Capítulo 22 - Lane Claire

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Oito meses se passaram. É, ainda estamos em Paris. É incrível como nossa vida mudou drasticamente. Um ano atrás eu estava morando nos Estados Unidos, feliz e com a vida planejada. Agora estou na França, tentando me adaptar ao mundo a minha volta e ao meu novo eu.

O governo norte-americano conseguiu uma vaga pra mim em uma das melhores academias de dança de Paris, quando terminei o curso de balé. Além disso, o governo também deu empregos a minha mãe e minha irmã, formadas, respectivamente, em Letras e Design Gráfico. Brian entrou pra faculdade de Antropologia e parece estar indo bem. Na verdade, todos parecem estar indo bem. Estamos tentando nos recuperar, cada um de seu modo. Mas não é fácil assim. Não se esquece alguém que se ama.

Estamos em agosto, então é verão. Eu geralmente não gosto de verão, mas estamos em Paris e aqui é sempre lindo. Nesse momento estou em uma das salas vazias da academia, ensaiando sozinha para a apresentação da semana que vem. De olhos fechados, pulo no ar. Escuto um barulho alto e abro os olhos rapidamente, me assustando e caindo.

— Me desculpe, eu não queria te assustar... Você está bem? — diz o motivo do meu susto, deixando no chão o objeto em que esbarrou e vindo em minha direção. É um garoto com mais ou menos a minha idade, talvez mais. Tem os cabelos castanhos, os olhos azuis e está usando uma camiseta vermelha escuro e calça jeans.

— Não tem problema, eu é que devia estar mais atenta. — respondo com um sorriso amarelo.

— Ei, você não é aquela garota americana que perdeu toda a família em um incêndio? — qualquer indício de sorriso se apaga do meu rosto no mesmo instante. Ele parece perceber pois arregala os olhos e continua: — Ai, me desculpe pela indelicadeza, não foi a intenção.

— Tecnicamente, não foi toda a família. Meus irmãos, minha mãe e meu sobrinho ainda estão vivos.

— Realmente me desculpe, eu não sou bom com palavras. Meu nome é Antoine, prazer em conhecê-la. — ele ergue a mão em minha direção.

— Prazer em conhecê-lo também. Acho que você já sabe meu nome, aliás, boa parte de Paris e de San Francisco sabe. Não acredito que tentaram lucrar, aumentando o turismo, com o fato de minha família tentar recomeçar a vida aqui. — faço uma pausa, pensando no que dizer — Você estuda aqui, Antoine?

— Não, não. Eu trabalho aqui, limpando o lugar. — ele parece um pouco desconfortável ao dizer isso, então resolvo não comentar nada — Eu já vou sair, desculpe por atrapalhar.

— Não atrapalhou. — ele ergue as sobrancelhas e vejo o resquício de um sorriso em seu rosto — Quer dizer, não atrapalhou muito. E também não precisa pedir desculpas por tudo que faz. — eu dou um pequeno sorriso e ele retribui, saindo.

Depois de ensaiar quase o dia todo, resolvo ir para casa. Troquei a roupa, peguei minhas coisas e saí da sala. Quando estava na portaria, ouvi alguém chamando meu nome.

— Lane! — me virei e vi o garoto de mais cedo, Antoine. Acenei e ele se aproximou. — Você já vai?

— Sim.

— Quer uma carona? Ou alguém vem te buscar?

— Não precisa, eu vou andando, é aqui perto.

— Certeza? Eu posso te acompanhar também, se quiser.

— Eu não quero atrapalhar. — na verdade eu não queria sair por aí andando com um desconhecido.

— Não atrapalha, inclusive eu já vou ir também. Não quer ir na minha moto? — eu apertei os lábios ao ouvir essa pergunta. Ele parece perceber meu desconforto — Oh, eu não estou te forçando. Me desculpe se pareceu isso.

— Não, não. Você só está sendo gentil. Eu sou muito desconfiada, esse é o problema. Mas se não te atrapalha, tudo bem. Vamos lá. — eu começo a andar com passos lentos — Andando, se puder. Gosto de caminhar aqui.

Ele sorri e começa a andar ao meu lado.

— Eu esqueci de dizer mais cedo o quanto você dança bem. Foi realmente um espetáculo o seu ensaio mais cedo, pena que eu interrompi.

— Obrigada. — eu falo, corando. Ele sorri.

— Como vai sua família? Não há mais nenhuma notícia de vocês, pensei que haviam se mudado. Sabe, voltado para América.

— Estão bem, se recuperando como podem. Acho que já não é mais importante para o povo essa nossa recuperação. — não sei o motivo, mas decidi contar mais — Minha mãe ainda chora às vezes mas não tanto quanto antes, ela gosta daqui. Minha irmã se distrai com o trabalho e com meu sobrinho, filho dela. Meu irmão também tenta se distrair com a faculdade e alguns cursinhos, mas sei que todos sentem falta.

— Mas e você? O que você sente quanto a isso tudo? — a pergunta me surpreende, ainda mais porque ele parece dizer algo normal, pois não muda o semblante. Durante todo esse tempo, ninguém perguntou como EU estava, sempre foi como NÓS estávamos. Parei de andar. Ele para também e me observa.

— Eu... Eu não sei. Acho que estou bem.

— Tem certeza? Você parece abalada. — ele continua me olhando, esperando uma resposta que não vem.

Ficamos um tempo assim, parados, ele me olhando e eu olhando o chão, até que eu começo a chorar. Não é um choro desesperado, são apenas lágrimas.

— Ai, eu não queria fazer você chorar. O que... Você quer que eu... Tipo, devo te abraçar? Acho que você precisa. Ou talvez seja melhor não, talvez você não se sinta confortável. É... Eu sou péssimo com palavras. — ele fala, gaguejando um pouco. Eu solto uma risadinha e o abraço.

Então ele me abraça. É reconfortante receber um abraço sincero, alguém que não passou pelo mesmo que você mas quer entender sua dor. Eu me aconchego mais nos braços dele, mesmo que não o conheça tão bem. É bom abraço. Na verdade, eu precisava mesmo de um ombro amigo.

[...]

Parece que Lane tem um novo amigo. Para quem perdeu "tudo", é necessário. Continuem CONECTADOS.

A Máfia Entre NósWhere stories live. Discover now