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As luzes coloridas da boate giram ao redor dele, colorindo e iluminando seu rosto. A medida em que ele se aproxima aos poucos, com cuidado e a passos lentos até a mim, as luzes vão deixando seu corpo. Elas param de iluminar seus passos até mim, me deixando com a mesma versão sombria de Marcus de antes. O que me deixa mais apavorada. Eu dou dois passos para trás, esticando os braços para tentar tatear a parede e segurar meu corpo começando a perder as forças. Ele sempre me trai em momentos como esse.

Mais dois passos de Marcus para frente

Mais dois passos meus para trás.

Marcus e eu continuamos os movimentos como se dançamos juntos. Um a espera do próximo movimento do outro. A distância entre nós parece diminuir mais e mais, fazendo meu peito subir e descer com mais força a cada movimento de nossos pés ao mesmo tempo.

Consigo ler seus lábios sussurrando algo da distância em que está, o sorriso se alargando ao notar que conseguiu me assustar como sempre faz. Há um brilho diferente nele hoje.

Algo em meu peito me aperta como se eu fosse morrer alí mesmo. Sobe por minha garganta e me deixa um pouco sem ar, como se uma mão pesada e grossa apertasse meu pescoço, tentasse dar fim a minha vida antes que o próprio Marcus o faça.

Desvio meus olhos dele para as pessoas ao fundo ainda dançando como se nada estivesse acontecendo. Como se minha vida não estivesse nas mãos de um homem com tanto ódio gratuito de mim que é capaz de me...matar.

Ele seria mesmo capaz de me matar?

Eu não sei.

Mas antes que eu descubra, eu tomo coragem para enfiar uma das mãos no bolso. Tomo coragem para puxar de lá qualquer coisa que me ajude a distrai-lo. Meu objeto salvador se revela em um pequeno batom que não faço ideia de como foi parar em meu bolso, mas que me ajuda sendo arremessado por mim no rosto de Marcus. É pequeno, mas me ajuda o suficiente. O irrita e o faz passar a mão em um dos olhos, me dando a chance de correr.

Seja quem for o dono deste batom... obrigada.

Uso um pouco do fôlego que ainda me resta para correr por entre as pessoas, esbarrando em alguns corpos suados e ainda empolgados, como se nada estivesse mesmo acontecendo ao redor. Meus pés tentam por o máximo de força possível no chão, segurando meu corpo cansado e pesado como se eu carregasse pedras em todos os bolsos presentes em minhas peças de roupas. Como se eu carregasse minha vida em minha mãos. O que eu carrego. Não consigo ter coragem de olhar para trás para saber se Marcus me persegue ou se está parado no mesmo lugar, nutrindo sua raiva por mim. Eu só consigo empurrar as pessoas e tentar passar, tomada por desespero. O desespero que faz eu ter meu corpo molhado por copos e mais copos de bebidas cheias de pessoas pelo caminho, algumas até me xingando como se eu não tivesse escolha a não ser correr.

Eu não aguento mais.

Eu paro no meio do caminho

Eu tomo coragem e olho para trás, não o encontrando.

Uma respiração pesada escapa de minha boca. O desespero cresce em mim e meus olhos ficam marejados.

Porque não consigo pensar em mais nada a não ser chorar.

Arrasto meu corpo até uma mesa ocupada por copos cheios e uma garrafa de vodka no centro. Eu sinto tanta sede. Tanta que eu desenrosco a garrafa, seguro-a firme entre os dedos e a levo até a boca, tomando um gole da bebida. Me arrependo na mesma hora, empurrando a garrafa de volta para a mesa.

Até eu me lembrar da garota que gosto.

Começo a pensar em Madelyne com o mesmo desespero e medo, sentindo minha língua ficar dormente.

HEAVENМесто, где живут истории. Откройте их для себя