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   Eu nunca fui muito popular em nenhum lugar, exceto a igreja. Era o único lugar em Blanco onde as pessoas não me encaravam com pesar nos olhos, como se ter ficado com meu pai depois de minha mãe ter partido fosse um castigo. Nós éramos aceitos lá, de verdade. E apesar dos sermões do pastor me causarem medo as vezes, eu me sentia bem em pelo menos um lugar da cidade a não ser minha casa.

Eu não me sentia bem na escola.

Não me sentia bem com meus vizinhos, mesmo quando eles me convidavam para jogar beer pong e tentavam ser legais comigo.

Não me sentia bem nos dias dos festivais da Rainha da Lavanda, porque sempre sobrava uma piadinha para mim.

Eu nunca me senti bem em Blanco, e se não fosse por meu pai eu teria saído de lá com 15 anos de idade, fugindo pela janela do meu quarto noite a fora como se fosse uma criminosa.

   Já passei noites em claro imaginando como minha vida seria se minha mãe tivesse me levado com ela. Como seria viver com ela em onde quer que fosse o lugar que ela iria para ser feliz. Com certeza a minha vida seria totalmente diferente. Talvez eu não fosse tão religiosa como sou hoje, talvez eu fosse uma dessas meninas despojadas, que bebem e fumam no capô do Cadillac de um cara de 40 anos. Talvez eu fosse como Madelyne.

Madelyne Logan.

Andando por aí como se eu fosse uma estrela do rock, sem me importar se as pessoas gostam de mim ou não, porque na verdade não importa.

E talvez eu queira ser um pouco como ela. Mas só um pouco.

   Eu não quero as roupas apertadas e os caras se esfregando na minha cama, um por noite. Eu só quero a segurança de saber que vou ficar bonita em qualquer roupa, os olhos hipnotizantes que encantam as pessoas, as respostas na ponta da língua para despejar em qualquer um que venha me importunar.

Mas eu não consigo ser assim.

Não dá.

É pecaminoso.

É como mergulhar em um rio profundo, mesmo sabendo que não tem como voltar.

E eu sei que vai chegar a hora em que eu vou querer voltar, porque eu sou e sempre serei a ovelha perdida.

Eu nunca vou querer ficar perdida na montanha, no rio ou seja onde for. Porque eu não nasci para ser assim.

E por mais que as vezes os sermões e as palavras bíblicas me sufoquem, eu sei que é o caminho certo para mim. É o caminho que vai deixar meu pai feliz, e tudo o que eu quero é que ele seja feliz. Mesmo que para isso eu doe um pouco da minha felicidade em nome da dele.

   Eu não sou popular na Universidade de San Diego. Na verdade, seria uma grande surpresa para mim se eu fosse. Eu não sou porque não tem o porquê de uma pessoa como eu ser. E se eu fosse popular por pelo menos um dia, seria por minha diferença, as minhas bizarrices religiosas, como um garoto do colegial me disse uma vez.

   Eu não sou popular aqui porque faço de tudo para não ser, para não chamar atenção. Porquê na verdade me puxando a memória eu era popular na escola, mas não do jeito que deveria ser.

Não era nada agradável.

   As atenções dos outros eram jogadas para mim sempre que eu me destacava por lá, sempre que eu fazia alguma coisa que não fosse santa o suficiente para os olhares dos outros. Se eu era uma adolescente religiosa, por que eu estava deixando os garotos colocarem flores no meu cabelo? Por que eu não ia para a escola com botas até os joelhos e blusas de manga? Por que eu me irava com o bullying das outras pessoas se na bíblia estava escrito que eu deveria oferecer a outra face?

HEAVENWhere stories live. Discover now