Capítulo 61 - Antoine Clément

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Foi incrivelmente bom... O melhor beijo de todos. Não que eu tivesse testado muitos beijos, mas não parecia ser possível existir um beijo melhor que aquele. Eu ainda sentia os lábios dela nos meus, mesmo depois de chegar ao meu lugar na plateia.

— Antoine está sorrindo feito um bobo, papai, você me deve dez euros! — diz Eloise.

— Droga! Eu nunca mais aposto com essa garota. Dava pelo menos pra fingir que não foi ver sua garota, Antoine? — papai finge estar bravo, mas consigo ver o sorriso escondido por trás das palavras.

— Ela não é minha garota. — faço uma pausa, estreitando os olhos e olhando para eles, já sentado— E vocês não deveriam apostar coisas sobre mim.

— Acabo de perceber isso. — papai fala, soltando uma risadinha — Perdi 10 euros por acreditar demais no meu próprio filho! A desculpa de ir ao banheiro é a mais velha de todas, eu devia saber. 

— Você a beijou? — pergunta Eloise, se inclinando para bem perto de mim. Eu me esquivei de seu olhar, sentindo meu rosto esquentar — Você a beijou! Você realmente a beijou! — ela parece bem animada com a descoberta.

— Fica quieta, Eloise. — falo, provavelmente com o rosto mais vermelho ainda.

— Agora você me deve quinze euros! — ela diz, se voltando para papai.

— Eu não devia duvidar tanto da impulsividade desses jovens... — diz papai.

— Vamos só parar de falar sobre isso, ok?! — eu digo.

— Ok, senhor "beijei a garota e agora estou com vergonha". — zomba Eloise. Papai dá risada.

— Pra sua informação foi ela quem me beijou. E eu não estou com vergonha, só não quero falar disso agora. Foi só um beijo, tá bom?

Eu não esperava por um beijo, na verdade. Desde o primeiro dia soube que não tinha chances. Quer dizer, eu pensei que não tivesse. Como é que eu, um simples faxineiro tentando pagar todas as contas com seu precário salário mínimo, teria chances com a garota mais incrível e linda de todas?

— Claro, se dependesse de você nada aconteceria. Ainda bem que tem essa coisa de ser desastrado, se não ela nunca perceberia que já estava sendo observada a muito tempo. Sabia que você é a pessoa mais tímida e estranha que eu já conheci, Antoine? Parece coisa de psicopata isso de observar garotas conversarem sozinhas. Você deveria ser mais espontâneo como eu. Nem acredito que somos irmãos.

— Nem eu, Eloise, nem eu. Acho que... — parei de falar sendo interrompido por uma voz que disse meu nome.

— Antoine? — me viro e percebo que é Luna, a irmã de Lane — Você sabe onde está minha irmã? Ela sumiu e a apresentação já vai começar e... nós estamos tão... — ela é interrompida pelo próprio choro. Eu me levanto rapidamente preocupado. Eu acabei de me encontrar com ela, nós nos beijamos. Não é possível.

[...]

Era possível. Hoje faz exatamente três semanas e quatro dias que Lane está desaparecida. Desde aquele dia não temos uma informação sequer sobre ela. Sumiu, desapareceu, evaporou sem deixar nenhuma pista. A única coisa que sabemos é o que a última pessoa que falou com ela disse.

— Eu estava andando pelo corredor fazendo o meu trabalho quando alguém me parou, um homem com mais ou menos 30 anos vestido com as roupas adequadas para assistir a um espetáculo de dança e pediu que eu chamasse Lane Claire Adams, disse que era muito importante e que não demoraria. Eu poderia fazer aquilo, então a chamei. Ela foi, me dizendo que estaria no palco em alguns minutos. É tudo que sei.

A polícia está investigando, mas não sabemos de nada ainda. Tenho tentado descobrir e lembrar algumas coisas sobre aquela noite que podem ser importantes, mas eu estava atordoado demais com o beijo para reparar em outras coisas ao meu redor. Vou todos os dias até a casa de Lane, tentar confortar a família e descobrir se a polícia passou alguma informação. A senhora Adams está cada dia mais desesperada e triste. Os irmãos, Brian e Luna, tentam continuar fortes, pela mãe, mas tem sido muito difícil para eles também, eu consigo ver. Na verdade, tem sido difícil para todos. Até meu pai e minha irmã têm sofrido com isso, já que eu não penso em outra coisa. Me sinto tão culpado... Se eu tivesse demorado um pouco mais talvez Lane ainda estivesse aqui.

Agora a única coisa que importa é onde ela está, como ela está e com quem ela está. Eu só quero que ela esteja viva. Por favor, Lane, fique viva, seja forte. Nós vamos encontrá-la, eu me recuso a perder as esperanças. Eu ainda beijarei Lane Claire Adams novamente.


A Máfia Entre NósOnde as histórias ganham vida. Descobre agora