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O queijo derretido toca minha boca e eu suspiro, mastigando de olhos fechados.

Nada como queijo quente de manhã para acalentar um coração desesperado. E um braço ferido.

A mão de Madelyne empurra a colher cheia na minha boca fechada, sujando meu queixo e um pouco do meu nariz.

- Calma aí, não pode empurrar algo na minha boca enquanto eu saboreio queijo, isso é contra as regras.

- Quais regras? Nunca li isso no manual dos cafés da manhã. - ela zomba.

Abro os olhos, notando a colher ainda em frente ao meu rosto, cheia de geleia.

- Ia enfiar geleia pura na minha boca? - pergunto, incrédula, entre risadas. A cara da fazer esse tipo de coisa.

Ela dá de ombros, abaixando a mão. A colher com geleia de uva fica apoiada dentro do seu prato vazio e ela pega outro pedaço do sanduíche de queijo quente, todos cortados em pedacinhos de tamanho médio por ela. Para minha namorada, o tiro no braço me impossibilitou de comer as coisas em seu tamanho normal.

- Mas é claro, você tem que se alimentar bem.

- Com uma colher cheia de geleia de uva pura?

- Uva é uma fruta, não? - diz, com seu humor bobo de costume.

Nego com a cabeça, não contendo uma risadinha. Não é atoa que amo essa garota de todo meu coração.

- Pelo menos experimenta. - ela passa o dedo em cima da colher, levando-o até os meus lábios. Com um movimento rápido, seu indicador afunda dentro da minha boca, cheio de geleia de uva.

- Ai! - reclamo quando ela esbarra em meu braço sem querer.

Os olhos de Mad passam de divertidos para preocupados em instantes.

- Me desculpe querida, foi sem querer.

- Está tudo bem. - sorrio. - não se preocupe.

Bom, acho que ela me ama também.

Nós comemos nosso café da manhã em um silêncio confortável. De vez em quando, Mad afasta uma das mãos do prato para tocar a minha, sempre atenta para não pegar meu braço ferido. Me sinto confortável quando ela entrelaça nossos dedos por cima da mesa, voltando a mexer em sua bandeja como se nada estivesse acontecendo. Como se nossos dedos entrelaçados fossem peças de quebra um cabeça que completassem algo extraordinário. E realmente são. Percebo seu peito subir e descer um pouco mais devagar ao fazer isso, exatamente como o meu.

Eles parecem bater no mesmo ritmo.

É incrível!

Sentir tudo ao mesmo tempo quando estou com ela. Sinto amor. Desejo. E as vezes até um pouco de irritação, mas ainda sim não consigo não ficar feliz por tudo. Quase tudo.

Desço meus olhos para o meu braço coberto pelo casaco de tecido fino, cobrindo a outra faixa branca feita por cima do ferimento.

Quase tudo.

No meio de nosso silêncio ainda confortável o celular dela faz um barulho, sinalizando uma nova mensagem. Ela desce os olhos para o aparelho ao lado da bandeja de café da manhã, revirando-os ao desbloquea-lo. "Seth", sussurra para mim, soltando minha mão para conferir o aparelho. Eu fico apreensiva nos segundos e depois minutos que Madelyne passa lendo a mensagem de Seth. Ela não diz nada, mas morde os lábios e solta uma das mãos do celular para batucar a mesa. Está nervosa.

Agora eu estou nervosa.

- Aconteceu alguma coisa? - tento espiar a tela acesa de onde estou sentada.

HEAVENWhere stories live. Discover now