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A última vez que estive em um bar tudo a minha volta parecia um completo caos. Enquanto as pessoas ao meu redor rodavam com taças de bebidas caras e sorrisos embriagados, eu relutava em meu interior para permanecer no tal bar que na verdade era meu emprego.

É, eu trabalhava naquele lugar.

Mas agora, pisando mais uma vez em uma espécie de bar ou boate, com pensamentos diferentes e um grupo de pessoas que são "foras da lei", toda situação parece até... cômica.

Madelyne sorri para mim ao virar o rosto em minha direção, os dedos frios como de costume agarrados aos meus, me guiando pelo espaço abarrotado de pessoas. Nós estamos em um bar. Ou boate. Eu não entendi bem quando me explicaram no caminho, pois minha cabeça rodava em looping como a mensagem deixava para mim do meu pai. Mais uma vez ele se esqueceu de que meu futuro dependia daquele dinheiro, minha estadia na Califórnia e meu grande sonho de me formar. Agora graças as suas divídas recorrentes, eu estou onde estou. Ou não. Eu não estaria trabalhando indiretamente para um traficante de drogas se não quisesse na verdade. Pensando bem, eu poderia simplesmente ter voltado para o Texas, deixar para trás minhas novas vivências e colocar uma touca velha e suja para esconder meus cabelos enquanto serro pedaços frescos de madeira por toda minha vida.

Um nó se forma em minha garganta.

Quando os pensamentos sobre como meu destino poderia terminar se não estivesse fazendo o que estou fazendo surgem, meu estômago embrulha, se revira por meu interior como se estivesse em ebulição.

Neste mesmo instante, uma garota alguns centímetros mais alta e de roupas apertadas se aproxima de mim, com uma bandeja com taças cheias em mãos. Ela sorri para mim, estendendo a bandeja em minha direção. A essa altura, Mad já está um pouco distante, conversando sobre algo com TJ e Seth, o último com uma das taças agarrada entre os dedos, bebericando de vez em quando. Meus olhos correm da garota a minha frente para ele, bebendo e conversando como se a bebida descendo por sua garganta não fosse nada demais.

"Talvez não seja nada demais para mim também." Penso, aproximando o rosto da bandeja, analisando as taças de mais perto.

- São martinis. - a garota diz, dando de ombros enquanto um sorriso simpático surge em seu rosto. - Os amigos do senhor Flores sempre bebem quando chegam.

- Senhor Flores? - semicerro os olhos, em dúvida.

- TJ. - ela responde simples, apontando a cabeça para o homem mais alto no meio dos outros dois, cubrindo seus rostos com a nuvem de fumaça cinza deixando sua boca.

- Ah.

- Eu posso levar de volta se não quiser.

Ela continua com o sorriso no rosto, pronunciando as palavras com todo cuidado. Os olhos verdes me fitam com ânimo, esperando por uma resposta de minha parte.

Ela chega com um pequeno movimento meu, esticando uma das minhas mãos e agarrando a taça sem jeito nenhum para a coisa.

- Segure assim. - ela segura minha mão por cima da taça, ajeitando o objeto de cristal entre meus dedos. - Desse jeito fica mais seguro e não corre risco de cair.

- Ah sim, obrigada. - respondo, sentindo minhas bochechas esquentarem.

Ela balança a cabeça, negando com um sorriso no canto dos lábios. Quando levanta os olhos e percebe alguém nos observando, se afasta de mim sem se despedir.

- Fazendo novas amizades? - Mad me pergunta. Percebo uma pontada de incômodo em sua voz. 

Subo meus olhos para os dela, iluminados em minha direção como sempre, mas desta vez, o brilho parece diferente.

HEAVENWhere stories live. Discover now