Cap. 6 - Chegada

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Pela janela da carruagem, que a seu pedido, o cocheiro havia deixado com as cortinas abertas, Lyrian via um verde prado que se estendia ao longe.

Era final de março, e a neve já havia derretido por completo, vida nova florescia no final do inverno.

A garota encostou-se à janela da carruagem que sacudia um pouco pela estrada de seixos miúdos.

A viagem até o castelo não era muito longa. Pouco mais de meio dia de viagem.

Já haviam parado algumas vezes e feito uma troca de cavalos. Talvez já estivessem bem próximos de chegar.

— Conte-me a história dessas flores murchas que você teima em levar consigo, minha irmã. Onde conseguiu isso?

— Encontrei sobre a minha cama hoje pela manhã. Seu perfume é muito suave.

—E só por isso não as solta? — Hector sabia ser insistente quando queria.

—Não meu irmão, quero guarda-las dentro de meu livro preferido para perfumá-lo.

Hector riu e olhou para longe pela janela. O clima estava ameno, e Lyrian trazia sobre o colo um cobertor feito de fios coloridos.

Será que era mesmo bobagem guardar aquelas flores?

A carruagem entrou num vilarejo, e com o barulho dos cascos dos animais, algumas crianças correram assustadas e se protegeram nas barras das saias coloridas das mulheres que estavam ali. Eram mulheres de uma beleza ímpar.

—Que mulheres lindas! — Lyrian estava encantada.

—São ciganas. Não fique as olhando. Você é uma princesa — Hector puxou as cortinas da janela, cortando o contato visual da irmã com a jovem cigana que a observava.

Lyrian fuzilou o irmão com o olhar, e cruzou os braços sobre os seios.

—Os olhos são meus, eu olho para quem eu bem entender. O que há com você? Nunca o vi rejeitar olhar para uma bela mulher antes.

—Os ciganos são um povo supersticioso e fazem parte da ralé, você não deve se aproximar deles — Hector fez um ar de superioridade que causou riso na irmã.

—Como se eles pudessem roubar a preciosa coroa que nunca vai estar na sua cabeça, e sim na do nosso irmão — ela gesticulou em círculos, apontando para a própria cabeça, como se desenhasse uma coroa.

—Quero só ver até onde vai a sua petulância, irmãzinha. O rei Domenicus não é o nosso pai, e mesmo ele não perdoaria uma quebra dos acordos. Aceite que como mulher, você nunca terá voz, seja aqui ou em qualquer outro lugar.

Lyrian olhou para os próprios pés e bufou de uma forma bem pouco delicada.

Ela estava descalça, coisa que alguém da realeza jamais poderia ser vista em público.

Regras, quem se importa com elas? Pois é, seu pai se importava muito, e aparentemente todo o restante das pessoas que ela conhecia. Mas porque então ela não conseguia ser importar com elas? Todas elas pareciam existir exclusivamente para a impedir de ser feliz. Mas felicidade, ela já sabia, era um item de luxo que a realeza não podia adquirir.
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—Onde seu irmão se meteu, James? O batedor já chegou avisando que a princesa deve chegar a qualquer momento, quero ele aqui para recebê-la.

—Não sei, senhor. Vou procurá-lo.

—Quero você também aqui, a meu lado. Se não encontrar aquele irresponsável, você ao menos deve estar aqui. Antomnus, chame os nobres que estiverem no castelo, eles devem estar presentes na  chegada da noiva de meu filho. Avise a rainha também, ela deve estar presente também.

O filho favorito do Rei - O casamentoWhere stories live. Discover now