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- Me perdoa, meu amor, por favor. Me perdoa por ter deixado isso acontecer.

Escuto as palavras ecoarem por minha mente totalmente desligada. Aos poucos, eu abro os olhos, sentindo tudo ao meu redor girar. Estou em movimento. Meu corpo está em movimento. Mas como isso é possível se estou parada no mesmo lugar?

- Ela tem que ir para o hospital. - reconheço a voz de Madelyne. Agoniante, assustadora. - tá perdendo muito sangue...

A última frase me deixa apavorada.

Estou perdendo muito sangue

Eu sinto meu braço úmidecido pelo sangue

Eu...eu tomei um tiro.

Desço meus olhos para observar em que parte do meu corpo está a bala, já que tudo dói. Eu a encontro alojada em meu braço, onde a dor é mais aguda. Onde sangra e suja toda a manga do moletom que estou vestida.

Tenho vontade de vomitar.

- Não dá pra levar ela para o hospital Madelyne, vão desconfiar. - TJ rosna do banco da frente. Consigo ver de relance suas mãos sujas de sangue pressionando o volante.

Estamos em um carro.

- Uma garota às quatro da manhã com uma bala no braço acompanhada de três pessoas e uma delas com o nome conhecido? Não dá!

- A gente tem que fazer alguma coisa TJ, eu não posso perde-la! - sinto o pesar em sua voz.

- O tiro pegou no braço, dá pra tirar, ela vai ficar bem. - ele tenta tranquiliza-la, sem tirar os olhos da estrada. - Vamos dar um jeito nisso.

Ela agarra os braços em volta de mim com mais força, segurando meu corpo. Um gemido de dor escapa da minha boca, fazendo ela se assustar um pouco.

- Fica comigo, vai dar tudo certo. - sussurra para mim.

Sua voz é doce e me acalma, mas a dor continua aguda em mim, como se eu estivesse mesmo prestes a morrer a qualquer momento.

Em meio aos sussuros chorosos de Madelyne, eu fecho os meus olhos, sentindo meu braço ficar cada vez mais molhado, dessa vez com sua mão pressionada nele, segurando o pouco de lucidez que ainda me resta.

                                         •••

Uma brisa leve atinge meu corpo suspenso. Estou sendo carregada. Provavelmente é isso. Meu corpo sendo carregado por braços fortes o suficiente para carregarem uma pessoa quase desfalecida. Sei que meu peso deve estar dobrado por conta disso, é algo que vi em filmes na tv. As mãos ao meu redor seguram minhas pernas e braços com firmeza, enquanto uma respiração pesada escapa de sua boca ofegante.

De onde estou sendo carregada, consigo enxergar TJ empurrando o capuz do casaco de moletom da cabeça, empurrando o indicador na campainha.

Estamos em uma casa. Não faço ideia de quem seja o dono.

Essas são todas as informações que tenho:

Fui baleada. Me colocaram em um carro. TJ dirigia esse carro, enquanto Madelyne se martirizava me ninando em seus braços como um recém nascido. O tiro foi no meu braço esquerdo. Ainda dói e a manga do meu moletom está grudada em minha pele de tão molhada. De sangue.

Tento manter meus olhos abertos, observando TJ pela pequena fresta neles.

A campainha toca uma vez. Duas vezes. Quem me carrega continua com os braços fixos em mim, me segurando como se não só minha vida dependesse disso, mas a sua também.

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