Capítulo 34 - Katherine Cárter

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Abri os olhos. Nunca foi tão difícil despertar, me acostumar com a pouca claridade do local. Sinto a maciez por baixo de mim, algo fofo. Reviro um pouco no local. Nunca amei tanto uma cama como agora. Assim que estou completamente desperta  percebo o quarto de cores claras e janelas com cortinas abertas. Bem diferente daquela casa velha caindo aos pedaços. Percebo que não estou mas amarrada. Olho os meus pulsos e vejo que eles se encontram vermelhos, quase na carne viva por causa das cordas que ficaram amarradas ali durante muito tempo.

Eu não lembro de nada que aconteceu e nem como eu vim parar aqui nesse quarto. A última coisa que eu me recordo foi o homem grandão jogando água por todo o meu rosto, fazendo com que eu me contorcesse bastante. Já estava fraca, então apaguei. Eu pensei que seria o meu fim, mas pelo visto não foi. Eu só preciso saber agora onde estou e quem foi que me tirou de lá. Não estou 100% certa que fui salva, porém eu prefiro pensar que eu tive muita sorte e alguém me encontrou. Só me resta saber quem foi.

Me levanto da cama sentindo uma leve tontura, o que me faz parar e respirar fundo. Isso me lembra que eu não tinha comido nada desde meu "passeio" e é por isso que estou tão fraca. Preciso me alimentar mas não sei nem onde estou. Caminhando devagar e avaliando o quarto, vou em direção a porta e saio. Olho para os dois lado de um corredor, que também são de cores claras.  Há mais portas, provavelmente contendo mais quartos. Observo todo o caminho até chegar na ponta da escada. Olho para baixo. Tudo está bem silencioso por aqui. Vou descendo por ela bem devagar, já que preciso encontrar alguém, qualquer pessoa que me explique o que aconteceu exatamente. Quando termino de descer a escadaria a encontro, de costas para mim. Posso ter visto ela só uma vez porém os cabelos ruivos e cacheados são inconfundíveis. Com certeza seria Liv. Para tirar todas as minhas dúvidas a chamo.

— Liv? — ela vira pra mim assim que ouve minha voz.

— Ah, não era pra ter levantado. Já estava preparando algo para você. Iria te acorda. — diz ela, assim que me vê.

— Desculpa, mas será que você pode ne explicar o que aconteceu? — falo, logo acrescentando: — Eu tenho muitas perguntas mas antes vou aceitar a comida.

— Ah, claro. — ela diz meio sem jeito — É, você tem todo direito de perguntar, hm... Mas antes vamos comer, também estou com fome. — vai em direção a uma salinha e liga a televisão, pegando o controle e sentando no sofá, relaxada. Põe as coisas todas na mesinha. Olho em volta. A casa é grande mas de aparência simples. Na verdade é muito grande pelo que vi só lá em cima. Me viro novamente para o sofá e Liv me olha — Pode me fazer companhia, se quiser. — sorri e eu não perco tempo, vou logo em sua direção, sentando ao seu lado me servindo de tudo um pouco.

Como em silêncio. Eu realmente estava faminta. Fico assistindo a TV a minha frente sem saber por onde começar aquela conversa. Assim que vejo que ela terminou de comer, faço uma breve nota mental do que eu tinha que perguntar primeiro.

— É... como você me encontrou? — pergunto, achando melhor começar por ali. Ela me olha, parece pensar.

— Ah, essa é fácil. Você mandou mensagem. — ela sorri, mas seu sorriso não chega aos olhos. Sei que tem algo mais, mas se deve ficar só pra ela provavelmente não seria algo que me agradaria.

— Os homens que estavam comigo me fizeram algumas perguntas sobre você, o que eu achei muita loucura, me procurarem pra isso. Nós mal nos conhecemos. — falo e abaixo a cabeça, porque sinceramente eu tenho um pouco de receio de saber o que exatamente ela esconde e porque estão a procurando, mas eu preciso entender tudo isso.

A minha vida deu um salto muito grande em muito pouco tempo. Se eu soubesse que ajudar uma pessoa iria me levar a ser sequestrada, provavelmente não me meteria nisso. Porém eu não conseguiria simplesmente ver uma pessoa precisando de ajuda e ignorar como se nada tivesse acontecido. O meu lado emocional não me deixaria fazer isso. Eu simplesmente puxei uma desconhecida pra um café e esse foi o gatilho para coisas loucas acontecerem na minha vida. Preciso terminar isso aqui, pegar minhas coisas, ir embora e fingir que nada disso aconteceu. Mas de qualquer forma eu nunca esqueceria.

— Ei, Katherine, não fique assim... — ela diz. Seus olhos transmitem compaixão e logo percebo o por que. Lágrimas silenciosas escorrem por meu rosto sem que eu sequer tenha notado — Olha, eu tô aqui e Damon também. Sei que deve ser difícil passar por isso, mesmo que eu nunca tenha passado. — para de falar. Parece pensar em algo, mas eu não me atrevo a dizer nada, então espero. — Hm, só saiba que agora você tem a nós e sempre estaremos aqui. No momento eu não posso dizer muita coisa, mas acredito que um dia tudo vai ficar bem, você só precisa acreditar em mim. Eu e Damon vamos fazer de tudo pra te ver bem. Não podemos por sua cara na rua de  novo, então você não vai poder sair sem ter que passar por tudo aquilo de novo. Preciso que fique segura, aqui. Desculpa por isso. Desculpa mesmo, mas vamos tentar resolver tudo e você vai poder ter uma vida, mas no momento você está sobre a nossa proteção. — ela diz tudo de uma vez e a única coisa que consigo focar é em "você não vai poder sair sem ter que passar por tudo aquilo de novo".

Então era isso: eu estava presa sobre a proteção de duas pessoas até então desconhecidas. Por que isso tudo aconteceu comigo? O que eu fiz exatamente? 

— Como... — falei entre soluços — Meus pais, eu... eu preciso falar com eles, eu tenho que dizer que vou ficar bem.

Naquele momento eu não conseguia segurar as lágrimas. Eu só precisava dizer que estava bem, mesmo não estando. Eu só precisava ouvir a voz das duas pessoas que eu mais amo porque, sinceramente, eu não sabia até quando aquilo tudo iria durar.

— Por favor, Liv. Eu só preciso ouvir a voz deles, eu preciso acreditar que vou ficar bem. Ai meu Deus, eu não acredito que tudo isso aconteceu comigo! — ali, sentada em frente a ela, eu desabava desesperadamente. Levei um leve susto quando Liv levanta rapidamente. Segurando os soluços olho em sua direção. Não entendia sua súbita reação, então a chamei — Liv? — ela parece sair de seu transe e da uma rápida olhada em minha direção. Seus olhos não transmitem nada. Estão vazios, frios, parecem... calculistas. Ela vira de costas para mim, andando em direção a escada e parando no primeiro degrau. Olha para o alto da escada e logo depois vira seu rosto, me fitando de lado. Fico um pouco trêmula com seu olhar.

— Sugiro que fique longe dos seus pais. Damon irá arrumar um celular novo e quem sabe você poderá entrar em contato. Fora isso, fique longe de redes sociais. — depois de dizer isso ela simplesmente sobe as escadas, sem nem olhar para trás.

Eu subi de volta pro quarto, fechei a porta e sentei naquele chão com as costas grudadas na parede. Eu estava chorando com as mãos no rosto enquanto tentava secar cada lágrima que escorria.

Não sei quanto tempo fiquei naquela posição mas assim que consegui levantar fui em direção ao banheiro do quarto. Não consegui reparar os detalhes eu estava focada no meu reflexo no espelho. Olhos inchados, o rosto vermelho por causa do choro. Entrei no box e tomei um banho, pegando uma toalha que estava lá. Encontrei roupas limpas no armário. É, parece que eles cuidaram de tudo. Peguei um vestido leve e confortável e fui em direção a janela. Já era noite. Queria saber que horas eram, mas eu me recusava sair daquele quarto. Estava olhando a lua e sentindo o vento frio quando vi de escanteio algo se mexendo. Era Liv. Ela estava arrumada, provavelmente estava saindo pra alguma festa. Pelo menos alguém nessa casa podia sair. Queria chamar por ela, mas levando em conta nossa conversa de mais cedo era melhor não. Fechei as cortinas e voltei pra cama. Eu só precisava dormir e esquecer por um tempo essa bagunça que se tornou a minha vida.

A Máfia Entre NósWhere stories live. Discover now