Capítulo 74 - Lane Claire

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Chegamos em Portugal algumas horas depois, mais específicamente em Lisboa. Eu não sei falar nem um pouco de português. Na época da escola tive aulas de inglês, francês e até algumas de espanhol, mas nunca de português. Lisboa era uma cidade bonita, pelo que eu me lembrava de ter visto, mas era horrível conhecê-la naquelas circunstâncias.

A propósito, descobri o nome dos sequestradores. Martinez, Gonçalo e Lourenzo. Nomes bem normais para capangas portugueses.

— Vocês precisam de um banho e de roupas mais... apresentáveis. Não podemos simplesmente andar pelas ruas com duas garotas mal vestidas. E também não seria legal se apresentar ao chefe assim. — diz Martinez, o mesmo que nos contou para onde íamos, mais cedo. Ele parece ser o responsável por dar ordens aos outros dois. Eu e Selena apenas assentimos com um maneio de cabeça e continuamos caladas.

Eles nos levam até uma rua sem saída, nos fundos de um prédio velho com uns três andares. Subimos uma escada de ferro enferrujada que não me pareceu muito segura e entramos pela porta dos fundos. Fico impressionada com a aparência nada negativa do local. Imaginei que entraríamos em um lugar parecido com o galpão: sujo e escuro, mas na verdade parecia mais um apartamento normal.

As paredes estão pintadas de branco e o piso é de madeira. Há alguns móveis — uma mesa com um computador, um armário bonito do outro lado e, ao fundo, uma mesa grande com algumas cadeiras, separadas por uma parede de vidro. Vejo duas portas, que imagino que levem aos outros cômodos ou a saída. Apesar de ser tão bem decorado, o local não é muito grande. Parece uma mistura de escritório para reuniões e um apartamento. Não ligo muito, só penso no que fomos fazer ali. Antes que possa pensar em perguntar, Gonçalo e Lourenzo nos levam até a porta mais próxima.

Era um quarto, mas havia apenas uma cama bem pequena, com algumas roupas encima. Percebi que não tinha janelas ali e apenas outra porta, dessa vez aberta. Consegui ver de relance o vaso e notei que era um banheiro.

— Tomem um banho rápido e vistam aquelas roupas. — Martinez aponta para cama — A porta ficará trancada e não há janelas, como podem ver. Quando terminarem, batam na porta, estaremos na sala. Tentem não demorar.

Nós concordamos e esperamos que saiam para nos mexer. Eu ando pelo quarto rapidamente, procurando uma saída, mas realmente não há. Entro no banheiro e observo tudo, mas vejo somente o chuveiro, o vaso e uma pia. Na pia tem alguns perfumes, cremes e sabonetes. Volto para o quarto, decepcionada. Percebo que Selena se mexeu apenas para escolher uma das roupas. Ela não queria sair dali?

— Você não vai me ajudar a procurar uma saída? — pergunto.

— Não, não tem saída. Eu fico com o vestido vermelho e você com o verde. Verde combina mais com você. Vou tomar banho primeiro, se quiser pode tirar um cochilo, te chamo depois. — ela diz, já andando em direção ao banheiro — Tem perfumes aqui! E cremes! E sabonete! Você viu isso? — ela põe a cabeça para fora, me mostrando alguns dos objetos que estavam na pia.

— Eu vi. — respondo, pensativa. Ela aparece novamente na porta, ainda vestida.

— Se anime, Lane. Pelo menos vamos ficar cheirosas. E
também ainda não morremos, isso já é um começo.

— Mas nossa família pode ter morrido e nós não estamos muito longe disso.

— Escuta aqui, Lane. Você sempre foi a garota positiva e animada e não vai ser agora que vai perder isso. Eu sempre fui uma chata e estou me dando uma chance de ter uma pequena ponta de esperança antes de morrer. Você não vai me deixar sozinha nessa, não é? Vamos lá! Quer tomar banho primeiro? Acho que não teremos tempo pra um cochilo. — ela faz uma pausa e eu apenas aceno que não — Eu estive pensando, durante a viagem, que deveria pedir desculpas a você. Se formos morrer, devemos pelo menos não estar brigadas... Me desculpe. Me desculpe por tudo que eu fiz, eu não imaginei que tivesse te afetado tanto. Estou arrependida de verdade.

A Máfia Entre NósWhere stories live. Discover now