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DUAS PALAVRAS PRA VCS: ATUALIZAÇÃO DUPLAAA!!!!

Estou em um barco. Grande, sem cor, sem vida. Em minhas mãos, na beira do meu barco cinza que tenta me proteger das ondas ferozes que me rodeiam, eu recolho minha rede com medo do que pode vir dentro dela, com medo de perder toda a minha coragem espalhada pelas mesmas ondas ao lado de fora. Quando o tecido que eu mesma costurei com minhas próprias mãos a ponto de deixar meus dedos ásperos é jogado sobe meus pés, eu percebo que perdi tudo. Tudo o que eu passei dias, semanas e meses juntando. Meu coração se agita no peito rapidamente, pulsando como se tão desapontado quanto eu, quisesse sair para nunca mais voltar. Eu empurro as duas mãos sobe o peito, apertando meus dedos fechados em punho para que toquem meu coração mesmo que por cima da camiseta e depois, de minha pele. Ele bate mais forte e mais forte, me deixando mais apavorada e confusa. Ele me faz pensar que se continuar desse jeito, eu posso parar de vê-lo bater para sempre.

Me espanta querer isso neste exato momento.

Penso que talvez isso possa ser um sinal. Meu coração nunca bateu tão forte e tão rápido ao mesmo tempo em toda minha vida, nem quando eu estava em situações de perigo. Ele não bateu tão forte e tão rápido nem quando minha mãe foi embora. Nem quando fui roubada. Nem quando beijei Madelyne. E em todas essas situações eu estava com...medo.

Eu estou com medo agora?

Sim.

Mas por que parece que não? Por que meu coração bate rápido e forte não como se eu estivesse com medo, mas como se eu estivesse prestes a vivenciar algo?

Eu jogo a rede de volta ao mar, correndo meus olhos pela paisagem a espera de algo. Espero dois. Três. Quatro longos minutos até que tudo o que eu tinha volte para rede. Eu ando pelo barco ansiosa e dessa vez apavorada, esperando. O céu antes azul claro se torna lilás e depois roxo escuro, também esperando. As gotas de suor frio em meu rosto anseiam por algo.

A rede se mexe entre meus dedos. Quando a puxo de volta para o barco, seu conteúdo pesado se esparrama pelo piso de madeira.

O cheiro forte e o sangue fresco dos peixes mortos sujam minhas mãos.

Peixes mortos. Com os olhos apáticos direcionados para o nada.

Meus olhos apáticos direcionados para o nada. Como se eu estivesse morta. Mas na verdade, estou mais viva do que nunca.

A paisagem escura e o barco somem de minha mente, dando lugar a um homem alto e um pouco grisalho, andando em frente aos meus olhos. Eu noto que estou na sala de aula e que na verdade, o barco onde eu velejava faz parte de duas histórias distintas com seus nomes descritos no quadro: Os pescadores da Bíblia e As Aventuras de Huckleberry Finn. Os personagens não tem nada a ver com minha realidade atual, mas a figura do barco me intreteu por um momento. Fez com que meus pensamentos de horas desde a madrugada sumissem por alguns instantes.

Ao me dar conta disso eles parecem voltar.

Não só por isso, mas porque o nome estampado duas vezes seguidas na folha vazia de um dos meus livros também me faz recordar.

Marcus.

Os pontos de interrogação pintados de vermelho seguidos de algumas outras palavras desconexas também ocupam um pouco do espaço em branco, fazendo minha cabeça voltar a trabalhar:

Medo. Vícios. Aperto. Porquê?

Circulo o medo com a mesma caneta vermelha, observando a palavra atentamente. Eu tenho medo. De várias coisas que fazem e também não fazem sentido para mim. Tenho medo de ratos e morcegos, relâmpagos e de ir para o inferno. Se parar para pensar, talvez faça bastante sentido. Mas agora, também tenho medo de Marcus e de sua possível ressurreição, a parte em que não era para fazer sentido para mim. Não era para fazer sentido porque sua existência para mim não faz. Um homem estranho e viciado, que odeia meu rosto como se ele fosse a causa de seus problemas. Por que eu seria um problema para ele? "Uma vadia que não entende nada sobre dívidas com traficantes", como ele mesmo cuspiu no meu rosto.

HEAVENWhere stories live. Discover now