Cap. 2 - Os ventos que te levam

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O sol estava quase a pino, e  Minerva já havia pela segunda vez chamado sua senhora para que saísse da água e fosse para a sombra, ou seu noivo a confundiria com uma camponesa, com a pele queimada pelo sol.

Lyrian apenas mergulhou novamente, agora chegando até a cachoeira e sentou-se sobre uma pedra, sentindo a brisa ainda fria de março fazendo sua pele empolar de arrepio. A maior parte do ano, aquelas águas eram praticamente congelantes, impossível nadar, mas Lyrian não sabia se um dia voltaria a nadar nelas, então queria aproveitar o máximo de tempo possível nelas.

Olhou para a criada sentada embaixo da tenda e apenas acenou.

Minerva era sua melhor amiga, quase como sua mãe. Quase porque sua mãe não se importava tanto com ela quanto a criada.

Sendo a sexta de oito filhos, praticamente não tinha importância nenhuma. Quatro de seus irmãos mais velhos já eram casados (três homens e uma mulher), e a sua irmã mais velha solteira provavelmente nunca se casaria.

Virgínia sofria dos nervos e tinha uma saúde extremamente frágil desde que nascera. Por esse motivo, ao invés de comprometer a filha que já havia nascido com o herdeiro do rei, o pai providenciara mais um rebento, e torcera muito pra que fosse uma menina saudável, para que se firmasse o acordo de núpcias. Um rei jamais se arriscaria a casar o seu herdeiro com uma mulher de saúde frágil que talvez nunca pudesse lhe dar filhos, e aquele acordo era de grande importância para os dois reinos.

—Maldito acordo – resmungou Lyrian, especificamente para ninguém.

—Tudo depende das partes – uma voz conhecida falou baixo perto dela, a fazendo saltar na água, se cobrindo até o pescoço.

—Que susto, Enrico. Quase me matou.

O jovem cavalariço observou a criada conversando com Virgínia sob a tenda, ambas distraídas com o bordado, e entrou na água, tomando o cuidado de ficar oculto atrás das pedras do rio.

—Você vai mesmo amanhã? –perguntou triste.

—Preciso ir. Se eu pudesse te levaria também, mas você sabe que esse castigo é só meu – suspirou a princesa – parto amanhã, e se os ventos estiverem bons, chego lá em três noites.

—Sempre tem como fugir pelo mundo, você tem seu navio.

—Por isso estou levando ele – riu. Não seria má ideia fugir pelo mundo com seu melhor amigo de toda a vida.

Enrico se aproximou mais de Lyrian, o calor que emanava do seu corpo aquecia a água ao redor dele.

Naquela distância ele podia ver sob a água, o corpo tenro e absurdamente chamativo da princesa. A roupa que ela usava não fazia muito para esconder os bicos dos seios duros, fustigados pelo frio da água, e quem sabe, da tensão sexual que  pairava entre os dois nos últimos anos. Ele a conhecia desde que nascera.

Tinham 6 anos de diferença, mas haviam se tornado grandes amigos e praticamente inseparáveis.

Inseparáveis até o irmão mais velho de Lyrian flagrar os olhos famintos de Enrico em direção da princesa, e ordenar que os dois não mais se vissem, ou o cavalariço seria expulso do castelo. Desde então, os dois se encontravam de forma furtiva, durante as caminhadas da princesa pela floresta ou as cavalgadas pelo campo. Sempre mantendo distância segura. Agora não. Estava mais próximo que nunca. E logo estaria mais longe que nunca esteve antes.

—Você sabe que iria com você a qualquer parte. Basta uma palavra – pegou uma mecha de cabelo escuro e colocou atrás da orelha da princesa.

Lyrian sentiu um estranho formigamento com a proximidade de Enrico. Sua respiração estava pesada, e ela podia sentir o seu hálito na sua face, a fazendo corar.

O filho favorito do Rei - O casamentoWhere stories live. Discover now