A Máfia Entre Nós

Capítulo 24 - Lane Claire

Ontem, depois de chorar abraçada a Antoine — o que, devo admitir, foi humilhante — nós continuamos andando em silêncio. Ao chegar na minha casa, ele perguntou, desajeitadamente, se poderia me dar outro abraço. Eu respondi que sim, mas já um pouco arrependida de ter dado tanta intimidade a um estranho.

— Lane? — Brian me chama — O que você acha? — ele espera uma resposta para uma pergunta que eu nem mesmo ouvi. É de manhã e nós estamos na mesa, tomando café da manhã, apenas eu e ele já que mamãe e Luna foram caminhar. Geralmente eu caminho com elas, mas hoje não quis ir.

— Desculpe, eu estava distraída. O que você disse?

— Não achava que isso acontecesse de verdade. Quer dizer, não parece cena de filme essa coisa de não ouvir o que a outra pessoa diz porque está distraída? Você realmente não me ouviu?

— Sim, parece coisa de filme e eu realmente não te ouvi. Você pode não fugir do assunto assim de repente?

— Não tem assunto, eu só estava tentando conversar. Ontem a tarde você chegou com o rosto e os olhos vermelhos, não quis conversar e se trancou no quarto. Hoje você acorda como se tivesse se mudado para o mundo da lua. — ele me olha, esperando por explicações.

— Eu só preciso de um tempo, ok? Durante todos esses meses aqui eu não tive um momento sequer em que pudesse pensar em mim sem parecer egoísta. Eu achei que agora que estão todos seguindo em frente eu poderia tentar me curar. — ele franze a testa, confuso.

— Espera aí. Você está dizendo isso mesmo? Todos nós passamos pelo mesmo, Lane. Você acha que foi a única que não teve "seu tempo"? Eu preciso te dizer que a mamãe ainda chora toda noite? Que a Luna se esconde no banheiro quando sente que vai ter uma crise de pânico? Que toda vez que Joe diz "vovô" todos nós sentimos que vamos desabar, não só você? Lane, não é só você que sofreu. E eu sei que você sabe disso. Eu sei que você está do nosso lado esse tempo todo e que tenta parecer forte mesmo com tudo isso. Eu sei que você precisa de um tempo porque sente que é a única que ainda não começou sua recuperação, mas, se você quer saber, ninguém se recuperou totalmente, e nem vai, de tudo isso. Vai continuar doendo pra sempre. Mas mesmo enquanto procuramos em vão essa recuperação, tendo nosso "tempo", devemos continuar juntos. Só temos uns aos outros agora e devemos nos apoiar. Você entende? Converse com a gente quando precisar, fique sozinha quando precisar, mas não deixe de dizer pra gente o que você escolheu. Quando quiser um tempo, fale. Quando quiser conversar, fale. Quando for se calar, nos conte antes. Não se destrua sem pedir ajuda. Só você ainda precisa desse discurso e eu sei que não faz isso por mal. Eu quero seu bem, assim como quero que a mamãe se recupere totalmente e que a Luna consiga não ter mais as crises. Tudo bem se precisa do seu tempo, apenas não diga que "só você não teve isso", porque não é verdade. Todos nós paramos nossos mundos para tentar segurar o dos outros e me desculpe por ser eu a estar te dizendo essas palavras. Se precisa, seja egoísta o quanto quiser. Acho que esse é o momento em que todos seremos.

Eu o observo por alguns minutos e então simplesmente o abraço. Eu não poderia ter um irmão melhor: um irmão que dá sermão e ao mesmo tempo está sempre ali.

[...]

Chego na academia depois daquele longo café da manhã. Me sinto nervosa por pensar que posso encontrar Antoine novamente, acho que seria estranho.

Me distraio e acabo entrando na sala errada. Volto a ficar nervosa assim que vejo que não é uma sala vazia. O chão está molhado, enquanto duas pessoas o esfregam. Percebo que uma delas é Antoine. Ele também me vê e sorri.