–Tirem essa mulher daqui!!! Agora!!! - Anna gritava com o que ainda lhe restava de forças, o rosto já esquálido pela dor e pela perda massiva de sangue.
Irina estava de pé, na porta do quarto. Usava um vestido simples de lã, parecido com os que as criadas costumavam vestir-se, ensopado com a chuva. Os cabelos presos numa trança grossa enrolada no alto da cabeça. Duas servas se apressaram em interceptá-la antes que a mesma pudesse adentrar os aposentos reais.
–Eu sou a única agora que pode salvar a rainha e o bebê - disse suavemente, mas sem demonstrar nenhum sentimento - se eu não agir rápido, ambos morrerão em alguns minutos.
As duas mulheres pararam onde estavam, e olharam apreensivas para a rainha, que respirava ruidosamente, já no limiar da morte. Ela apenas virou o rosto para a parede, e nada falou.
A romni se apressou em sentar-se à beira da cama ricamente decorada com dossel, cujas cortinas já apresentavam manchas grotescas de sangue. Tirou as sandálias dos pés, e subiu sobre a cama, ficando de joelhos em frente à parturiente.
–Anna, preciso que respire fundo e segure-se à cabeceira da cama - Irina avisou.
A rainha observou com descrença a mulher aos seus pés. O médico já havia se retirado fazia algum tempo, temeroso das represálias do rei, caso ousasse tentar ajudá-la. As criadas nada podiam fazer, e nem a parteira da vila havia chegado, talvez impedida pela tempestade que caía impiedosamente, talvez interceptada pela própria guarda real. Ela podia deixar que aquela qualquer tentasse girar o bebê, que já não se movia como antes, ou talvez até morrer junto com a criança.
Anna segurou-se aos pilares do dossel e respirou fundo, sem dizer uma palavra.
Foram minutos de dor e esforço, mas a amante do rei enfim conseguiu girar o corpinho do bebê dentro do corpo da mãe já exausta, e então, enfim a criança pôde vir ao mundo. Mas havia algo de errado: a criança não respirava.
Irina saiu rapidamente de cima da cama, segurando o menino nas mãos ainda tingidas de sangue real, mas ainda assim tão vermelho quanto a de qualquer serviçal. Seu corpinho macilento estava acinzentado e amolecido, mas o calor ainda não havia se esvaído. Ajoelhando-se no chão, abraçou o pequeno, e massageou vigorosamente suas costas, enquanto murmurava uma singela oração em romani.
'Senhor, essa criança merece viver. Por favor, dê a ele uma chance de conhecer a beleza desse mundo que criastes'...
Enquanto murmurava e massageava o corpinho do bebê, um choro baixo e agudo começou a ser ouvido. Pequenas mãozinhas se agarraram nas mechas do cabelo já desgarrados da trança e molhados de suor, e lágrimas brotaram dos olhos da mulher, que rapidamente acenou para as atônitas servas que observavam sem acreditar no que viam.
–Rápido, o aqueçam. O rei tem um novo herdeiro! - Irina se voltou para elas, e se levantando, se pôs novamente aos pés da rainha - Agora você. Vamos parar esse sangramento.
*
A tempestade que assolara a noite havia abrandado, e agora, a luz da aurora tocava suavemente as folhas mais altas dos ciprestes . Uma figura solitária atravessava um campo de trigo a cavalo, envolto em uma capa puída.
A Floresta Cernica se erguia imponente logo à frente, formando uma massa negra e compacta àquela hora da madrugada. O cavaleiro solitário deixou as rédeas e desmontou numa velocidade impressionante, não antes de verificar se não havia sido seguido. Puxando a montaria até que a mesma estivesse protegida por uma elevação de granito, prendeu as rédeas à um galho baixo e embrenhou-se em meio às árvores silenciosamente.
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O filho favorito do Rei - O casamento
Любовные романыLyrian acabara de completar 17 anos e estava finalmente sendo enviada para seu destino, traçado ainda no ventre da sua mãe: casar se com o príncipe da Bessarábia, Thomaz. A princesa Ucraniana da linhagem Douwey, sexta de uma prole de 8 filhos, não d...