A Máfia Entre Nós

Capítulo 49 - Lane Claire

— Selena? Você também está aqui? — falo com a voz fraca.

— Sim, há uns dois dias. 

— Eu não entendo... Por que tudo isso está acontecendo?

— Sinceramente, Lane, a essa altura já pensei que você soubesse. Nossa família mexeu com a máfia portuguesa. 

— O q-quê? 

— Eles estavam em uma operação contra máfia, essa coisa toda que o FBI faz.

— FBI? — estou cada vez mais confusa. 

— Uau, você sabe menos do que eu imaginava. Seu pai não contou qual era o trabalho dele?

— Ele era apenas um policial na delegacia de San Francisco.

— Não, ele trabalhava no FBI com meu pai. Eles tentam destruir a máfia há anos e mandaram papai se infiltrar. Demoraria anos para ele ter acesso a informações realmente importantes, mas imagino que ninguém estava com pressa. Ele estava em uma posição considerável quando quase foi descoberto.

— O que ele fez?

— Não sei o que exatamente, mas a máfia não deixou barato. Foram atrás dele naquele dia em que me esfaquearam mas como ele não estava apenas deixaram um recado. Depois de um tempo conseguiu se reestabelecer mesmo que tenha perdido a confiança de muitos. 

— Imagino que algo tenha acontecido depois disso, já que estamos aqui. 

— Por um tempo tudo deu certo, até mandaram seu pai se infiltrar também. Peter Adams e Richard Davis eram uma boa dupla, trabalhando ali e vazando informações que poderiam acabar com uma máfia que cometia crimes há muitos anos. Aí seu pai foi descoberto, dessa vez pra valer. A máfia incendiou sua casa e tudo mais. Não imaginavam que Peter teria conseguido fugir e...

— Ele não conseguiu, Selena. — interrompo com voz triste. 

— Ah, você não sabe disso também. Ele sobreviveu, mas se afastou de vocês para se esconder. Se não soubessem que ele estava vivo, vocês poderiam viver uma vida normal. No fim não adiantou, pois acabaram o encontrando algumas semanas atrás. Peter achou que se safaria revelando que papai também era policial, mas pretendiam matar ele de qualquer forma. Por sorte conseguiu fugir, de novo. Meu pai fugiu a tempo, mas me deixou pra trás. Imagino que tenham nos sequestrado para tentar atraí-los, então somos iscas. É basicamente tudo que sei, porém foi bem difícil descobrir. 

Eu continuo em silêncio mesmo depois que Selena se cala. São informações demais, tento acalmar minha respiração e pensar no que fazer.

— Nós vamos morrer? Eu, você, nossos pais... Vamos todos morrer?

— Eu não sei, Lane. Estou cansada de tentar imaginar o que acontecerá. 

Ficamos em silêncio. Eu continuo sentada no chão frio durante algum tempo, tentando me controlar. Ainda não assimilei tudo, mas sei que preciso dar um jeito de sair daqui e vou precisar de Selena para fazer alguma coisa. Me viro para ela, que ainda está encolhida no canto.

— Onde nós estamos? — pergunto. 

— Em algum lugar entre Portugal e França. 

— Eles trouxeram você dos Estados Unidos até aqui? 

— Eu fui a Paris, não se lembra? De qualquer forma, do que adianta saber onde estamos?

— Você pretende ficar aqui para sempre? Eu vou tentar sair de todas as formas possíveis.

— Eu já tentei, Lane, não tem saída. Isso aqui é a máfia, eles não cometem erros.

Eu me levanto da maneira menos desajeitada que consigo e ando até ela me sentando ao seu lado.

— Todos cometem erros. — digo tentando parecer firme e falhando quando minha voz treme. Selena dá uma risada irônica.  

— Eles não. Tem seguranças vigiando esse lugar o tempo todo e eles só abrem a porta para entregar comida. A única iluminação é a luz do sol que entra pelos buracos no telhado. Não tem um único móvel aqui. Até tem um banheiro mas lá dentro não tem nada além do vaso, do chuveiro e uma pilha de roupas velhas. Nada mais que isso nesse galpão enorme. 

— Bom, isso é muito ruim. — respondo. 

— Eu sei. 

Me encosto na parede e fecho os olhos. Não posso pensar muito no que exatamente está acontecendo, então tento lembrar os passos de balé que iria apresentar hoje. De vez em quando me vejo sendo levada para outros pensamentos mas logo trato de esquece-los. Não tento conversar com Selena e em algum momento sou vencida pelo sono.