Capítulo 68 - Fabíola Hadassa

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Quando Thomas terminou de me contar tudo o que tinha acontecido com ele, eu já estava com lágrimas nos olhos, ainda mais sabendo o motivo pelo qual está na mira desse Santiago. Me dá raiva, ódio, medo, tudo ao mesmo tempo.

Passei vinte e dois anos sendo torturada por algo que não tinha culpa, sendo odiada por meu pai sem motivo, quando decido mudar de vida e de país, pensando que tudo ia ser diferente, as coisas voltam a complicar. Não sei mais o que fazer, não posso nem sair da casa dele porque minha vida esta correndo perigo.
E o pior é que ficando aqui também coloco o em risco. Meu Deus, preciso de uma saída!

 Logo sou interrompida dos meu pensamento por Thomas me chamando.

— Hadassa!

— Oi?

— Você está bem?

— Pra ser sincera estou com um sentimento estranho aqui dentro que não consigo nem descrever, só sei que bem eu não estou.

— Mas você vai ficar, pode ter certeza.

— Eu espero que sim, Thomas. Sabe o que eu realmente queria nesse momento?

— Não, mas me fale. Talvez eu posso te ajudar.

— Apenas um abraço bem forte, dizendo que isso tudo vai passar e que eu vou ficar bem.

— Não sei de quem você gostaria de receber o abraço, mas como não há mais ninguém aqui, eu posso fazer isso. Se você permitir, claro.

Nem precisou que eu respondesse em palavras, com um simples olhar ele entendeu e me deu um abraço bem forte e gostoso que eu pensei em morar ali mesmo, em seu braços. Toda vez que ele me abraça é como se o mundo parasse, como se só existisse eu e ele, presos em um mundo só nosso.

Aquele foi um abraço bem demorado. Assim que me solta, ele começa a olhar no fundo dos meus olhos, como se tentasse desvendar o que se passava por trás deles. Não sei porque ele gosta tanto de fazer isso, acho que é um jeito dele obter a resposta correta. Me sinto como um peixe fora d'água, uma menininha indefesa que precisa de seu cuidados. Sua respiração cada vez mais perto, seus lábios parecendo clamar por um beijo meu e tenho certeza que os meus clamavam por um beijo dele. 

Quanto mais eu tentava resistir a vontade, mais forte ela ficava, até que ele começou uma carícia em meu rosto e levou aquela mão delicada até minha nuca, me puxando para mais perto. Quando percebo meus lábios já estão colados aos seus, em um movimento suave. A realidade era muito melhor que os meus sonhos, seus lábios eram tão macios, seu toque delicado e o calor do seu corpo colado ao meu estava me deixando louca. Se tivéssemos ligado o cronômetro, daria para perceber que aquele beijo durou uns três minutos, mas a verdade é que eu não queria que acabasse.

— Obrigada. — digo a ele.

— Obrigada pelo que?

— Pela calmaria que você me trouxe... Você conseguiu alegrar a minha noite.

— Não precisa agradecer. Você alegra os meus dias desde que te conheci naquele aeroporto. Eu posso alegrar não só a sua noite mas também todos os seus dias, só depende de você.

— Você já tem a minha permissão.

— Sério?

— Claro que sim.

— Hadassa posso te fazer uma pergunta? — ele pergunta e eu faço que sim.

— Eu sei que nos conhecemos a pouco tempo e que nossos encontros não foram uns dos melhores, mas juro que queria dizer isso desde o primeiro dia que te vi. Iria fazer no jantar, mas me acovardei novamente. Parece loucura o que eu vou dizer, mas se isso realmente for loucura, eu sou um louco, louco por você. 

Quando Thomas fala aquilo meu coração acelera. No fundo eu sabia o que ele ia pedir, mas tinha medo da minha resposta. Mesmo assim eu não interrompi e deixei ele terminar.

— Fabiola Hadassa, você aceita namorar comigo? 

Quando eu dizia que tinha um amigo, meu pai sempre retrucava, dizendo algo como "você pode conhecer a pessoa a cem anos ainda assim não saberá tudo sobre ele, cada nova descoberta será uma surpresa". Eu não me importo com isso, não me importo se conheço ele a um dia, uma semana ou até mesmo a um mês... Quem sou eu pra o julgar? Até porque "quem tem telhado de vidro não atira pedra no telhado dos outros".

Não me importo com o passado pois todos temos um passado complicado ou até mesmo sujo, porém se chama PASSADO, então ficou para trás. O que importa é o presente e o futuro que vamos escrever daqui pra frente. Olho para Thomas e ele já está vermelho pela demora da resposta.

— Hadassa, eu ainda estou aguardando a sua resposta.

— Sim, Thomas, eu aceito. — um sorriso escapa dos meus lábios assim que o vejo suspirar, fazendo ele sorrir também.

— Que alívio, eu estava com medo de levar fora.

Dessa vez foi eu que tomei a atitude e o beijei.

— Eu sempre vou estar com você, Hadassa, mesmo você não estando comigo.

— Hã...? Não entendi.

— Quando a gente ama alguém de verdade, queremos sempre o bem dessa pessoa, independente se o bem dela é estar com outro. Então não importa quem vai estar ao seu lado, só quero estar por perto e me certificar que você esteja bem.

— Não se preocupe, o meu bem é ficar do seu lado. Como eu sempre digo, não entendemos o trabalhar do Senhor, ele permite a tempestade em nossa vida e depois manda a calmaria pra nos mostrar que em nenhum momento eles nos abandona ou nos deixa só. Você é a minha calmaria em meio a tempestade, Thomas. Não conheço mais ninguém aqui, a não ser menina que vi, a Kathe, mas até hoje não sei o destino dela. Sinto que alguma coisa aconteceu com ela, não tem lógica alguém sumir sem deixar vestígio.

— Mas você tentou entrar em contato com ela, ligou ou foi na casa dela?

— Ela deixou o contato dela comigo, mas quando ligo só da caixa postal. Até conseguir achar o hotel que ela ficava, porém a recepcionista me disse que ela sumiu e nem as suas coisas ela voltou para buscar.

— Nossa, que estranho. Como uma pessoa desaparece assim?

— Não sei, algo me diz que ela não sumiu por vontade própria. Tem algo por trás disso e eu vou descobrir, você vai ver.

— Como você vai descobrir, Hadassa, se você não faz ideia de onde ela está?

— Ainda não sei como. Só sei que eu vou descobrir, mas enquanto isso vou continuar orando por ela.

— Acho tão bonito o jeito de você falar, o jeito que se veste, que anda... você tem um brilho diferente em seus olhos. E fala de Deus com um amor enorme.

— Como não falar do criador com um amor enorme? Talvez as minhas "diferenças" sejam por ser Evangélica.

— Nossa, que legal. A minha vó também, às vezes eu até ia pra igreja com ela.

— E você, por que não é?

— É impossível ser evangélico com o trabalho que tenho. Na verdade, não consigo nem entender porque Deus permitiu isso para mim. Quem sabe um dia, porque pode ter certeza estar na mira do Santiago não é nada bom. Ele não vai nos deixar em paz por nenhum dia, ele não sossega enquanto não consegue o que ele quer.

— Deus permite certas situações que no momento não entendemos, mas com o tempo iremos entender.

— Hum... O nosso problema agora é o Santiago.

— Meu Deus, por um momento tinha esquecido desse tal Santiago e dessa provação toda que estamos passando por causa do meu irmão. Que vontade de matar ele!

— Calma, Hadassa, nós vamos achar uma saída. Enquanto isso não acontece vamos aproveitar a nossa noite um pouco mais.

— Vamos sim, esse sofá já esta me deixando desconfortável.

— Está desconfortável mesmo, vamos subir para o quarto.

Subimos as escadas de mãos dadas, Thomas abre uma porta que me leva para outro corredor maior ainda, que eu nem sabia que existia. Paramos em frente a outra porta que provavelmente é a de seu quarto.

— Está pronta pra conhecer o meu quarto? — ele fala, olhando nos meus olhos.

A Máfia Entre NósWhere stories live. Discover now