Cap. 7 - A Cobra, A Raposa E O Lobo

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Lyrian terminou seu banho e agradeceu a Deus por terem lhe permitido se banhar numa banheira.

Desde que chegara, apenas toalhas úmidas haviam lhe servido de banho, e ainda havia crostas de sangue seco espalhadas por dobras da sua pele que ela não queria mencionar.

Sair da banheira só com a ajuda de Minerva e mais duas criadas foi um desafio. Ela não podia ainda firmar a perna esquerda, e ainda se sentia bastante fraca. Mas não deixou que percebessem isso. Ela deveria melhorar rápido.

Ela foi vestida (coisa que odiava não poder fazer sozinha) e penteada sob protestos. Ela se sentia uma inválida toda vez que não permitiam que ela mesma se virasse com suas roupas ou seus cabelos.

Não que ela fosse uma exímia tocadoura, preferia brandir uma espada que passar um quarto de hora arrumando os cachos do próprio cabelo, mas ainda assim preferia se pentear sozinha.

—Podem ir, Minerva vai me ajudar — por fim Lyrian desconfiou, que se não expulsasse as criadas, elas não sairiam dali tão facilmente.

—Você precisa ter mais paciência, milady. Sabe que após seu casamento irei embora com Virgínia, você precisará lidar com as criadas sozinha — Minerva lhe entregou a escova de cabelo.

—Eu sei — suspirou — mas não consigo pensar na minha vida sem vocês. Vocês poderiam ficar comigo para sempre.

—Você sabe que não é possível — Virgínia falou, num lapso de sobriedade — eu nunca casarei ou sairei de perto de nossos pais. E Minerva é a única que tem paciência e carinho durante meus ataques de nervos  — olhou com carinho para a criada de meia idade.

—Vocês duas são as filhas que não tive — puxou as duas para seu abraço acolhedor — mas não posso ficar com você após seu casamento, não seria correto...

—Espero que não mesmo — uma voz irrompeu na porta, que havia sido deixada aberta pelas criadas quando saíram. Era a rainha. E logo atrás dela, Lyrian reconheceu seu noivo.

—Os primeiros anos do casamento são os que os noivos mais aproveitam para estarem juntos, certamente você não teria tempo para criadas ou para cuidar de sua irmã tão... peculiar — completou com desdém.

Minerva de afastou de Lyrian e pegando Virgínia pela mão, a conduziu para sentar-se na poltrona ao lado da cama, depois pediu licença e foi buscar chá para Lyrian e a rainha.

—Espero que o quarto esteja a seu gosto, e que esteja confortável — Thomaz falou, como se tivesse ensaiado a frase no caminho para lá. Não havia nem um traço de verdadeira preocupação em sua voz.

—Está sim. Sou Lyrian. E você? — Lyrian estendeu a mão e fingiu não saber quem era Thomaz, lembrando a ele que não havia se apresentado.

—Que falta imperdoável a minha! — a rainha encenou — este é seu noivo, e futuro marido em breve. Thomaz.

Os dois se cumprimentaram automaticamente. Nem um traço de empatia. Nem um sorriso sincero. Nada.

Como podia o herói que a havia salvo e passado várias noites velando seu sono agora fingir desconhecimento?

—Como está sua perna? Soube que foi um machucado bem feio. Por isso prefiro deixar as lutas e contendas para os soldados — o príncipe riu, como se sua piada tivesse realmente graça. Apenas a rainha sorriu e acariciou seu rosto.

—Estou bem melhor, obrigada — Lyrian tentou parecer mais doce do que geralmente era — a propósito, obrigada também pelas flores, gostei muito — Lyrian olhou para o ramo agora já meio seco sobre a mesa de cabeceira.

O filho favorito do Rei - O casamentoWhere stories live. Discover now