala, estreitando os olhos — Aposto que é por causa do namoradinho novo, hein? — ela sorri e me dá um empurrãozinho.

— O que? Não! Não tem nenhum namoradinho, ele é meu amigo. E eu estou nervosa porque é a minha primeira apresentação importante. Ok, talvez também seja porque a família de Antoine vem e não quero fazer feio. Vocês sabiam que o pai dele criou sozinho os dois filhos? É um pai solteiro, ele precisava trabalhar e ainda cuidar das crianças. Eloise, a irmã de Antoine, era apenas um bebê quando a mãe dele os abandonou, então o Sr. Clément levava um bebê e uma criança de 5 anos para o trabalho sem que ninguém soubesse. Antoine cuidava da irmã, escondidos atrás da pia onde o pai dele lavava as louças de um restaurante. Acho que estou falando muito, não é? Me desculpem, estou nervosa!

— Ei, fica calma. Vai dar tudo certo. O Sr. Clément parece mesmo um homem muito bom e ele com certeza vai amar você. Como poderia não amar você? — Brian sorri — Você tem conversado muito com Antoine? Como sabe toda a história da família dele?

— Ele me contou quando almoçou lá em casa na sexta. Falamos sobre a família depois de fazer um concurso de dança com músicas dos anos 90 e falar sobre nossos livros favoritos. Foi bem divertido. Eu contei que ele me ligou no sábado a meia noite para ler um trecho de O Pequeno Príncipe? — eles riem e Brian faz que não com a cabeça — Ele leu o livro todo pra mim! Até às 5 da manhã!

— É bom ver que você está voltando a ser você, Lane. E se Antoine te faz feliz, eu gosto dele. — Luna diz. Olho para cada um deles e percebo que todos me observam com sorrisos orgulhosos. Acho que falei demais.

— Ok, obrigada. O apoio de vocês é muito importante e blá blá blá. Vocês já podem ir para seus lugares. — falo, empurrando eles para fora — Tchau, tchau. E eu amo vocês!

— Nós amamos você também. — eles dizem juntos, como se tivessem combinado, e depois saem, sorrindo.

Olho para o relógio. Exatamente trinta minutos para começar e dez minutos para nos posicionarmos no palco. Enquanto me olho no espelho, vejo Antoine chegar atrás de mim e sorrir. Sorrio de volta e me viro.

— Lane! — ele me abraça. Depois se afasta um pouco e segura meus ombros enquanto observa a roupa. Ele volta a encarar meu rosto, olhando bem em meus olhos. Depois de alguns segundos, ele diz: — Você está linda, muito linda. E eu aposto que vai se sair muito bem dançando. Eu vi um dos seus ensaios — essa última frase ele diz sussurrando e com a mão na boca, como se fosse um segredo. Então ele se endireita — Vim te desejar boa sorte.

— Obrigada. — desvio o olhar, corando enquanto um sorriso escapa  — Seu pai e sua irmã vieram?

— Vieram! Sorte sua que eu tenho amigos na academia que puderam me ajudar, você sabe o preço de uma entrada para esse tipo de apresentação? Eu achei bem caro. Não recebo tanto assim. — agora é ele quem parece envergonhado.

— Ai, me desculpe! Eu me esqueci completamente. Eu poderia trazer quem quisesse sem precisar pagar, mas me esqueci de te dar o convite quando te chamei. — eu estou nervosa, fazendo vários gestos com as mãos e dando pulinhos no lugar.

— Ei. Tudo bem. — Antoine segura meus ombros novamente, dessa vez para me manter quieta —  Eu consegui vir sem pagar, um amigo me deu o convite. Ele deu outros dois também, para minha família.

— Isso é bom, mas eu não deveria ter esquecido. Você deve ter ficado muito irritado. E o seu pai deve me achar uma ridícula.

— Ele não acha isso, está bem? E eu não fiquei irritado.

— Tudo bem mesmo? Eu sinto muito. Dá próxima vez me lembre, por favor. — ele assente, sorrindo, e olha para algo atrás de mim, talvez o relógio acima da penteadeira.

— Temos só mais oito minutos, eu vou ter que ir logo. — ele diz, tão baixo que mais parece um sussurro.

É nesse momento que Antoine faz algo inesperado: ele me beija. Apenas um selinho, mas o suficiente para me deixar surpresa. Surpresa e maravilhada, desesperada por mais. Antes que ele se afaste, coloco minhas mãos em sua nuca e o puxo para outro beijo, um beijo de verdade. Suas mãos pousam em minha cintura fazendo com que nossos corpos se aproximem, mas nos soltamos depois de alguns segundos. Mordo meu lábio inferior para impedir um sorriso, mas ele aparece mesmo assim. Antoine sorri também. Ele se afasta e vai em direção a porta, ainda sorrindo. Se vira e antes de sair diz:

— Boa sorte.

Me sento na cadeira e penso no que acabou de acontecer. Meu Deus, nós nos beijamos! Ele era meu único amigo e agora nós nos beijamos. Mas pensando bem era uma amizade bem estranha, com vários flertes despretensiosos. Ok, não devo me preocupar com isso agora, eu tenho uma apresentação e devo dar tudo de mim.

— Senhorita Adams? — olho na direção da voz. É um dos ajudantes de palco — Tem alguém chamando pela senhorita no corredor ao lado. — vou em direção a porta do cômodo e ele me aponta o corredor a frente — É só virar a esquerda bem ali. Por favor, não demore muito, estaremos no palco em dois minutos. No máximo sete, ok?

— Tudo bem, não demorarei. Obrigada.

Sigo pelo caminho que ele indicou e assim que viro a esquerda, alguém me puxa para uma das salas ali. Uma mão tampa minha boca, impedindo que meu grito assustado saia. Algo pressiona minha nuca e ouço uma voz masculina dizer:

— Fique em silêncio ou eu atiro em você. Nós vamos sair dessa sala, pegar o elevador e ir até o estacionamento. Você vai continuar em silêncio. Entendeu?

Mexo a cabeça, fazendo que sim e ele tira a mão da minha boca. Já sinto as lágrimas inundarem meus olhos e escorrerem por meu rosto. O homem atrás de mim abaixa a arma até minhas costas, para que ninguém veja. Nós saímos da sala e, como ele disse, vamos até o elevador. Chegando no estacionamento, ele me leva até um carro e me coloca no banco de trás, onde já tem alguém para me segurar. Não sei o que está acontecendo, mas sinto medo. O carro começa a se mexer e continua em movimento durante algum tempo, não sei dizer quanto. Quando me tiram dali percebo que estamos em uma clareira no meio de uma mata com um galpão na nossa frente.

— Você vai ficar aí até o chefe chegar. Pode gritar o quanto quiser, mas ninguém vai te ouvir. Não pergunte nada e não fale com a gente. De preferência, nem fale. Se estiver com fome, vai continuar, não liberamos a comida fora do horário. — o primeiro cara diz, enquanto abrem a porta e me jogam lá dentro. A força que usam me faz cair já que minhas pernas estão bambas.

Eu tenho tanto medo quanto no dia em que Selena foi esfaqueada na perna ou no dia do incêndio. Ou talvez até mais, já que agora estou sozinha e no escuro. O escuro me faz ter mais medo ainda. Penso que vou entrar em pânico, mas escuto um barulho e me viro imediatamente, em alerta. Percebo que há alguém em um dos cantos, mas está escuro demais para distinguir quem.

Então a pessoa se mexe e um pequeno feixe de luz vindo do farol do carro lá fora ilumina seu rosto. Arregalo os olhos sem acreditar no que vejo.

Ali encolhida em um canto com os braços em volta das pernas e com o rosto machucado está Selena, a minha ex-melhor amiga.

[...]

Continuem CONECTADOS...

A Máfia Entre NósWhere stories live. Discover now