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- Oi...pai? Eu tenho uma boa e uma má notícia. - sento na cama, ajeitando a toalha de banho no meu corpo. - Qual você quer primeiro? As duas são sobre o mesmo assunto...- levanto o rosto, forçando um sorriso esperançoso em direção a janela. - droga!...eu não consigo fazer isso.

Suspiro pesadamente, abaixando o celular, apoiando-o na minha perna. Isso vai ser mais difícil do que eu pensei.

Durante todo o meu banho eu fiquei pensando em como contar para o meu pai que perdi quase todo o dinheiro que nós economizamos para eu trazer para San Diego.

Como eu perdi não, como dois caras armados com uma faca em um beco tiraram o dinheiro de mim. Se eu não tivesse pensado rápido eles teriam levado tudo. Mas também, que diferença faz agora 10 dólares? Eu não pago 15% da mensalidade da faculdade com isso. Eu não pago um sapato de camurça com isso. Eu pago metade de um bolinho com isso.

Não pago nem minha dignidade com isso.

   Encaro a tela escura do celular no meu colo, empurrando o aparelho para cima da minha cama antes de levantar. Eu ando até o guarda roupa e pego uma camiseta qualquer, vestindo-a no corpo antes de seguir até a janela. O sol parece a única coisa alegre hoje, radiante, invadindo o quarto escuro assim que eu abro a janela para tomar um pouco de ar. O vento fresco alcança meu rosto e eu sorrio, fechando os olhos para tentar ficar em paz um pouco, já que minha noite não foi uma das melhores. Eu não dormi, de novo. E Madelyne que amigávelmente tentou me fazer companhia se sentando na beirada da minha cama dormiu em menos de 20 minutos, me fazendo interromper uma das minhas histórias de infância que eu lhe contava.

Madelyne.

Eu não sei o que faria sem ela. Se ela não chegasse e me salvasse das mãos daqueles caras.

Se não usasse a sua coragem assustadora para tentar dialogar com eles.

Se não me abraçasse quando meu corpo perdeu a força e caiu no chão frio.

Um sorriso surge no meu rosto quando eu lembro de nosso abraço. Assustado. Inesperado. Mas preciso.

Foi um dos momentos mais apavorantes da minha vida.

Os olhos deles me fitando a todo momento, as risadas e piadas nojentas que só faziam sentido na cabeça doente deles, a faca que brilhou assim que encostou no meu corpo...eu nunca vou me esquecer. Não há como esquecer um momento como estes. Porque os momentos ruins ficam marcados em nós por muito mais tempo que os momentos bons.

   Solto outro suspiro, apoiando os braços na janela, apoiando meu rosto em cima deles logo em seguida. Eu mal tenho ânimo para frequentar as aulas hoje, para sentar em uma das cadeiras geladas de ferro e prestar atenção nas informações importantes, porque tudo que vem em minha mente são imagens borradas do incidente de ontem. As vozes não saem da minha cabeça, o brilho da faca reluz na paisagem ao lado de fora, confundido por mim com os raios de sol refletindo nos bancos espalhados pelo campus.

Talvez eu nunca mais saia desse quarto. Fique presa aqui para sempre e perca todas as aulas, até eu ser reprovada. Não tenho um tostão para pagar a mensalidade de qualquer forma. Maldita hora que eu não peguei o dinheiro e depositei. Quem sai por aí com uma bolsa nos ombros cheia de dinheiro em uma cidade que não conhece?

- Somente pessoas estúpidas... - resmungo, pressionando a bochecha contra o antebraço.

   Meus olhos passeiam pela paisagem ao lado de fora, obsevando as pessoas andando alegremente como faziam todos os dias, acompanhadas dos seus melhores amigos ou namorados. Semanas atrás eu caminhava alegremente pelo mesmo gramado. Não sei se a alegria ainda habita em mim. Esfrego uma das mãos nos olhos, impedindo-os de derramarem lágrimas, de deixar todo o sentimento ruim do meu peito escapar pelas gostas salgadas fugindo dos meus olhos.

HEAVENحيث تعيش القصص. اكتشف الآن