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- Senhor Deus, me perdoe por pecar. - um sussurro deixa minha garganta. - Me perdoe por ter bebido ontem, por ter frequentado aquela festa e por ter jogado. Me perdoe por ter tido pensamentos pecaminosos lá.

Faço uma pausa, tentando me recordar de mais algo que eu tenha feito que deixaria Deus desapontado.

São muitas coisas.

- Me perdoe por ter vestido aquela camiseta marcando meus peitos...me perdoe por ter deixado ela me desvirtuar. - sussurro mais baixo a última frase, tomando cuidado para que "ela" não escute. - Cuide do meu pai lá em Blanco. Que ele esteja bem. Amém. - Encerro meu pedido de desculpas, abrindo um dos olhos para checar em volta.

Tudo parece silencioso e tranquilo, como eu encontrei quando acordei de manhã. E por incrível que pareça até Madelyne parece tranquila, dormindo profundamente em sua cama há poucos metros de distância da minha. Não foi fácil ajudá-la a se deitar na noite passada, por pouco não tive que dar banho nela. Seria intimidade demais, nós só temos 24 horas de convivência, nem meu pai e eu éramos tão íntimos para chegarmos a esse ponto. Graças a Deus.

- Ah, cuide da Madelyne também - eu retorno a oração. - não dá para eu ter juízo por nós duas, já que vamos ter que conviver juntas daqui para frente. Agora sim, amém.

- Amém. - ela resmunga de cima da sua cama, o som abafado pelo cobertor caro de algodão, como todas as peças de roupas e objetos que ela possui no quarto.

Um nó se forma em minha garganta.

Ela ouviu toda a oração? Por Deus, eu estava sussurrando!

Me contenho o máximo que posso para não me esquecer de respirar. Eu sabia que isso sempre iria acontecer com ela por perto.

- Aahm... você está acordada a muito tempo? - pergunto, como quem não quer nada.

- Não... - sua voz é sonolenta, arrastada como se estivesse embriagada novamente. Mas desta vez é de sono. - eu acordei na parte que você estava implorando para Deus te perdoar por ter se deixado se desvirtuar por "ela". - fecho os olhos, me martirizando mentalmente. - Você não foi obrigada a ir a festa Heaven, podia ter dito não.

Meus olhos se abrem rapidamente, ardendo de raiva. Como assim eu podia ter dito não? E todo o meu protesto para não ir? Ela é mesmo inacreditável.

- Você está brincando, né? - minha raiva é o impulso que uso para me levantar do chão, dando algumas batidinhas nos joelhos da calça jeans. - Não viu na minha cara que eu não queria ir?

- Sinceramente? Não. Você não diz muitas coisas, sabe? Eu fico tentando adivinhar o que você está pensando o tempo todo, como se fossemos Jean Gray e Charles Xavier.

Abro a boca, desacreditada.

- Você conhece os X-Men, né? É um grupo de super heróis e...

- Eu sei quem são os X-Men, Madelyne! - Reviro os olhos. - Você...eu...Ah, esqueça! - desisto de discutir. Expressar minha raiva com palavras não é muito meu forte, não gosto nada de me deixar levar pela ira, não é bom. Para nenhuma das partes seria bom. - Eu vou me arrumar para a aula, você devia fazer o mesmo.

- Por que? - ela desce a coberta que antes escondia seu rosto, me encarando com os olhos semicerrados.

- Por que? - levantado os braços, deixando minhas mãos baterem nas pernas por pura frustração logo depois. - Por que estamos na faculdade e temos aula, Madelyne, por isso.

- Quem disse que eu tenho aula?

Ela me encara fixamente, esperando por uma resposta de minha parte.

HEAVENWo Geschichten leben. Entdecke jetzt