Capítulo 30 - Damon Stuart

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— Liv, precisa sair desse quarto. — digo depois de bater, já é a décima vez que bato nessa porta, hoje. Desde essa manhã ela anda estranha.

— Aff, custa me deixa em paz pelo menos hoje, merda. — escuto ela resmungar brava.

Logo estranho essa atitude. Reviro os olhos, já imaginando. Seria demais sair agora? Decido que é melhor eu ir logo, não adianta bater boca com ela. Desço as escadas às pressa, passo rápido pela banca, só para pegar a chave do carro.

Saio deixando ordens claras para ficarem longe de Liv e atentos a qualquer movimento ao redor. É sempre bom se manter atento a tudo. Conduzo o carro na direção que tenho que ir, supermercado. Lá tem o que preciso, compra da semana.

Seguindo pelas ruas estreitas de Alfama, presto atenção em cada detalhe, pensando em como nossa vinda para cá vai tirar essa calmaria que tanto reina aqui. Mas meus pensamentos voltam a outra direção, Liv. Ela é nova, já sofreu tanta coisa, mas sempre foi forte. Lidando com tudo de frente, desde quando a conheci, quando eu era um menino. Mesmo que não se lembre, a peguei no colo, sabia que um dia ela seria uma responsabilidade minha. Lembro de como seus olhos ficaram perdido nos meus, era a coisa mais linda que eu já tinha visto, estava fascinado, mas não poderia ficar perto por muito tempo. Tive que ir. Tempos depois, lá estava eu, atrás de uma criança que não sabia receber um não como resposta, totalmente mimada. Liv era a perfeição. Conheço cada passo que deu, cada joelho ralado. Eu a conheci, ela me esqueceu.

Aperto cada vez mais o volante, em frente ao supermercado, respiro um pouco. Liv não tinha como saber, só participei da vida dela depois dos onze anos. Adorável como um espinho. Sempre quis ser dona de si, dizia que sabia melhor que ninguém o que fazer em qualquer situação. Ela era a perfeição em forma de cactos. Vi quando deu seu primeiro beijo, aquilo doeu, mas sabia qual era meu lugar. Vi quando fugiu naquela noite, mas estava cansado de lidar com seus problemas, cansado de presenciar cenas em que não fazia noção do quanto machucava, hoje em dia dói menos. Aquela noite eu quis fugir, queria parar todo meu trabalho, eu estava fascinado por uma garotinha que não tinha nem idade para namorar, quando voltei para sua casa, sabendo onde ela estava, não esperava ser recebido por toda aquela bagunça, muito menos com Lavínia apontando uma arma para sua própria cabeça. Fui pego desprevenido, ver aquilo me tirou qualquer sanidade. Estava desesperado. Eu perdi meu autocontrole, foi um alívio vê-la desmaiada, mas isso me atormenta até hoje.

Depois de perder seus pais, Liv não ficou isolada, na verdade ela quem veio atrás de mim para ser treinada, eu nunca a abandonaria, mas não estava em meus planos treiná-la. Eu sempre seria dela. 

Com os pensamentos na garota, me lembro da noite passada. Estávamos tão perto, tão alheios ao que acontecia ao redor. A ruiva estava tão cansada que adormeceu no sofá, não queria agredi-la naquele dia, só queria mostra-la que não sabe se cuidar sozinha, que mesmo não percebendo, precisa de ajuda sempre. Saí para desestressar, passei o dia todo dirigindo sem rumo. Lavínia me tirava do sério com toda aquela confiança. Mas depois me senti péssimo por aquilo. Sentir a respiração dela próxima da minha era muito bom, aqueles olhos vidrados nos meus. Me dava um sentimento de estar no lugar certo, na hora certa e me sentia em casa. Ela se tornou meu lar, mesmo não notando. 

Empurro esses pensamentos para longe e saio do carro, vamos às compras. Fico atento aos preços. Os seguranças poderiam fazer isso por mim, mas gosto de selecionar bem as coisas. Antes de ir pro caixa, passo em outra área que não me agrada muito.

— Intimus é melhor. — ouço alguém falar perto de mim. Me viro para observa a moça desconhecida. Morena, cabelos cacheados, corpo padrão, cintura fina, está vestida com uma blusa simples colada, uma calça solta, deixando a imagem de suas pernas para imaginação.

A Máfia Entre NósTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang