Cap. 4 - O sabor amargo da romã

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James entrou no quarto e aproximou-se do leito. A perna ferida da moça estava imobilizada, enfaixada e exposta do lençol, todo o restante do corpo estava coberto por um lençol branco e puído.

Uma vasta cabeleira castanha se esparramava sobre o travesseiro e sobre o peito da garota que subia e descia devagar. As faces dela estavam avermelhadas e um fio de suor lhe brotava na face. James aproximou-se e pegou uma mecha de cabelo entre os dedos.

—Quem afinal é você, menina? Porque estava dentro daquele navio? — perguntou sentindo os cabelos sedosos entre os dedos.

Aqueles cabelos macios poderiam facilmente ser de uma nobre, não fossem nítidas mechas em tons mais claros, que denunciavam sua exposição ao sol.

Tocou sua mão direita que descansava ao lado do corpo, e observou discretas marcas que podiam ser do uso de espadas, como a vira fazer no navio, ou de trabalho pesado.

Não podia imaginar uma jovem tão bonita trabalhando sob o sol, e seus movimentos durante a batalha denunciavam que ela tinha algum tipo de treinamento.

Os cabelos começavam a colar no seu rosto com o suor e James se sentiu impulsionado a tocá-la.

Ao tocar sua face, percebeu que queimava em febre, e decidiu chamar uma enfermeira, mas antes que pudesse tirar sua mão do rosto da garota, ela segurou seu pulso com uma força maior do que qualquer garota já havia demonstrado ter.

—Por favor, fica — saiu num fio de voz.

—Vou chamar a enfermeira, você está queimando em febre.

—Prefiro que um anjo cuide de mim, não preciso de enfermeira... — seus olhos brilhavam febris.

—Estou muito longe de ser um anjo — James sorriu, como poucas vezes se via — mas quem andou caindo do céu aqui foi você — divertiu-se.

Os olhos verdes da garota perderam-se por um momento, como se vissem uma ameaça.

—Não deixe me levarem, por favor! Não quero ir! Quero ficar! Por favor, não deixe — ela gritava segurando seu braço cada vez mais forte.

Uma enfermeira entrou apressada.

—Ela está com febre, acho que está delirando — justificou-se antes que a enfermeira pudesse pensar que ele a estava molestando.

—Sim. É comum a febre por causa do ferimento — respondeu a religiosa — vamos, deixe o rapaz ir — disse para a garota tentando soltar sua mão do braço do rapaz, em vão.

—Não. Não vá, por favor! Fica comigo, não me deixe sozinha — choramingou baixo.

—Pode deixar — dirigiu-se a enfermeira — eu cuido disso — e pegou das mãos da mulher a bacia com água e os panos, deixando a enfermeira confusa.

—O s-senhor vai c-cuidar de uma estranha? —gaguejou a religiosa, observando as roupas finas do rapaz.

Ele deu um sorriso fraco.

—Sim, pode deixar, quando ela se acalmar eu te chamo.

A enfermeira saiu, e James sentou-se a beira da cama. A moça soltou delicadamente seu pulso, que começava a ficar vermelho pela força com que ela segurava.

—Agora se acalme que vou baixar sua febre — ele espremeu um  pouco o excesso de água e colocou o pano sobre a testa dela.

A garota suspirou e fechou um pouco os olhos, aconchegando-se melhor no travesseiro.

—Se você estivesse na casa em que cresci — continuou — provavelmente minha madrinha te faria uma compressa com cardo e te daria um chá de espinheira, e sua febre baixaria... — ele disse, tentando começar uma conversa para acalmá-la.

O filho favorito do Rei - O casamentoWhere stories live. Discover now