Capítulo 42 - Lavínia Watson

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— Corre! — ouço minha mãe gritar, os disparos quase me deixam surta. Paralisada, viro a cabeça em sua direção e vejo ela jogada no chão. Há uma mancha de sangue se formando por baixo dela. Corro em sua direção e toco em seu corpo.

— Liv! — olho para cima, vendo meu pai se agachar ao meu lado. — Meu amor, eu preciso que você saia daqui. Corra. Corra o mais rápido que puder. O mais longe possível. Não olhe para trás ok? — ele diz segurando o meu rosto e olhando em meus olhos. Sinto quando ele planta um beijo em minha testa. — Eu te amo. — fecho os olhos apreciando suas palavras. — Agora, Liv. Vai.

Levanto as pressas e tento correr. Quando dou o quinto passo, tudo parece se mover lentamente ao meu redor. O vento gelado, o barulho dos tiros, a forma como um corpo caiu ao meu lado. Me virei lentamente, vendo meu pai com uma arma na mão. Foi aí que tudo começou a acontecer rápido demais. Ele caiu ao lado da minha mãe e a única coisa que fiz foi me esconder.

Sentia minha respiração falhar a cada lembrança daquele dia.

— Sabe... — ouço uma voz grave e distante. — Uma vez, um casal muito apaixonado, dava para ver em seus olhos, veio ao meu encontro pedir para que eu fosse segurança pessoal de uma adolescente. Eu não sabia o que me esperava. Uma menina rebelde, cheia de si. Uma garota que não me deixava fechar os olhos, se não já não saberia onde estava. Mas eu descobri que não adianta por ordens encima dela, ela não aceita. Ela sabe a hora que tem que parar de fazer as coisas certas. Aquele casal me escolheu pra tomar conta dela e é o que estou fazendo agora. — eu sei que ele está tentando me fazer enxergar além da escuridão — Não deixe que se sinta presa. Fale comigo, eu estou aqui. — eu sabia que ele sempre estaria aqui, ele sempre esteve. Meus pais escolheram ele pessoalmente pra isso.

Sinto meu olhos se encherem de lágrimas. É difícil pensar nos meus pais e em como tudo aconteceu tão rápido.

Damon senta do meu lado, passando a mão em meus cabelos. Levanto a cabeça pra olhá-lo. Talvez eu sinta algo por ele, só não consigo dizer o que. Eu vivi com ele todos os dias, fugindo. Ele é a minha única família agora. Encosto minha cabeça em seu ombro, esperando todas as imagens de meus pais sumirem.

— Um dia antes dos meus pais morrerem, eu disse que os odiava, porque eles queriam você na minha cola e eu não. A gente discutiu. Eu não pude pedir desculpas. — digo, depois de uns minutos.

— Tenho certeza que eles sabiam que não era verdade. Você não os odiava. — diz, suavemente.

— Mas não pude dizer, não pude demonstrar. O que eu fiz? Fugi pra uma festa logo no dia seguinte. Eu deixei eles morrerem. — falo entre um soluço.

— Você não deixou eles morrerem, Liv...

— Eu ia fugir, Damon, ia deixá-los. Eu virei as costas, os abandonei. É tudo minha culpa. — balanço a cabeça, desacreditada.

Foi minha culpa... Eu sei que foi!

— Você não podia prever o que iria acontecer, Liv. — diz, mas nada me convence disso. Prefiro não falar mais nada. Ficamos um tempo em silêncio, sentados no chão. — Preciso fazer umas coisas. — beija minha testa e sai. E eu fico.

Puxo minha perna contra meu peito, passando meus braços em volta e enterrando meu rosto neles. E logo toda cena que eu tentava não pensar volta para minha mente.

[...]

Fico assim por um longo tempo, até que ouço o ser humano altamente qualificado para me tirar do sério.

— Devo dizer que fica linda nessa posição. Frágil, como uma doce garota deve ser. — levanto a cabeça observando aquele a qual eu ficaria muito feliz se morresse. — Vamos lá, ruiva. Cadê meu abraço apertado de saudade? — ele sorri de lado. Minha vontade era de quebrar sua boca para que ele não a abrisse mais.

A Máfia Entre NósWhere stories live. Discover now