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Empurro a porta dos fundos do Snake Poison com fúria nos olhos.

Estou cega.

Não consigo enxergar nada a minha frente a não ser minha própria irá.

A noite está movimentada como de costume, com carros coloridos ocupando até a parte dos fundos do bar. Meu peito sobe e desce com mais força, minha respiração alta o suficiente para ser ouvida a metros de distância. Estou com raiva. Por meus sonhos estarem afundados de vez. Por minha última chance ter sido arrancada de mim por pessoas que eu mal conheço...

Por uma dessas pessoas ser a garota que até então, deixava os lábios doces se derreteram nos meus.

Ela me usou em um plano. E eu fui burra o suficiente para perceber isso só agora, quando tudo está ruindo.

Quando eu entro no quarto das funcionárias, um peso parece cair sobre meus ombros, afundando meus pés no chão. Mesmo com dificuldade, eu os arrasto até os armários, abrindo cada gaveta para procurar por algo que eu ainda não sei. E eu não o acho. Eu vasculho gavetas, portas e espaços vazios, mas não acho nada. Não consigo achar nem um resquício do que eu quero. Porque já está comigo...

Meu coração, em pedaços entre meus dedos.

Ele bate mais rápido no meu peito, e eu me apoio na parede atrás de mim para não cair. Não posso cair agora, não antes de juntar o pouco do que me resta para voltar ao início.

Não vai ser fácil voltar.

Olhar os mesmos rostos, andar pelos mesmos lugares, principalmente com meus novos pensamentos e vontades. Depois de deixar uma parte adormecida de mim por anos voltar a tona. Não vai ser fácil voltar para o Texas sendo quem eu sempre quis ser.

E isso suga o meu ar. Aos poucos, como se puxassem ele de mim por um canudo enferrujado. Deixa meus lábios dormentes e paralisa os meus pés.

- Eu não quero voltar... - sussurro, apertando meus olhos com força. - Não quero voltar pra lá, eu não quero... - o desespero toma conta da minha garganta, tentando cortar minhas palavras. Eu não quero voltar. Mas eu tenho que voltar. Eu não tenho outra escolha a não ser...voltar. - Deus, me diga o que fazer...

Cubro o rosto com as mãos, abafando o choro entalado em minha garganta.

Deus não me responde. Pelo contrário, ele me confunde.

O barulho da porta se abrindo invade o quarto, e eu afasto minhas mãos para observar Sidney adentrando o local, com seu uniforme e o cigarro entre os dedos como de costume. Os olhos dela me fitam com desespero quando me encontram, ela solta a fumaça do cigarro para fora em um susto.

- Marie? - ela tosse um pouco, afastando a fumaça do cigarro para longe. Sidney empurra a porta com as costas antes de voltar sua atenção para mim. - O que você tá fazendo aqui?

Solto uma risadinha baixa.

- Vim buscar meu dinheiro dos dias que trabalhei. - seco os olhos com o pulso. - surpresa em me ver tão cedo?

Ela não responde de imediato. Engole em seco, me olhando através da fumaça que deixa o cigarro nas suas mãos.

- Eu pensei que o Duncan fosse fazer isso.

- Não...eu precisava fazer isso sozinha. Duncan não vai resolver todos os problemas da minha vida.

- Eu...eu sinto muito, Marie. Eu não queria que as coisas terminassem assim...

- Mas vão terminar Sidney, elas sempre terminam assim pra mim, com as pessoas intervindo sobre a minha vida.

- Eu sinto muito e...

HEAVENWhere stories live. Discover now