Cap. 26 - Embaraço

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— Eu te amei, Dom. Com toda a força da minha alma, com todo meu ser, durante cada um desses anos — Irina estava sentada na cama, as duas mãos sobre o colo — mesmo com todo o mal que fez a mim e ao meu filho. Eu sempre amei você, e sempre desejei que o seu amor fosse maior que a sua ganância. Ou a sua loucura.

Domenicus parou onde estava próximo da porta, irritado com o rompante de sinceridade de sua amante.

— Você culpa a mim pelos devaneios do nosso filho? — o rei virou-se, uma das mãos na cintura — ele fugiu sem deixar rastros. Meus guardas o procuram há mais de dois meses. Se ele quisesse, já teria voltado.

— Sim, Dom. É sua culpa sim — disse, por fim — foi desumano o que você fez com ele. Se a ameaça fosse real, ou se ele tivesse algo a ver com o suposto plano de invasão, ele já teria feito, você não acha?

O rei suspirou.

— Eu sei reconhecer quando estou errado. Mas acredite, nunca quis machucá-lo de verdade.

Irina se levantou e pegou na escrivaninha um pequeno bilhete.

— Já te mostrei isso — Irina estendeu o pedaço de papel para o rei — foi tudo que ele me deixou quando desapareceu.

"Te amo, mãe.
Não posso mais viver assim.
Partirei para longe, não me procure. Espero que seja feliz e perceba quem faz você ser infeliz. Jay"

O rei olhou novamente para o papel, e apertou os cabelos entre os dedos, onde seu filho se metera?

Irina saiu de seu quarto e foi até o quarto de Cam, onde o pequeno brincava no chão de madeira escura com os cavalos de madeira que James havia feito para ele.

Os dois eram muito parecidos. Os cabelos lisos e louro-escuros, os olhos de um azul esverdeado que Irina sabia terem sido herdados de seu pai, o porte altivo e despreocupado. Mesmo ainda sendo tão pequeno, Cam dava mostras de sua personalidade idêntica a do irmão mais velho.

Quando Irina se viu grávida pela primeira vez, sentiu-se perdida. Ela amava Domenicus, mas ele era o herdeiro do trono, e como plebéia, e para piorar, uma rom, jamais poderia se tornar rainha.

Então ela fugiu do próprio clã, do próprio povo, e fora se refugiar com uma amiga que havia passado pelo mesmo e tinha um filho pequeno. Irina criara sozinha James até os seis anos de idade, quando Domenicus os encontrou e os levou para o castelo.

Fora pouco depois disso, que Domenicus havia castigado James pela primeira vez, e quando Irina ameaçou fugir, mandou queimar a cabana que sua amiga e o filho moravam. A criança escapara, mas sua amiga morrera queimada.

Não sobrara ninguém mais a Irina, a não ser James, e o próprio Domenicus. Por isso, durante todos esses anos, ela suportara humilhações e agressões, porque amava seu algoz.

.

Domenicus voltou para o castelo irritado e um tanto quanto contrafeito. James desaparecera há mais de dois meses e nem sinal dele em todo o território.

Entrou nos seus aposentos e tirou o casaco, jogando-o raivosamente sobre o divã. E logo viu um motivo para ficar ainda mais irritado: a rainha.

— O quê faz no meu quarto? — se aproximou abruptamente — já não te falei que não é bem vinda aqui?

— Achei que gostaria de saber por mim, mas talvez prefira saber por outra pessoa... — a rainha fez um carinho no próprio cabelo e depois chamou em voz alta — Doutor!

O médico do castelo entrou timidamente, fez uma reverência ao rei.

— Quem está doente desta vez? — o rei foi direto.

O filho favorito do Rei - O casamentoWhere stories live. Discover now