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- Tem certeza que está tudo bem mesmo? - Madelyne me pergunta do outro lado da linha.

Meus olhos observam a paisagem ao lado de fora da janela do táxi. As árvores seguidas dos prédios altos, as pessoas vivendo suas vidas normalmente. Algumas mães carregando seus filhos pelas mãos como se nunca fossem os deixar.

Tudo passa tão rápido em frente aos meus olhos que eu fico um pouco tonta.

- Uhum, está tudo bem. - confirmo com a cabeça, mesmo ela não podendo me ver. - Eu só vou...almoçar com ela, ver o que ela tem pra me dizer e depois vou embora.

- Heaven, sabe que vai precisar conversar direito com sua mãe, ela é...sua mãe.

Odeio quando ela tem razão.

- Até hoje eu meio que me arrependendo de ter chamado ela de vaca naquele dia, a gente não sabe os motivos dela de ter ido embora. - ela continua.

- Eu sei...ela não teve, só queria abandonar a família mesmo.

- Como você pode ter tanta certeza disso?

- Foi o que meu pai me disse.

Eu me arrependo instantaneamente do que digo.

Um silêncio se instala entre nós, enquanto o táxi continua se movimentando rumo ao restaurante. Eu troco o celular de posição, encaixando-o na minha orelha direta.

Mad continua em silêncio, tão desconfortável quanto eu.

- O Táxi já tá chegando - mudo rapidamente de assunto. O suspiro dela do outro lado da linha acaba me dando razão. - Falo com você mais tarde.

- Ok, ok... - ela me respondo, ainda sem jeito. - Até mais tarde. Eu te amo.

Um sorriso bobo surge em meus lábios.

- Eu também te amo, querida.

Quando desligo, percebo que o caminho do restaurante está mais distante do que nunca.

Guardo o celular de volta em minha bolsa, me acomodando no assento de couro. O ar dentro do táxi parece pesado. É incomodo como se algo estivesse sugando minhas energias. Eu não faço ideia do que seja, mas tenho certeza da que quando eu sair e entrar naquele restaurante chique, vai piorar.

Dez anos é o tempo que não vejo minha mãe. Dez longos anos sem notar as sardas em seu rosto ou os fios enrolados do seu cabelo ficando brancos a cada dia em nossa casa. É tempo demais para não ver quem se julgava tão importante para mim. Talvez ela esteja totalmente diferente. Com certeza está, o restaurante em que me convidou para almoçar é tão caro que eu gastaria metade do dinheiro que tenho guardado para pagar uma refeição completa. Eu não me daria ao luxo nem se fosse para mim, mas como é o convite de uma estranha...

Uma estranha que eu conheço bem. Pelo menos conhecia.

O táxi começa a se movimentar um pouco mais devagar até parar de vez. Eu puxo minha bolsa para o meu colo, puxando do fundo dela o dinheiro do taxista. Desço com meu coração na boca depois de pagá-lo.

Com minha bolsa acomodada no meu ombro esquerdo, eu começo a seguir para dentro do restaurante. O cheiro de perfume caro é a primeira coisa que noto ao entrar, invadindo meu nariz e me trazendo um pouco de conforto pelo menos por alguns instantes. As mesas feitas de madeira bem polida e as toalhas peroladas me dão a certeza de que o lugar é mesmo caro, nem se compara aos restaurantes que um dia eu frequentei. O único que frequentei na verdade ficava em Blanco, minha cidade natal.

Tento procurar um pedaço de lá pelo restaurante, checando com os olhos de mesa em mesa até encontrar minha mãe.

Não deveria ser tão difícil reconhece-la, mas é, o que me deixa um pouco chateada. Quem não reconhecia a própria mãe, mesmo depois de tanto tempo?

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