Cap.35 - Premonição

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–Não vai mesmo me contar o que houve na estalagem? - Lyrian questionava pela terceira vez Vírginia, que estava perdida em pensamentos longíquos, que somente ela tinha acesso - Sempre que você fica assim  é porque teve mais uma visão... Conte-me, o que viu?

Vírginia engoliu em seco. Após a noite mais mágica da sua vida, acordara antes do sol nascer, e saíra sorrateiramente dos braços de Lucian. Apressou-se em partir para o quarto da irmã para ajudar James a escapar sem ser pego, mas quando alcançou o corredor, se surpreendeu ao ver no final do mesmo, em frente à porta do quarto, um soldado adormecido.

Pânico tomou conta dela. Se os soldados pegassem James, estariam todos muito encrencados. Seu primeiro pensamento foi avisar Lucian, para que ele pudesse ajudar o melhor amigo, mas, naquele exato momento seus olhos se tornaram nublados e o chão da hospedagem se abriu em uma profusão de chamas douradas. Ela sabia que era mais uma visão que chegava, e não poderia evitar.

–Está queimando! - gritou, assustando o guarda adormecido - As chamas! As chamas!

O guarda se colocou em pé em poucos segundos, e logo Vírginia estava com o corpo desconfortavelmente retorcido em dores no chão de madeira tosca. Ela falava coisas desconexas, e tentava desesperadamente se livrar das chamas que ninguém mais podia ver.

Logo os guardas dos dois andares da estalagem estavam no corredor, atrapalhando ainda mais a rota de fuga de James.

–Pare agora com isso, milady - o guarda que minutos antes dormia à porta de Lyrian ordenou - pare ou serei obrigado a amarrá-la.

Virando o corpo num movimento quase impossível, Vírginia encarou o guarda com olhos muito arregalados.

–Ninguém pode deter as chamas do destino! - seus dentes rangiam enquanto cuspia as palavras.

–Uma bruxa! A princesa é uma bruxa! - soltou um soldado que chegava, mas não se arriscava a se aproximar muito.

O primeiro soldado levantou sua espada até o alto da cabeça, aguardando o momento propício para atingir Virgínia enquanto ela estava no chão.

–Não! - gritou Lyrian da porta do quarto e correu na direção da irmã, mas a espada do soldado já descia em direção ao tórax da princesa mais velha. 

Para a surpresa de muitos que já se apinhavam nas portas dos dormitórios, curiosos com o barulho matinal e chocados com a possibilidade de uma princesa estar envolvida com o ocultismo, uma grande sombra se abateu sobre o soldado que brandia a espada e arrancou-a de suas mãos. Lucian estava furioso com o soldado, que observou petrificado enquanto o comandante retirava sua própria capa e envolvia o corpo trêmulo da princesa, levando-a nos braços para seus aposentos.

–Tranque a porta - Lucian ordenou a Lyrian e Claire que o acompanhavam de perto.

–Milorde, o senhor não pode ficar aqui com ela... - Claire começou a argumentar, quando foi interrompida pela voz trêmula e suplicante de Virgínia.

–Por favor, deixe-nos...

Lyrian ainda pegou as mãos frias da irmã entre as suas, confortando-a, mas deixou Lucian, que sentado na beira da cama, ainda apoiava o torso da mesma em seu corpo, e saiu ao corredor, onde os guardas estavam a postos.

Somente após cerca de meia hora foi que Lucian destrancou a porta e saiu, e Lyrian e Claire puderam ajudar Virgínia tirar as roupas emprestadas e colocar suas próprias roupas para partirem. Mas mesmo assim, Virgínia continuava com os olhos inchados de choro, e quase nada havia falado.

Haviam se passado, desde então, dois dias do incidente, e Virgínia já estava bem melhor.

–Eu entendo que talvez você não queira contar o que viu, pois tenha ficado com medo, Viggie - Lyrian disse, acariciando os cabelos da irmã - mas você sabe que as pessoas podem começar a comentar sobre isso, e precisamos estar preparadas para qualquer imprevisto.

O filho favorito do Rei - O casamentoWhere stories live. Discover now