Capítulo 48 - Lavínia Watson

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Ficar deitada com pensamentos negativos estava começando a me incomodar. Não podia mais sair. Depois do episódio dessa manhã Damon não ia sair do meu pé.

Cada pensamento sobre meus pais me atormentavam. Fechar os olhos estava se tornando difícil, mas ao mesmo tempo ficar com os olhos abertos estava se tornando um incômodo também, sempre me pegava pensando em tudo. Se dormia tinha pesadelos. Não havia saída.

Estava mais atenta a tudo em minha volta, qualquer barulho por mais simples que seja já me deixava em alerta. Agora deitada olhando pro forro, pensando em como erguer minhas barreiras novamente, em como não sentir... E já fazia ideia de como começar.

— Hey, ruiva. — reviro os olhos antes de olhar na direção da porta — Estava curioso pra conhecer seu recinto particular.

— Se é particular você não deveria estar aqui. — digo deitando a cabeça de volta no travesseiro. Gostava de falar com Brad, às vezes ele me fazia esquecer todas as merdas passadas, focando apenas em matar ele.

— Estou certo que não, mas minha curiosidade era maior. Achei que seu quarto fosse mais, tipo... preto e cinza. — olho para ele que caminha até minha escrivaninha branca e florida.

Meu quarto tinha um ar de menininha. Minha mãe gostava dele assim e eu quis manter essa parte dela em mim. Era quase tudo rosa e branco, com exceção das minhas roupas, todas de tons escuros. Meu quarto beirava o quarto de uma Barbie, mas era um local meu, meu universo particular, meu porto seguro, meu coração. Ele era exatamente como meu antigo quarto da casa dos meus pais, exatamente como minha mãe havia decorado. Tudo ali era aos olhos dela e eu amava.

Quando evitávamos ficar comprando casas sentia falta dessa parte de mim. Sempre que tinha que passar um ou dois meses hospedada em hotéis era um sacrifício não poder ter esse lugar que sempre foi meu refúgio.

— Superei suas expectativas? Diz a verdade. — pergunto, me sentando a cama e puxando o travesseiro para o meio das minhas pernas. Foco a atenção em meu reflexo no espelho de frente para cama.

— Você supera todas as minhas expectativas. — diz naturalmente. Tenho quase certeza de que ele nem se deu conta do que disse, mas aquilo fez um alvoroço no meu estômago. Um frio percorreu minha espinha de um modo bom. Não de medo, nunca com Brad.

Eu e Brad somos como água e óleo, não nos misturamos. Desde que o conheço não consigo concordar com nada vindo dele. Ele ficou um tempo fora e cada passo seu era calculado. Sabia que estávamos vigiando o tempo todo e fez tudo com cautela. Quando descobrimos que seu sumiço era por questões pessoais, decidimos lhe dar privacidade. Ninguém merece ter a vida exposta, mesmo que seja só para mim e Damon, prefiro dar as pessoas a opção de contar ou não sua história, gosto de ter essa opção portanto não farei diferente com os outros.

Olho para ele que ainda mexe em minhas coisas, reparando em cada detalhe.

— Isso é o WALL-E? — olho para o brinquedo em suas mãos e já sinto várias sensações.

— Sim. Ganhei quando criança. — era um brinquedo de Wall-e médio. Ganhei dos meus pais. Lembro-me de ficar furiosa com eles pois queria muito um novo notebook e eles me deram isso. Na hora quis quebrar ou jogar no lixo, mas minha mãe tinha o dom de fazer a nossa opinião mudar, então guardei. É umas das coisas que faz parte da minha antiga vida, de quando meus pais eram vivos, sempre que olho para o objeto lembro deles e isso me motiva a viver.

"Eu não quero sobreviver, eu quero viver" - Wall-e

Minha mãe sempre dizia pra mim aprender a viver. Sobreviver era algo do destino, não nosso. Não estava em nossas mãos essa escolha, então tínhamos que viver tudo que podemos. Sobreviver era apenas uma garantia.

— Tenho um igual. — ele fala sem nem ao menos eu ter perguntado. — Ganhei quando estava rebelde. — sorri. Já sei que não vem coisa boa. — Estava naquela fase que todo adolescente tem, de rebeldia. Queria um carro e eles me deram isso. Disse que se eu não cuidasse, nunca conseguiria cuidar de qualquer coisa que ganhasse ou comprasse. Tenho até hoje, uma memória de que já tive dias melhores.

— Todos já tivemos dias melhores ou estamos tendo. O meu já passou agora vivo nas sombras. — fixo meu olhar no chão e logo sinto a cama afundando.

— Realmente, ninguém merece viver fugindo por aí. É por isso quê... estava pensando... — diz pensativo e não termina.

— Estava pensando...? — incentivo Brad a terminar de falar. Olhando para ele, que estava agora sentado ao meu lado não sei o que aconteceu mas ver seus olhos fixos nos meus fez meu coração acelerar. Não consegui identificar o sentimento que estava sentindo, seus olhos refletiam os meus e parecia que ele enxergava muito além de mim. Tentei de todas as maneiras me livrar dessa sensação.

Vejo ele engolir em seco antes de forçar a garganta a falar.

— Pensando se não queria sair uma noite dessas. — fala hesitante. Um sorriso brincou nos meus lábios.

— Brad Foster está mesmo me chamando pra sair? — tiro sarro.

— Não. Quer dizer, sim. Estou, mas só sair sabe? — diz meio encabulado e eu acho fofo. Logo ele vira o rosto para o outro lado, fugindo do meu olhar.

— Um encontro?

— Sim. Que dizer, não. Sair como amigos, ah, você sabe o que estou dizendo, Liv! Pare de enrolar e responda. — às vezes não entendo, é a primeira vez que vejo Brad sem aquela pose humorada de sempre.

— Hum, tá bom. Vamos sair como amigos. Marca um dia e vamos. — respondo. Precisava disso tanto quanto ele, sair e esfriar a cabeça, pensar em outras coisas.

Ainda olhava para Brad enquanto ele processava minha resposta. Logo seu rosto virou para o meu ficando de frente um para o outro em uma distância certa. Seus olhos recaíram em meu rosto, olhando detalhadamente. Um sorriso envolveu seus lábios. Ao mesmo tempo que várias borboletas sobrevoavam dentro da minha barriga quis revirar os olhos pois sabia que nada de bom viria daquela boca e isso me faria repensar a resposta.

— Sabia que não ia resistir ao meu charme por muito tempo. — sinto vontade de dar um soco em seu lindo rosto para tirar aquele ar convencido dele.

— Seu charme só é um pouco inferior ao meu, já que quem não resistiu primeiro foi você. — digo suavemente para ele apreciar minhas palavras.

— É impossível resistir a alguém quando seus futuros filhos estão em jogo. — diz e dessa vez gargalho um pouco, pois sei que ele nunca vai me deixar esquecer isso.

— Terei que ameaçar seus futuros filhos mais vezes. — falo não resistindo a provocação.

— Não pode ameaçar nossos filhos. — diz como se estivesse certo disso. Tenho certeza que meu rosto está alguns tons mais avermelhado com a ideia de que Brad quer fazer sexo comigo. Parecendo passar a mesma coisa por sua cabeça ele chega mais perto, me fazendo respirar com um pouco de dificuldade. Essa era nova para mim. Mas antes que ele possa tomar qualquer decisão seu rosto toma outra direção indo de encontro com o meu pescoço, puxando uma forte respiração parecendo sentir meu cheiro. — Merda. Vou indo, quando marcar um lugar legal te falo. — ele levanta as pressas. — Damon está lá embaixo me esperando. — antes que eu responda ele passa pela porta a fechando logo em seguida.

Não tenho uma reação imediata para o que aconteceu, mas sei que meu coração acelera a cada expectativa dessa nossa saída. Como amigos.

[...]

Continuem conectados...

A Máfia Entre NósWhere stories live. Discover now