Capítulo 37 - Lavínia Watson

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Estou com a respiração falha e a visão turva. Nada, não consigo lembrar de nada. Meu corpo 

Estou com a respiração falha, visão turva. Nada, não consigo lembrar de nada. Meu corpo está dolorido, gelado e pesado. Tenho certeza que está saindo aquele ar branco de minha boca, estou com frio. Tento suspender a cabeça, mas ela dói. Sinto algo seco por meu nariz. O cheiro forte do sangue. Sinto o frio por meus pés e me encolho. Tento raciocinar o que se passa ao redor, mas ouço apenas buzinas e barulhos de carros. Um gemido de dor sai por entre meus dentes, cortante pela garganta. Minha boca está seca, preciso de água. Tento outra vez me recorda do que aconteceu. Tudo passa como um flash em pensamentos. A saída, a bebedeira.

A fuga de casa, a rasteira nos seguranças. A briga na boate, os seguranças nos expulsando, o beco. Aqueles homens. Estava muito bêbada pra conseguir dar conta de todos. Os socos em minha costela, em meu rosto, os chutes. As roupas...

Arregalo os olhos ao lembrar. Por impulso forço minha cabeça percebendo que o chão está gelado e solto outro gemido de horror. Meus olhos se enchem de lágrimas as quais não consigo conter.

As lembranças...

Depois de muitos socos e chutes, ouço um abrir de cinto. Tento abrir os olhos mas minha visão está muito embaçada

— Vamos ver se a princesa é tão boa quanto tem a língua afiada — ouço alguém falar, com uma voz grossa quase rouca. Sinto puxarem minha calça e luto para que não a tirem. Levo outro soco no rosto me fazendo cuspir sangue e acabo me engasgado um pouco. Sinto prenderem minhas mãos, minha calça é tirada, minha calcinha é rasgada por mãos brutas. Logo rasgam ao meio minha blusa me deixando exposta, assim como meu sutiã é arrancado de mim. Só consigo pensar em como eu só faço as coisas erradas. Era pra eu estar em casa, na companhia de Damon, mas eu havia rejeitado seu convite de cinema em casa, dizendo que estava cansada e precisava dormir quando na verdade estava arrumando um jeito de sair.

Foi assim quando meus pais morreram, eu sempre faço algo errado

Tento não pensar quando algo desliza entre minhas pernas. Aperto bem os olhos buscando forças pra não sumir de mim. Sinto cada estocada, ouço cada gemido, sinto o peso do homem sobre mim e só consigo derramar lágrimas silenciosas. Eu deveria me erguer e matar cada um deles, mas não consigo. Não tenho forças.

Sinto cada passar de mãos, o gosto de ferro em minha boca, seus lábios passar por cada parte do meu corpo.

Nesse momento, tenho nojo de mim.

Quanto mais eu me lembro, mais eu me encolho. Tento buscar ar, mas não consigo. Tudo está me sufocando, cada lembrança dessa noite que nunca esquecerei.

Forço minha mente a trabalhar. Abro os olhos e foco bem minha vista encontrando um rato a um palmo de distância de mim. Solto outro gemido, mas dessa vez é de susto. Olho tudo em volta. Estou perto de um camburão de lixo bem grande. Há várias sacolas plásticas com conteúdos fedidos ao redor, tudo aqui fede. Tento me levantar, mas estou fraca.

Meus olhos se enchem mais ainda, elaborando algo para sair dessa. Preciso criar forças. Olho mais uma vez, eu preciso sair daqui.

Me ergo usando as mãos. Vejo que minhas calças estão logo ao lado. Sento, respirando fundo. Me arrastando, consigo alcançar minhas calças e percebo que estão úmidas. Provavelmente pegarei um resfriado. Visto ela lentamente, sentindo todo meu corpo se arrepiar de dor, mas mesmo assim continuo. Olho para minha blusa e pego-a, vendo que está rasgada bem no meio. Coloco estilo jaqueta e amarro, escondendo meus seios. Olho para minha bota, mas não tenho forças para colocá-las. Respiro fundo mais uma vez e puxo meu cabelo fazendo um coque bagunçado e tentando parecer firme. Limpo meu rosto com o resto de sutiã que estava no chão, já que preciso parecer apenas alguém que saiu de uma noitada. E que noitada! Busco forças para não chorar mais. Preciso parecer bem.

Uma carona, é só o que preciso.

Me encosto na parede fria, erguendo minhas mãos até ela para me levantar. Pego meus calçados, buscando força para andar. Fecho os olhos e os abro lentamente. A luz ofusca minha visão mas logo vai acostumando de novo. Sinto aquela leve tontura e náuseas. Seguro um pouco a respiração para não vomitar e resolvo que está na hora de sair daqui.

Em passos lentos e muitas dores saio daquele beco olhando para todos os lados, fico parada na calçada. Depois de quase meia hora em pé encostada na parede fria, vejo um carro parando em minha frente e sem notar acabo me encolhendo.

Vejo uma moça sair de dentro do carro, meio desengonçada. Ela me olha bem e depois vem correndo para o meu lado.

— Meu Deus, você está bem? — eu tento sorrir, juro que tento, para mostrar que eu estou bem e que só foi uma noitada, mas tudo que sai da minha boca é um soluço sufocado e lágrimas que preenchem meus olhos. 

— Ah não, venha comigo. — ela pega em meu braço e acabo por soltar um grito de dor — Desculpa, desculpa moça. — ela diz desesperada, enquanto eu só consigo me lembrar de cada minuto do ocorrido. Quando menos percebo já estamos em seu carro que logo ela põe para andar — Vou levar você a um hospital. Ou prefere uma delegacia primeiro? Ah, meu Deus, você precisa dizer alguma coisa! Não sei o que fazer.

Meu olhos estão vagos, só sinto um vazio enorme.

— Apenas me leve para casa. — digo, depois de notar que ela estava esperando que eu falasse.

— Mas... — a corto antes que termine a frase.

— Para casa. Lá eu vou ter toda a ajuda necessária.

Ela fica em silêncio por um tempo e logo depois me pergunta o endereço. Dou todas as instruções e fico perdida em pensamentos. Em como estou tão suja, em como meu corpo não tem nenhum valor, em como estou vazia.

Depois de meia hora vagando, vejo minha casa. Um alívio percorre meu corpo, mas logo fico tensa. Damon. Meu coração se aperta e me encolho no banco quando ela para bem em frente à casa, descendo logo em seguida. Ela dá a volta no carro para abrir a porta e me ajudar a descer. Quando olho para o portão tem vários seguranças saindo por lá e vindo me amparar. Acabo apertando a moça em meus braços, com medo. Dou um passo para trás os fazendo parar e me olhando como se eu fosse um alien. Logo vejo Damon passar pela porta. Seus olhos vão de encontro com os meus e antes que ele chegue perto eu dou mas um passo para trás. Esse  movimento faz com que ele me olhe em dúvida.

— Liv? — fala, cauteloso.

Antes que eu consiga me segurar, vários soluços saem de minha boca, seguidos por lágrimas.

Quando menos percebo, estou nos braços de Damon e acabo me encolhendo mais. As lembranças me batem com mais força e mãos fortes me seguram.

— Não, não, por favor. Não me faça mal. — digo fechando os olhos. Sinto Damon me apertar um pouco mais. Não consigo focar nele, só em todas as lembranças.

— Sou eu, Liv, o Damon. — ele me pega em seu colo. Me agarro em seus braços, querendo me livrar da noite passada. — Eu estou aqui agora. Eu vou cuidar de você. — ouço ele falando em meu ouvido e tudo que consigo ouvir são os gemidos daquele a quem ousou me tocar, aquela voz... Antes que eu pense mais, sou pega por uma escuridão.

 Antes que eu pense mais, sou pega por uma escuridão

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